SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Primeiro curador africano da história da mostra de arte contemporânea Documenta e da Bienal de Veneza, o nigeriano Okwui Enwezor morreu nesta sexta (15), aos 55 anos. Ele lutava contra um câncer havia três anos.


Em junho do ano passado, o crítico de arte havia deixado o posto de diretor da Haus der Kunst, em Munique, por razões de saúde.


Paolo Baratta, presidente da Bienal de Veneza, divulgou uma nota de pesar, destacando sua “honestidade intelectual” e “talento sofisticado na análise e na seleção”. “Sua abertura a artistas do mundo todo, seu grande senso de responsabilidade como curador e sua coragem em promover e defender a arte sempre foram elementos que influenciaram seu trabalho”, diz o texto.


O crítico nigeriano comandou a edição de 2015 da megaexposição de arte, um dos pontos altos de sua carreira. A mostra entrou para a história como a que mais escalou artistas negros em toda a história do evento italiano, que começou no século 19.


“Perdemos um intelectual brilhante, um homem do mundo cujo conhecimento enciclopédico abarcava mais do que a arte e um defensor sensível da arte”, disse, em comunicado, o responsável pela gestão da cultura da Baviera, onde fica a cidade de Munique. “Sou grato a ele por ampliar nossa perspectiva.”


Enwezor nasceu em Kalaba, na Nigéria, em 1963, e cursou ciência política nos Estados Unidos. Nos anos 1990 ajudou a fundar uma revista especializada em arte africana e foi curador da Bienal de Johannesburgo -em seguida, trabalhou nas bienais de Sevilha e de Gwangju, na Coreia do Sul. 


Diretor do MoMA, em Nova York, Glenn Lowry o descreveu como um “homem extraordinariamente inteligente que abriu os olhos de muitas pessoas” em um texto publicado no New York Times, em 2002.


Naquele ano, Enwezor havia sido convidado para dirigir a Documenta, exposição de arte que acontece em Kassel, na Alemanha, considerada a maior e mais influente do mundo. Primeiro não europeu a ocupar o cargo, acabou fazendo com que aquela fosse considerada a primeira edição “verdadeiramente global e pós-colonial” do evento de arte.


Entre os anos de 2011 e 2018, ele liderou o centro cultural Haus der Kunst, em Munique. Sua gestão chegou ao fim em meio a uma crise orçamentária que foi atribuída, à época, a suas exposições ambiciosas. A última mostra que organizou no local abriu no último dia 8 e era uma retrospectiva do trabalho do artista ganense El Anatsui.