
Desde que o novo coronavírus passou a fazer parte do cotidiano do paranaense, em março do ano passado, a rotina das pessoas mudou profundamente. E um levantamento divulgado pelo ValeCard, empresa especializada em meios de pagamentos, traz informações sobre o impacto dessas mudanças no comportamento do consumidor. Basicamente, o que acontece é que os brasileiros estão indo menos vezes aos mercados, mas por outro lado estão gastando mais e, também, fazendo compras maiores.
O gasto médio por compra no vale-alimentação, por exemplo, subiu de R$ 76,22 na primeira quinzena de março para R$ 99,94 no mesmo período de 2021, segundo os dados da ValeCard. Um crescimento de 31,12%, que pode ser explicado em parte pelo aumento da inflação, mas que também reflete um novo hábito dos consumidores.
A Associação Paranaense de Supermercados (Apras), inclusive, estima que o cliente reduziu em torno de 20 a 30% as suas idas aos supermercados. “Por outro lado, o ticket médio aumentou na mesma medida, talvez até mais”, afirma Carlos Beal, presidente da Apras.
“Desde março do ano passado, abril, sentimos que mudou radicalmente o perfil do cliente. Isso começou em 2020, mas continua em 2021. O supermercado é um ambiente seguro, mas o cliente diminuiu em torno de 20 a 30% a sua ida nos supermercados, enquanto o ticket médio aumentou de 20 a 30%, até um pouco mais”, diz o presidente da Apras. “Isso aconteceu, acrediro, em função das escolas estarem fechados. Restaurantes, muitos deles, também ficaram fechados boa parte do tempo, e essa alimentação foi prejudicada.”
Dessa forma, não surpreende que a demanda tenha crescido mais justamente na parte de alimentos, na procura por itens como arroz, feijão e hortifrutigranjeiros, conforme diz Beal, num relato corroborado pelas informações divulgadas no boletim “Impactos da Covid-19 nas vendas e no ICMS”, da Secretaria da Fazenda do Paraná.
Em 2020, os produtos com maior aumento na demanda em todo o comércio varejista foram cereais, farinhas, sementes, café e chá, com alta de 29%. Em seguida aparecem frutas, verduras e raízes (+24%), produtos químicos (+23%), carnes, peixes e frutos do mar (+22%), fibras fios e tecidos (+21%) e laticínios, ovos e mel (+20%). Por outro lado, notebooks (-14%), itens de vestuário (-20%), caminhões e ônibus (-20%) e automóveis (-21%) registraram as maiores quedas.
Por fim, o presidente da Apras ainda comenta que a expectativa do setor é que esse novo comportamento, de menos idas ao supermercado e a realização de compras mais robustas, se estenda mesmo depois da emergência sanitária passar. “Alguns hábitos que surgiram em função da pandemia vão se estender. Algumas empresas vão mudar o local de trabalho, aderir ao home-office. E mesmo vindo a vacina, a imunização, mesmo com a ansiedade de que tudo volte ao normal, muitos hábitos adquiridos na pandemia devem permanecer.”
Vale-refeição também registra aumento no ticket médio
Além do vale-alimentação, o vale-refeição, cujas transações são realizadas em padarias, restaurantes e lanchonetes, também tiveram crescimento expressivo, de 57%, no cupom médio.
Entre a primeira quinzena de março de 2020 e o mesmo período de 2021, o gasto médio saltou de R$ 45,17 para R$ 77,28, o que também significa que as pessoas estão indo com menor frequência a esses estabelecimentos e fazendo compras maiores. No período, também se verificou um crescimento das compras em restaurantes e padarias.
Nesse sentido, um movimento curioso foi ainda registrado no ano passado, em Curitiba, quando a quantidade de lixo reciclável coletado pelas equipes de limpeza chegou a ter aumento de 20% num único mês.
Isso, curiosamente, aconteceu por conta da procura maior pelo delivery, o que acabou fazendo aumentar a quantidade de embalagens a ser descartada.
Setor espera mais um ano de crescimento em 2021
Em 2020, as vendas em hipermercados e supermercados tiveram crescimento de 11% na comparação com 2019, conforme dados da Secretaria da Fazenda do Paraná.
O setor foi um dos que mais cresceu no comércio varejista, atrás apenas do mercado de áudio, vídeo e eletrodomésticos (com crescimento de 24%) e do de materiais de construção e ferragens (+13%).
Para 2021, comenta Carlos Beal, presidente da Apras, o otimismo é grande em relação a um novo bom desempenho econômico do setor.
Segundo ele, a expectativa é de um novo aumento nas vendas, ainda que não no mesmo nível do ano passado. “Ano passado foi atípico, tivemos crescimento de mais de dois dígitos, bem acima da média. Mas este ano também vamos ter crescimento. Não tão forte como 2021, mas também terá crescimento.”