SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A primeira-ministra britânica, Theresa May, afirmou nesta segunda-feira (12) que é “altamente provável” que a Rússia seja o ator por trás do envenenamento do ex-espião russo Serguei Skripal e de sua filha, Iulia, em Salisbury, na Inglaterra. Em discurso no Parlamento, May afirmou que ou o Estado russo foi diretamente responsável pela intoxicação, ou permitiu que o agente neurotóxico que contaminou os dois chegasse às mãos de terceiros. Segundo a primeira-ministra, o agente identificado é de tipo militar e foi desenvolvido e fabricado na Rússia. Além disso, faz parte do grupo de agentes neurotóxicos Novichok, uma família desenvolvida pela União Soviética nos anos 1970 e 1980 que é supostamente a mais letal jamais fabricada. O embaixador russo em Londres foi convocado a dar explicações sobre o motivo de o agente neurotóxico ter ido parar em Salisbury. “Se não houver resposta crível, vamos concluir que essa ação equivale a um uso ilegal da força pelo Estado russo contra o Reino Unido”, afirmou May. Skripal, 66, e sua filha Iulia, 33, foram achados desacordados em um banco de um parque no dia 4. Os dois permanecem internados em estado grave. Cerca de 180 militares integram a equipe que investiga o caso. CIRCO O governo russo continua negando ter qualquer envolvimento com o ataque a Skripal. O Ministério das Relações Exteriores chamou o discurso de May de “um show de circo no Parlamento britânico”. Antes da fala dela, o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, afirmou que “isso não é problema da Rússia”, ressaltando que Skripal é um russo que trabalhou para o serviço secreto britânico e foi alvo no Reino Unido. Um influente âncora da TV russa sugeriu nesta segunda que foi o próprio Reino Unido quem planejou o envenenamento. Em uma transmissão assistida por milhões, Dmitri Kiselyov afirmou que Skripal pode ter sido sacrificado para que a comoção em torno do episódio estimulasse um boicote à Copa da Rússia, segundo o jornal The Guardian. A desconfiança sobre o papel do Kremlin vem do fato de que alguns críticos do governo Putin já foram assassinados em circunstâncias misteriosas. No mundo da espionagem, o caso que mais chama a atenção pela similaridade com o atual é o do envenenamento pelo isótopo radioativo polônio-210 de Alexander Litvinenko, morto em 2006, no Reino Unido. Há, contudo, algumas diferenças. Litvinenko era um desertor e trabalhava ativamente contra o Kremlin, que também nega participação na morte dele. Já Skripal havia sido condenado em solo russo e fora perdoado pelo governo numa troca de agentes com os britânicos.