Divulgação/ Funai

Nas últimas semanas, a nomeação de um ex-missionário evangélico para assumir a coordenação da área de indígenas isolados da Funai reacendeu uma velha polêmica envolvendo missões religiosas que procuram converter os indígenas ao cristianismo.

Um levantamento feito pelo jornal O Globo e divulgado nesta segunda-feira (24 de fevereiro) mostra que 13 dos 28 povos no Brasil reconhecidos em situação de total isolamento já estão tendo de lidar com a investida de evangelizadores. O número considera as denúncias de entrada de missionários evangélicos em Terras Indígenas feitas ao Ministério Público Federal, à Funai e ao Observatório dos Direitos Humanos dos Povos Indígenas Isolados e de Recente Contato (OPI).

A maior parte das ocorrências está no Vale do Javari, no Amazonas, com o registro de ameaça a 10 povos. Além disso, há ocorrências nas terras indígenas Mamoadate, na Cabeceira do Rio do Acre, e Hi-Merimã, no Rio Purus (AM).

Pela legislação brasileira, iniciativas de contatos com grupos isolados devem partir deles próprios, em respeito à autodeterminação dos índios. Invasão de terra indígena configura crime federal e são investigados pela Polícia Federal.

“Ou vai ajoelhar voluntariamente, adorando, ou vai ajoelhar obrigatoriamente, temendo”

Em reportagem publicada no último dia 13, o jornal The Intercept divulgou áudios que mostram que o pastor Ricardo Lopes Dias, novo coordenador-geral de Índios Isolados e de Recente Contato (CGIIRC) da Funai, tem como um de seus objetivos converter indígenas ao cristianismo.

Sua nomeação aconteceu após forte lobby de evangélicos, como o antropólogo Edward Mantoanelli Luz. Nas gravações divulgadas pelo The Intercept, Mantoanelli Luz aparece dizendo que a política que impede a ação de missionários em terras indígenas isoladas irá “formalmente mudar”. Edward é filho do pastor Edwarg Gomes da Luz, presidente da Missão Novas Tribos do Brasil (MNTB), uma corrente-evangélica norte-americana que agencia missionários para pregar, construir igrejas e convertas povos indígenas de recente contato, falantes de línguas nativos.

Em 2011, inclusive, Gomes da Luz chegou a falar, comentando sobre o trabalho de catequização do povo Zo’é, que “a pessoa ou vai se ajoelhar voluntariamente, adorando (ao deus cristão), ou vai ajoelhar obrigatoriamente, temendo (ao deus cristão)”.