RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Suspeitos de serem integrantes da milícia que comanda comunidades da zona oeste da cidade do Rio de Janeiro pagavam a policiais e funcionários públicos para obter informações sobre operações e obter alvarás, segundo o Ministério Público.


A denúncia traz ao menos quatro conversas dos suspeitos, gravadas em escutas telefônicas, que indicam relação com servidores públicos, embora os nomes dos agentes não sejam ditos. Entre os órgãos citados estão a prefeitura do Rio, o Inea (Instituto Estadual do Ambiente) e a Polícia Militar, incluindo o Cepam (Comando de Polícia Ambiental da PM).


Em uma operação na terça-feira (22), a Promotoria prendeu cinco acusados de chefiar ou fazer parte dessa organização criminosa, que atua na região das comunidades Rio das Pedras e Muzema e pode estar ligada à morte da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes. Oito continuam foragidos.


“O cara chamou aqui e falou que o Beto Bomba falou aqui que amanhã vai ter operação. Pediu pra tirar a escada aqui, pediu pra ninguém trabalhar aqui na obra”, diz um dos acusados em uma das conversas.


Ele se refere a Jorge Alberto Moreth, presidente da associação de moradores de Rio das Pedras, que, segundo a Promotoria, tem informações privilegiadas de operações policiais realizadas na região.


Foragido, ele é apontado como integrante do grupo ao menos desde 2008 pela CPI das Milícias.


A intenção dos alertas é evitar complicações nos negócios imobiliários ilegais exercidos pelo bando, que costuma invadir terrenos, construir casas (principalmente à noite) e vendê-las ou alugá-las.


Às vezes eles abrigam moradores antes da conclusão das obras, para dificultar intervenções do poder público, segundo a promotora Simone Sibilio, coordenadora do Gaeco, grupo do Ministério Público de combate ao crime organizado responsável pela operação.


Dos 13 acusados na denúncia, porém, só dois são imputados no crime de corrupção ativa: Manoel de Brito Batista, o “Cabelo”, preso e apontado como espécie de gerente armado do bando, e o foragido Fábio Campelo Lima, que seria um dos contadores, responsável pela abertura de firmas em nome de “laranjas”.


Escutas mostram que ambos combinaram o pagamento de R$ 3.000 a um funcionário da prefeitura em outubro de 2018, em troca de regularização e liberação para o funcionamento de uma empresa de material de construção vinculada à organização.


“Só é pra parar [a obra] quando eu falar. Sou eu que dou o negócio pro homem e vocês sabem mais do que eu, que levo o negócio pro homem? Eu sei quando vem, pô”, diz Batista em outra conversa gravada, também em outubro.


Outras gravações também mostram ameaças dos milicianos contra moradores de Rio das Pedras que não respeitam ordens do grupo ou não pagam o aluguel de imóveis e taxas cobradas ilegalmente.


Além da exploração ilegal de imóveis, do pagamento de propina a agentes públicos e da extorsão de moradores, os suspeitos são acusados de atividades como receptação de carga roubada, posse e porte ilegal de arma, agiotagem, ligações clandestinas de água e energia e uso da força para intimidação.