O consumo por meio de trocas e compartilhamento de espaço vem conquistando os brasileiros. Chamada também e economia colaborativa ou compartilhada, essa modalidade nova de negócios de consumo ganha adeptos em Curitiba, com o aumento de oferta de serviços e produtos produzidos por quem mora na mesma região. “É um ganha, ganha mais ganha”, resume Lia Perini, dona da Balaio de Gato Colab, que já sete anos começou apenas como brechó e hoje mantem os dois negócios em uma loja localizada na Rua Presidente Carlos Cavalcanti, 400, Centro.
A Colab, como chamam as lojas colaborativas, começou com amigas de Lia que tinha marca própria de confecções, mas não tinham como investir em um negócio físico. “Já eu não tinha como investir na compra de peças novas”, conta. “Daí ambas ganhamos com redução de custos e podemos oferecer ao consumidor preços também melhores”, diz.
A ideia é que a partir deste tipo de arranjo se consiga fortalecer a economia local, criando espaço para os empreendedores locais. E o segmento ganha força a cada dia. Tanto que em setembro, nos dias 21 e 22, o Terraço do Cine Passeio será sede da 1ª Feira Criativa Tua. “Nela teremos produtos criados por mulheres, principalmente”, conta. Para conferir quem vai estar basta seguir no Instagram @tuafeira.
Um levantamento realizado em todas as capitais pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) mostra que, em um ano, aumentou de 68% para 81% o número de brasileiros que estão dispostos a adotar mais práticas de consumo colaborativo no seu dia a dia nos próximos dois anos, percentual que se mantém próximo em todas as faixas etárias e classes sociais.
A advogada Marcella Guedes é cliente fiel da Troc (https://troc.com.br/) é uma plataforma que conecta pessoas que querem vender e comprar roupas, bolsas, sapatos e acessórios usados das melhores marcas e em perfeito estado. A TROC foi fundada pela curitibana Luanna Toniolo Domakoski, em 2016, após cursar Gestão em Marketing em Harvard. Atualmente, a empresa fica em Curitiba.
“Eu já comprei e vendi roupas pela Troc, para mim e para os meus filhos”, conta. Marcella relata que a economia que é bem significativa, sem citar um porcentual, mas exemplifica um sapato de marca que novo custa por volta de R$ 2 mil e na Troc, ela pagou R$ 300.
No geral, 74% das pessoas ouvidas já utilizaram ao menos uma vez, ainda que sem frequência definida, alguma modalidade de consumo colaborativo. Para muitos, o consumo compartilhado é um caminho sem volta: 88% dos entrevistados acreditam que essas práticas vêm ganhando espaço na vida das pessoas. E essa mudança de paradigma é impulsionada, principalmente, pelas novas tecnologias. Para 85%, a internet e as redes sociais contribuem para o desenvolvimento de confiança entre os envolvidos nesse tipo de prática.
Marcella conta que, além da economia, o que mais chamou a atenção dela nos serviços da Troc foi a rapidez e a comodidade. “Tudo é feito pela internet. Eu entro em contato com eles, quando quero vender alguma coisa por exemplo, eles vem buscar em casa, basta eu deixar separado”, diz.
Na avaliação do educador financeiro do SPC Brasil, José Vignoli, a sociedade está, gradativamente, se reinventado em direção a um modelo mais sustentável. “A economia compartilhada une dois propósitos, que é fazer o orçamento render e contribuir para um mundo melhor, a partir do uso racional de bens e serviços. A internet ampliou exponencialmente esse movimento, colocando essas pessoas em contato por meio de sites e aplicativos. Ao mesmo tempo em que parece inovador, consumir de forma compartilhada é uma volta às origens. Bem antes da invenção do dinheiro, era pelo escambo que as pessoas obtinham diversos itens”, explica o educador financeiro do SPC Brasil, José Vignoli.
Preferências
De acordo com o levantamento, as modalidades de consumo colaborativo com maior potencial de utilização, ou seja, aquelas que os brasileiros mais reconhecem que poderiam experimentar no futuro, são o coworking, que consistente no compartilhamento do espaço físico de trabalho (61%), o aluguel ou troca de brinquedos (59%) e a hospedagem de animais de estimação na casa de terceiros (59%).
Entre os que já são adeptos de alguma prática, as mais comuns são as caronas para ir ao trabalho, faculdade, passeios ou viagem (42%), o aluguel de residências para curtas temporadas (38%), além do compartilhamento e da locação de roupas (33%).
No geral, 91% dos usuários se dizem satisfeitos com relação às práticas de compartilhamento que já utilizaram. Além disso, a maioria (70%) dos entrevistados já refletiu sobre o tamanho da economia que a prática rende, sendo que 40% consideram grandes os recursos poupados.
A internet (55%) e as redes sociais (48%) foram os meios que mais contribuíram para que os interessados conhecessem melhor as práticas de consumo colaborativo. Há ainda um número relevante de 37% de pessoas que contaram com a recomendação de amigos e conhecidos. “A economia colaborativa fortalece o senso de comunidade, contribuindo para um estilo de vida mais sustentável. Trata-se de uma relação de benefício mútuo, em que ambas as partes envolvidas na negociação obtêm algum tipo de retorno, seja o lucro financeiro, a economia de recursos ou a satisfação de uma necessidade”, analisa o educador financeiro Vignoli.