BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Em meio a um cenário de tensão, o ministro da Secretaria de Governo, Carlos Santos Cruz, fez um aceno à comunidade indígena e disse que a gestão federal está disposta a estabelecer um canal de diálogo.


Na noite desta terça-feira (23), começam a chegar em Brasília líderes indígenas que participarão do Acampamento Terra Livre, o maior encontro dos grupos étnicos no país. A previsão é que o evento reúna cerca de 4 mil pessoas.


Na semana passada, o presidente Jair Bolsonaro criticou o encontro, promovido desde 2004, e autorizou que a Força Nacional realize a segurança da Esplanada dos Ministérios em período coincidente ao acampamento indígena, o que gerou clima de animosidade.


O ministro disse à Folha de S.Paulo que se tudo for feito com “ordem” e “educação” não haverá “problema nenhum”, que o importante é haver “respeito mútuo” e que o interesse do governo é cumprir a sua função de “identificar, equacionar e resolver problemas”.


“O governo está empenhado em possibilitar o acesso direto dos indígenas aos diferentes órgãos federais, sem intermediários, a fim de ouvir problemas e sugestões. E esclarecer e fazer todo o esforço para solucionar as questões e melhorar as condições de vida dos brasileiros indígenas”, afirmou.


Ele ressaltou que normalmente atende todos aqueles que solicitam um encontro para discutir pautas específicas e observou que o ideal, caso seja pedida uma reunião, é que ela seja coordenada pela Funai (Fundação Nacional do Índio).


“O importante é fazer as coisas com ordem, educação e respeito mútuo. O interesse do governo é a sua própria função de identificar, equacionar e resolver problemas. Isso é que é compensador para todos. Essa é a motivação de todos os setores do governo”, disse.


Os participantes permanecerão na capital federal até sexta-feira (26). A ideia é que o acampamento seja instalado na Esplanada dos Ministérios. Para a coordenadora-executiva da APIB (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil), Sonia Guajajara, não há motivo “para se esconder”.


“É a primeira vez que ocorre comportamento antecipado de tentar impedir a chegada das delegações. É uma forma clara de impedir uma manifestação”, criticou.


Como todos os anos, o propósito do encontro é fortalecer a identidade indígena e unificar o discurso. Com as mudanças implementadas pela gestão atual, no entanto, a lista de reivindicações aumentou.


Neste ano, o movimento irá protestar contra a transferência da Funai da pasta da Justiça para a de Direitos Humanos e a mudança da atribuição de demarcação de terras indígenas para a Agricultura.


A mobilização também é contrária a parte do atendimento à saúde indígena ser repassada a estados e municípios e ao discurso do presidente de integrar comunidades indígenas à sociedade.