SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O Novo IRA, grupo republicano dissidente que luta pela reunificação das Irlandas, reconheceu nesta terça (23) seu envolvimento na morte da jornalista Lyra McKee, na última quinta (18), e pediu desculpas “completas e sinceras” pela ação.


Essa é a primeira morte atribuída ao grupo em três anos, segundo um levantamento mantido pela Universidade de Ulster que registra as vítimas do conflito religioso na região. O crime fez aumentar o temor de uma nova onda de violência na Irlanda do Norte.


McKee, 29, foi atingida por tiros enquanto acompanhava um protesto feito por grupos a favor da unificação da Irlanda na cidade de Derry (Irlanda do Norte). O ato terminou em violência, com carros queimados e mais de 50 bombas caseiras jogadas contra os policiais.


Imagens de câmeras mostram um homem mascarado disparando na direção dos carros da polícia, próximo de onde a jornalista estava. Ela chegou a ser levada a um hospital, mas não resistiu.


Os seis principais partidos políticos da Irlanda do Norte –incluindo os unionistas e os republicanos, incapazes há mais de dois anos de chegar a um acordo para formar um governo em Belfast– publicaram uma declaração conjunta criticando o crime.


“O assassinato de Lyra constitui um ataque contra todos os membros desta comunidade, um ataque contra a paz e o processo democrático.”


A polícia desde o início apontou o Novo IRA como responsável pelo crime, mas só na terça o grupo reconheceu sua participação em um comunicado enviado ao jornal The Irish News.


Na nota, o grupo afirma que enviou integrantes para acompanharem os tumultos na quinta, mas que não pretendia atingir civis.


“Nós instruímos nossos voluntários a tomarem o máximo de cuidado no futuro quando se envolverem com o inimigo, e colocaremos em prática medidas para garantir isso”, diz o comunicado.


A polícia da Irlanda do Norte anunciou nesta terça que prendeu uma mulher de 57 anos na investigação sobre a morte. Dois homens, de 18 e 19 anos, que haviam sido detidos previamente, foram liberados sem acusações.


A violência entre republicanos nacionalistas (católicos), partidários da reunificação da Irlanda, e os unionistas (protestantes), defensores da permanência sob o Reino Unido, deixou cerca de 3.500 mortos até os acordos de paz de 1998.


O antigo IRA (Exército Republicano Irlandês), que durante décadas liderou uma campanha violenta pela unificação, aceitou o acordo e em 2005 entregou suas armas, simbolicamente encerrando o conflito.


Mas alguns grupos menores não aceitaram os termos e mantiveram a luta pela unificação, inclusive recorrendo a violência.


Entre eles está exatamente o Novo IRA, fundado em 2012 por dissidentes do antigo IRA e responsável por pelo menos outras três mortes nos últimos anos (uma em 2013 e duas em 2016), segundo a Universidade de Ulster. O grupo também reivindicou a explosão em janeiro de um carro-bomba em Derry.