Não é o gelo que mata as plantas. O que mata as plantas é um conjunto, que soma baixa umidade e temperaturas negativas. Curitiba e região metropolitana tem um grau de impacto maior nas hortaliças afetando folhosas e frutas, que tem consumo e colheita mais rápida, em culturas como almeirão, brócolis, alface, etc. No Centro Sul do Paraná, por exemplo, Guarapuava, e no Sul, em General Carneiro, que são regiões mais elevadas, as geadas afetam mais as culturas anuais, principalmente as culturas de inverno, como aveia, trigo e milho safrinha.

O professor de Agrometeorologia Marco Aurélio de Melo Machado, do Departamento de Solos e Engenharia Agrícola da Universidade Federal do Paraná (UFPR), explica que os danos são percebidos quando as temperaturas ficam abaixo de zero. “Quando as temperaturas chegam positivas próximas de zero, de 0,5ºC, 1ºC, 2 ºC, levemente positiva, é baixa, mas o impacto é baixo. Os danos são sentidos quando ficam abaixo de zero. A partir de quinta-feira da semana passada, na região Centro Sul, os termômetros chegaram a menos 4 graus e houve um impacto nas culturas de inverno, como aveia, cevada, trigo e milho safrinha”, aponta.

Segundo o professor, o impacto da geada está relacionado ao vapor d’água na atmosfera. “Quanto maior o volume de vapor na atmosfera, em tese, menor é a possibilidade de impacto, sob essas temperaturas. Esse vapor d’água se transforma em gelo nas temperaturas negativas. Uma geada de uma noite para a manhã seguinte não causa danos se é só o gelo, que é benéfico para a agricultura. Quando se tem uma quantidade pequena de vapor na atmosfera, o potencial de dano é maior. Não vai haver formação de gelo e a planta vai perder água para a atmosfera de uma maneira muito rápida. Porque vai existir uma diferença de potencial hídrico entre a água da planta e água da atmosfera. A água da planta tende a migrar para a atmosfera”, explica.

Portanto, de acordo com o especialista, o principal problema é o baixo índice de vapor de água na atmosfera. Isso faz a planta perder água e é o que, de fato, mata a planta e, não, o gelo, que até faz bem por matar pragas e insetos. “Para o agricultor se preparar, o primeiro fato de atenção é a temperatura. Se tem uma previsão de menos três ou menos quatro graus, evidentemente que o Iapar e o Simepar lançam alerta da proteção da cultura na medida do possível. O conteúdo do vapor d’água é a segunda preocupação”, orienta.

De acordo com o professor, há um mito que afirma que “a planta congela por dentro”. Isso, em geral, segundo ele, não é verdade. “Isso de a ‘água da planta que vai congelar’ não existe. O potencial osmótico, de quantidade de sais, impede. Se você recolher um copo d’água com determinada quantidade de sal e por na geladeira ela não congela. O mesmo ocorre com a planta, porque a água está carregada de sais e isso faz com que a planta tenha uma certa resistência. Evidentemente que a planta entra em um estado de letargia, não vai crescer e desenvolver nas mesmas condições”, pontua.