O romano Caio Mecenas, do século I A.C., foi o primeiro patrocinador “civil” de artistas e poetas; até então as artes eram financiadas com razões utilitárias ou de demonstração de poder. Daí criou-se o termo “mecenato” que define o próprio ato de favorecer os artistas e a produção artística. Ao longo da história têm sido muitos os mecenas, parte da melhor arte que se fez foi financiada por religiões: as grandes catedrais e mesquitas, a “Pietá” de Michelangelo, o teto da Capela Sistina, as obras de Aleijadinho, as peças sacras de Bach, e uma infinidade de outras realizações que dignificam a humanidade. Também a secularidade teve, e tem, papel nisso; movidos por admiração pela beleza, ou simples vaidade, desde o Renascimento os ricos e nobres “protegem” artistas, como fizeram os Médici em Florença, estabelecendo o padrão.
Nos Estados Unidos há uma tradição de mecenato que deu ao país alguns dos melhores museus e coleções de arte do mundo, muitas grandes doações de obras foram feitas por verdadeiro espírito público, outras pelo mero, e humano, desejo de ser reconhecido como “culto” e “protetor das artes” e, portanto, merecedor de ingressar na elite social. O maravilhoso Museu de Arte de São Paulo, o MASP, teve o núcleo de seu acervo constituído por doações de milionários paulistas, muitos deles “estimulados” por Assis Chateaubriand, armado de seus jornais e revistas que poderiam construir ou destruir reputações. De todo modo, estes museus e estas coleções existem, foram preservados e agora enriquecem a civilização.

Atualmente o mecenato assume a forma do patrocínio cultural, mudando bastante a forma como apoiamos as manifestações artísticas e/ou culturais. Consumir arte, num mundo em que o consumidor é atropelado pela publicidade a qualquer momento, em que já nem sequer estamos imunes ao impacto constante de mensagens, faz o mecenato adquirir outra conotação, pois o marketing cultural modifica a própria noção que temos de cultura.
A definição de cultura como tudo aquilo capaz de singularizar pessoas e grupos, é comumente utilizada para explicar praticamente todas as criações de certa comunidade, seus valores, formas de comportamento e o que denominamos propriamente arte.

Na Constituição brasileira, “Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem: as formas de expressão; os modos de criar, fazer e viver; as criações científicas, artísticas e tecnológicas; as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico-culturais; assim como os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico”.
Muito em função disso o mecenato tem entrado no cenário mercadológico como ferramenta de divulgação do mecenas em eventos, nos momentos de lazer e descontração da população, visando menos a cultura como um bem intangível e mais como melhoria da imagem da marca e crescimento do volume de vendas. Afinal, arte e cultura compreendem categorias tão distintas que podemos dizer até que cultura é um modo de viver, e nossos “projetos culturais”, normalmente englobam desde folclore, resgates do patrimônio histórico ou tradição oral de uma comunidade.

A publicidade pode ser um elemento muito positivo de divulgação, e se for associada às boas práticas sociais, culturais e, até comerciais, atinge o melhor de seus objetivos. A área educacional, em particular, tem sido beneficiada, aumentando a quantidade de oferta de complementos para a adequada formação de estudante graças à valiosa contribuição de empresas e organizações dispostas a financiar cultura.

Wanda Camargo – educadora e assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil – UniBrasil.