RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – O primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, disse neste domingo (30) ter ouvido do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) que a mudança da embaixada brasileira naquele país para Jerusalém é questão de tempo.
A medida havia sido anunciada por Bolsonaro durante a campanha.
“Bolsonaro me disse que a mudança da embaixada não é questão de ‘se’ e sim questão de ‘quando'”, afirmou, em encontro com a comunidade judaica no Rio de Janeiro.
Ele se reuniu com o presidente eleito na sexta (28) para iniciar conversas sobre parcerias comerciais.
A mudança do local da embaixada é polêmica por desagradar países muçulmanos, que também consideram Jerusalém uma cidade sagrada.
O premiê de Israel também esteve neste domingo no Rio com lideranças da comunidade cristã brasileira, que defenderam a proposta de transferência da embaixada.
Um dos presentes ao encontro, o pastor Silas Malafaia, disse que Bolsonaro perderá crédito entre seus apoiadores evangélicos se voltar atrás na decisão sobre a embaixada.
“Ninguém colocou uma faca no pescoço dele para prometer isso”, afirmou, frisando que a promessa ajudou a garantir apoio dos evangélicos à sua candidatura.
Ao prometer a medida, Bolsonaro seguiu o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, o primeiro a anunciar a mudança de local da e,baixada de seu país, há um ano.
Como integrante do Brics (bloco econômico que reúne Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), o Brasil assinou neste ano um documento defendendo que as discussões sobre a capital de Israel fossem parte de negociações sobre acordo de paz entre Israel e Palestina.
O país tem se posicionado em questões multilaterais mais alinhado a países árabes do que a Israel. Bolsonaro, porém, vem mostrando desejo de aproximação com Israel desde a campanha.
Netanyahu é o primeiro premiê israelense a visitar o Brasil desde a fundação do Estado de Israel, em 1948.
Participaram também da reunião do premiê com lideranças cristãs o governador eleito do Rio, Wilson Witzel (PSC), o prefeito da capital, Marcelo Crivella (PRB), e o cardeal arcebispo do Rio, dom Orani Tempesta.
“Israel e Jerusalém são um só”, afirmou o premiê israelense. “Vocês não precisam ser lembrados disso porque vocês conhecem a nossa história”, afirmou em seu discurso aos líderes cristãos, no qual disse que as culturas judaica e cristã são interligadas e que os cristãos são os “melhores amigos” dos judeus.
“Não temos palavras para expressar o que sentimos por Israel. Nós oramos por vocês todos os dias”, disse Crivella, que é pastor licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus. “Eu sei que o senhor ama Israel, que é filho de Israel. Mas eu asseguro que o senhor não ama Israel mais do que nós”, completou, dirigindo-se ao premiê.
Netanyahu tentou afastar temores sobre possíveis ameaças de terrorismo devido à transferência da embaixada, dizendo que não houve atentados relacionados à decisão desde que os Estados Unidos propuseram a medida – a nova embaixada do país foi inaugurada em maio.
Além de EUA e Brasil, a Guatemala também anunciou mudança de sua embaixada para Jerusalém. Neste mês, a Austrália reconheceu a cidade como capital, mas ainda não pretende transferir a embaixada.
Em encontro com jornalistas no hotel em que está hospedado, Netanyahu disse estar emocionado e empolgado com as possibilidades de parceria entre os dois países.
Autoridades israelenses dizem que a transferência da embaixada do Brasil para Jerusalém não é uma condição para a negociação de parcerias comerciais. A aproximação, dizem, tem como objetivo principal abrir mercado para empresas israelenses.
Netanyahu disse que o Brasil é hoje o principal interesse da política comercial israelense. “É um dos dois grandes países do mundo com os quais não temos acordos comerciais”, afirmou ele. O outro é a Indonésia.
O premiê fez uma apresentação mostrando setores, como tecnologia da informação, agricultura e segurança, nos quais Israel tem produtos e serviços a oferecer.
A expectativa é que os primeiros acordos sejam firmados durante visita de Bolsonaro a Israel em março.
No final da tarde de domingo, Netanyahu teve frustrada a visita que faria ao Cristo Redentor. O premiê não desembarcou do carro em razão da lotação no local. Com a chegada da comitiva, vans pararam de subir para buscar os passageiros, formando filas.
Sua mulher, Sara, fez uma visita de 15 minutos ao Cristo com o filho. Ao descer, foi alvo dos apupos dos turistas e gritos de “ih, fora!” até os carros da comitiva deixarem o local.
Pela manhã, Netanyahu foi ao Pão de Açúcar, também acompanhado de Sara, do governador eleito Witzel, da futura primeira-dama Helena Witzel e de membros do futuro governo fluminense.