SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O premiê Narendra Modi deve seguir com mais um mandato à frente da Índia, segundo resultados preliminares de apuração do pleito divulgados nesta quinta-feira (23). 


Dados oficiais parciais da Comissão Eleitoral do país mostram que a coalizão de Modi, liderada pelo partido BJP (Bharatiya Janata Party, ou partido do povo indiano) estava à frente em 345 dos 542 assentos em disputa, segundo dados divulgados por volta das 15h30 em Nova Déli (7h em Brasília). 


Em segundo lugar, com 86 assentos, está a principal aliança de oposição, liderada pelo partido Congresso Nacional Indiano.


Para governar, uma coalizão precisa obter ao menos 272 cadeiras na câmara baixa do Parlamento. Na última eleição, em 2014, a aliança de Modi conseguiu 336 assentos.


“Índia vitoriosa”, declarou Modi na rede social Twitter. “Juntos nós crescemos. Juntos nós prosperamos. Juntos, vamos construir uma Índia forte e inclusiva. A Índia vence mais uma vez!”, completou. 


Pela internet, a ministra indiana do Exterior, Sushma Swaraj, também comemorou a vitória. “Muito obrigado por dar ao primeiro-ministro uma grande vitória. Transmito minhas mais sinceras condolências aos conterrâneos”, escreveu.


Amarinder Singh, ministro-chefe do estado de Punjab líder regional do partido Congresso, reconheceu a derrota, segundo informações da TV India Today. “Perdemos a batalha” disse ao canal de notícias. 


Dividida em sete fases, esta é a maior eleição do mundo, com 900 milhões de eleitores, que votaram ao longo de mais de 40 dias.


A campanha eleitoral foi considerada agressiva e por vezes violenta, marcada por compartilhamento de notícias falsas e insultos entre os dois candidatos. O primeiro-ministro se apresentou como “chowkidar” (vigilante) da nação e chamou seu rival, Rahul Gandhi, de “burro” e de “ladrão”.


Houve diversos casos de imagens manipuladas, como as que mostravam Ghandi e Modi almoçando com Imran Khan, o primeiro-ministro do Paquistão, país que possui conflitos históricos com a Índia. 


Também houve mortes. Os rebeldes maoístas que se opõem ao estado indiano mataram 15 soldados no estado de Maharashtra, no oeste do país, em 1º de maio.


Segundo Apurv Mishra, pesquisador sênior na India Foundation, continua intacta a maior parte da base de apoio que levou Modi a uma vitória avassaladora em 2014, quando seu partido obteve maioria sem precisar de aliança com nenhum outro partido.


“Modi desafiou as regras não escritas da política indiana de que os eleitores só votam segundo suas castas. As pessoas votaram devido à personalidade dele e sua proposta de desenvolvimento do país”, disse à Folha. “A ênfase em segurança nacional, patriotismo e uma nova Índia continua atraindo muitos eleitores.”


O primeiro-ministro conseguiu turbinar sua popularidade com recentes atritos com o Paquistão na Caxemira. A disputa pela região remonta à época da partição da Índia pós-independência, em 1947.


As Forças Armadas indianas enfrentaram o país vizinho no início do ano, o que gerou uma onda de fervor patriótico.


Linchamentos de muçulmanos e membros da casta baixa Dalit por comer carne aumentaram durante o mandato de Modi, fazendo com que parte dos 170 milhões de muçulmanos do país se sentissem ameaçados e ansiosos sobre seu futuro. 


Entre o setor empresarial, parte dos apoiadores de Modi está decepcionada com o que considera um desempenho abaixo das expectativas.


Seu governo não conseguiu criar empregos suficientes para os milhões de indianos que entram no mercado de trabalho a cada mês. Embora não haja estatísticas confiáveis, a percepção de que o desemprego está aumentando é generalizada.


Houve também uma inesperada “desmonetização” -retirada de notas para coibir a informalidade–, em 2016, que causou enormes problemas para as famílias. A criação de um imposto sobre bens e serviços, embora necessário, teve implementação atabalhoada.


Outra questão delicada é a crise no campo. As políticas do governo para controle da inflação levaram os preços dos principais produtos agrícolas a despencar, sufocando agricultores, um eleitorado precioso no país ainda 66% rural.