Ricardo Perini – A diretora do MAC Paraná

Neste mês de março, o Museu de Arte Contemporânea do Paraná, um dos espaços culturais do Governo do Estado, completa 51 anos de existência. O museu chega a mais de meio século de história como centro de formação para artistas e críticos, como aliado no ensino das artes para professores e alunos e como espaço diverso, inclusivo e plural de acesso para o grande público. Para os próximos meses, nas comemorações desse aniversário, o MAC Paraná programou diversos projetos e atividades.

A programação fortalece os objetivos da atual gestão do museu, dirigido pela curadora e produtora Ana Rocha, de torná-lo cada vez mais inclusivo e diverso. “A ideia de um museu vivo, em constante processo de transformação, é, para mim, o que define um museu de arte contemporânea”, explica. “Ele nunca terá um escopo completamente definido e deve estar atento e em diálogo com as questões urgentes da sociedade.”

A presente edição do tradicional Salão Paranaense é um marco importante na tarefa de tornar o museu mais plural – e um dos pontos centrais da sua gestão. Quais são as motivações por trás dessa ação?
Ana Rocha – O formato do 67º Salão Paranaense começou a ser pensado no final de 2019. Por conta da pandemia, tivemos que repensar tudo desde o zero: como realizar uma exposição e um processo seletivo que depende de muitas discussões de forma totalmente remota? E foi daí que foi sendo desenhada a proposta de dividir as inscrições em categorias de apresentações possíveis durante a pandemia, sem esquecer das obras que precisam do espaço físico para acontecerem. A necessidade de tratar da questão da diversidade do acervo e nas ações programáticas do MAC ficou evidente quando, em 2019, iniciamos um processo de revisão da história do museu, levantando dados sobre o acervo, as exposições e as políticas de aquisição, exposição e gestão de acervo. Nesse processo, constatamos que a coleção do MAC é formada majoritariamente por obras de artistas homens e brancos. O que não é exclusividade do MAC Paraná, mas um problema sistêmico das coleções de museus pelo mundo. E como um museu que tem como uma de suas missões preservar a memória da arte brasileira, a partir dos dados levantados entendemos que é preciso ampliar as vozes dessa história que vem sendo contada pelo museu.

Quais são outros conceitos importantes que você busca trazer para o Museu de Arte Contemporânea e que considera fundamentais?
Ana Rocha – A ideia de um museu vivo, em constante processo de transformação, é, pra mim, o que define um museu de arte contemporânea. Ele nunca terá um escopo completamente definido e deve estar atento e em diálogo com as questões urgentes da sociedade. O Museu de Arte Contemporânea é um museu que, mesmo com um acervo histórico, está de olho no futuro.

Antes de assumir a direção do museu, você atuava como produtora e curadora de exposições. O que a atrai nessas duas formas de atuação nas artes?
Ana Rocha – Tanto a produção quanto a curadoria nos permitem estar em contato com os processos artísticos. Podemos dialogar com artistas e pensar juntos as relações possíveis na recepção do trabalho de arte. Já na produção, é possível participar de soluções técnicas e acompanhar passo a passo a execução de propostas artísticas. E estar perto do processo dos e das artistas é o que me atrai.

Apesar desse trabalho de uma década, dirigir uma instituição tem outra dinâmica, como você mesma já afirmou. Como está sendo a experiência de pensar os rumos de um museu?
Ana Rocha – Ser diretora do MAC, neste momento, quando o museu completa 51 anos, durante a pandemia do coronavírus, em meio às questões urgentes desse início de década, é estar em constante processo de revisão. A dinâmica é muito diferente da gestão de projetos, que tem por definição começo, meio e fim. Os processos dentro do museu são constantes e de longa duração. As exposições continuam sendo pensadas como projetos individuais, mas fazem parte de um grande projeto de curadoria e gestão de quatro anos.

Qual é a mensagem que você gostaria de deixar para o MAC Paraná?
Ana Rocha – Meu desejo é que o MAC siga como um museu dos e das artistas, uma casa para dar o primeiro impulso aos jovens e preservar as histórias dos e das artistas que são parte da nossa história. Um espaço de experiências transformadoras desde a primeira visita com a escola até a visita de curiosos pela internet.