Franklin de Freitas – O modelo Eduardo Tirapelle

Faz parte do passado a ideia de que de que a profissão de modelo é restrita a jovens, magros, altos. O envelhecimento da população fez com que os anunciantes e o mercado da moda e beleza voltassem os olhos para um novo segmento de modelos: os seniores, com seus cabelos brancos e corpos reais.

“Marcas de moda e beleza estão levando pessoas velhas para a passarela e para a propaganda. Isso porque estão percebendo que a população mundial está envelhecendo e que os mais velhos são uma população com poder aquisitivo que está se digitalizando e com isso se tornando um público consumidor cada vez mais ativo”, explicou a jornalista e professora de Comunicação para a Negócios de Moda da Escola de Moda do Centro Europeu, Dani Brito. Ela lembrou que os canais e perfis nas redes sociais que retratam pessoas da terceira idade se multiplicaram: “No Brasil temos @velhosparentes e lá fora @granparentes pra citar duas contas de Instagram. Gosto também do @advancedsyle porque quero me tornar uma velhinha igual aquelas que eles fotografam. Iris Apfel é ícone de estilo, assim como Costanza Pascolato”. As grandes marcas, segundo Dani, começam a dar o exemplo. “Recentemente a New Balance soltou um anúncio com idosos nova iorquinos usando as próprias roupas do dia a dia. E a Prada convocou o ator Jeff Goldblum, de 69 anos, para encerrar o desfile masculino de inverno 2022”, contou ela.

O morador de Curitiba Eduardo Tirapelle, 60 anos, por exemplo, além de engenheiro mecânico, coach, agora também é modelo. Casado, formado em engenharia mecânica, área em que atua há 37 anos, Eduardo é casado, mora com a esposa e o filho, de 24 anos, e tem uma neta de oito anos, filha do seu enteado. Mas se engana quem pensa que ele já está de olho na aposentadoria ou em trilhar apenas um caminho. O engenheiro sempre se dedicou a mais de uma atividade. É pós-graduado em marketing, tem uma consultoria desde 2003 e hoje se divide entre as atividades de engenharia, modelo e coach. “Como modelo, com mais frequência, eu atuo desde 2019. Fui modelo durante a faculdade de engenharia, fazia mais passarela e fui o primeiro modelo vivo em 1982 e agora voltei”, contou ele , que já emprestou a beleza para publicidades de grandes varejistas e óticas, por exemplo.

“Eu me divirto muito, conheço pessoas”, diz Dalmira, curitibana que virou modelo aos 57 anos

Divorciada há 10 anos, a professora Dalmira Inês Bernardi, exerce a profissão há 40 anos e está perto da aposentadoria integral, que deve ocorrer no final deste ano. Dalmira tem duas filhas e dois netos e mora com uma irmã. Além de professora, ela também é costureira nas horas vagas e se descobriu modelo ao ser abordada e convidada para fazer fotos na agência Just Models Brasil. “Eu me divirto muito, conheço pessoas e gosto da atividade. Além disso quero colocar o pé na estrada e viajar muito, quem sabe até morar fora por um tempo também”.

Sobre a vida social, Dalmira se considera uma tímida assumida. “Não saio muito, meus amigos são os do trabalho. Não tive nenhum relacionamento desde que me divorciei, há 10 anos, mas estou aberta a um relacionamento sim. Independente disso, gosto de me arrumar para mim mesma e me sentir bem”, finalizou.

Os cabelos brancos naturais de certa forma a ajudaram a entrar na vida de modelo. “Quem me vê pensa que é algum tipo de pintura, mas é natural. Acho que fica muito bonito e sensual assumir os brancos, tenho visto tanto homens, como mulheres. Mas não adianta só parar de pintar, tem que estar sempre com o corte e a hidratação em dia”. Dalmira também contou que não se imagina sem várias atividades. Ela acredita que as pessoas começam a enxergar a mudança do perfil da terceira idade. “A sociedade está vendo que a questão da velhice mudou, não é mais o avô e a avó que ficam em casa fazendo tricô. Eu não quero que me vejam assim, quero ver as publicidades com pessoas ativas, como nós somos, fazendo uma atividade física, andando passeando, como pessoas mais vivas e espertas, porque temos muita energia, mesmo os que estão com 70, 80 anos”, defendeu a educadora.

Quando questionado sobre a forma de se relacionar com os mais jovens, o modelo Eduardo Tirapelle, 60 anos, garante que não sente a menor dificuldade. “Circulo muito bem entre os jovens, só me incomoda um pouco quando me chamam de senhor, mas entendo que é uma forma respeitosa. Acho que a sociedade está muito mais aberta e que o tratamento que se recebe depende muito da forma que tratamos os outros. Como trato as pessoas de igual para igual, independente da idade, também sou tratado assim. O máximo que faço é estacionar na vaga de idoso quando não encontro outra vaga disponível. Não pego fila preferencial em caixa, não uso da minha prerrogativa para nada”, garantiu.

Mas qual é o caminho para uma pessoa acima dos 60 anos entrar em uma agênci ?

Mas qual é o caminho para uma pessoa com mais de 60 anos se tornar modelo? O mesmo que que alguém de 15, 20 ou 30 anos. Há muitas agências que abordam as pessoas pelas redes sociais, com Instagram e Facebook, enaltecendo a beleza dos internautas, mas é preciso cuidado, muitas vezes a abordagem acaba apenas em custos para cursos e fotos. “O glamour da possibilidade de ser modelo muitas vezes cega os candidatos de qualquer idade”. Para Chrys Kishida, fotógrafo, stylist e publicitário, o melhor caminho para se tornar um modelo sênior é visitar pessoalmente quatro ou cinco agências de Curitiba. “O preço de cursos, fotos, as comissões em caso de contratação, os benefícios, como tratamento de beleza, variam muito de uma agência para outras e há sim algumas que sobrevivem de cursos apenas. Então ir até os locais ver como te tratam comparar as propostas ajuda muito a escolher. O olho no olho é o melhor caminho”, explicou ele. Verificar nas redes sociais ou pedir nas agências para ver os trabalhos dos modelos agenciados também é essencial para descobrir a representatividade da empresa no mercado de moda. “Se conhecer alguém do meio, melhor ainda, porque pode indicar os melhores caminhos”.

Segundo Kishida, o mercado da moda, assim como qualquer área, é muito competitivo e exige empenho: “De cada 100 aspirantes a modelo que fazem cursos e fotos, cinco vão conseguir viver disso. Mas é um ambiente muito bom para o idoso, para convivência, as amizades, a interação com diversas idades. Em qualquer idade, a profissão de modelo abre muito a socialização, mas para os senhores e senhoras isso é mais importante ainda”.

Quanto os tipos físicos da terceira idade mais requisitados pelo mercado em Curitiba e no Brasil, Kishida lembrou que as avós e avôs tradicionais, com cabelo bem branco, olhos brilhantes, plus size abriram o mercado para a terceira idade, mas hoje há espaço para todos os tipos: tatuados, descolados. “Os padrões existem, mas estão sendo quebrados pouco a pouco. O mundo publicitários vive a tendência de repetir o mundo real, que permite cada vez mais todos os estilos. A terceira idade é um destes nichos que está crescendo e para diversos tipos de modelos”, disse ele.

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