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A língua portuguesa está entre os dez idiomas mais falados do mundo e é, sem dúvidas, um dos mais complexos. O uso da língua portuguesa se mostra desafiador nas mais diversas situações, uma vez que é no processo comunicativo que dúvidas sobre o idioma são comuns tanto para os nativos do idioma como para aqueles que têm alto grau de escolaridade.

De acordo com a assessora de Língua Portuguesa do Centro de Inovação Pedagógica, Pesquisa e Desenvolvimento do Colégio Positivo (CIPP), Irinéia Inês Scota, é muito comum cometer erros na escrita pelo pouco interesse em se dedicar à própria língua. “As pessoas passam o tempo aprendendo outros idiomas como inglês, espanhol, francês, italiano, alemão, entre outros, por necessidade do mercado, para obter conhecimento sobre a cultura de outros países ou para poder viajar, e acabam deixando de lado o estudo mais aprofundado de seu próprio idioma. Claro que é louvável simpatizar com outras línguas e estudá-las, mas isso não exclui as vantagens que o falante da língua portuguesa também terá em se aprofundar em seu idioma”, constata.

Os professores de Língua Portuguesa do Colégio Positivo – Master, em Ponta Grossa, Ederson Lima de Souza, e do Colégio Positivo – Internacional, em Curitiba, Diego Emanuel Damasceno Portillo, elencam oito erros que as pessoas mais cometem diariamente, e dão dicas de utilização correta.

Verbo haver (sentido de existir)

“Houveram alguns apontamentos interessantes na reunião de hoje” está errado. É comum o uso do verbo “haver” no plural em situações em que esse verbo é impessoal.

De acordo com o professor Ederson, o verbo, com o sentido de existir, sempre será em terceira pessoa do singular. O contratempo acontece porque o verbo “existir” concorda com o sujeito da sentença, o qual estará após o verbo. Substituindo o verbo “haver” com o sentido de existir, por “existir” ficaria correto: “Existem vários apontamentos interessantes para hoje”.

Nesse caso, o verbo “haver” será sempre flexionado no singular:

“Houve vários apontamentos interessantes na reunião de hoje.”

“Havia dez pessoas na sala.”

“Haverá três relatórios a serem feitos para esta semana.”

Mesmo

A famosa plaquinha do elevador traz um impasse que é cometido por alguns falantes. “Antes de entrar no elevador, verifique se o mesmo encontra-se parado neste andar”. Nessa situação, de acordo com o professor Ederson, a palavra “mesmo” tem sido usada frequentemente como um elemento referenciador no texto. “Porém, vale lembrar que, nesse caso, está errada. A palavra “mesmo” pode ter um papel de pronome demonstrativo em uma sentença. “Ele mesmo pintou todo o seu quarto”. Nesse caso, “mesmo” reforça a ação do sujeito. A placa correta seria: “Antes de entrar no elevador, verifique se ele se encontra parado neste andar”, pois, nesse caso, “ele” é um pronome que retoma o substantivo “elevador” e pode exercer a função de sujeito para o verbo “encontrar-se”.

Onde

Para Ederson, outro caso de erro bastante comum é usar o pronome relativo “onde” sem haver referência de lugar. Ou seja, deve-se usar “onde” somente se antes houver um lugar referido.

“Ano que vem irei ao país onde meus bisavós nasceram.”

“Esta é a empresa onde trabalham pessoas de alto nível intelectual.”

O erro acontece porque “onde” pode ser equivalente a “em que”, mas o inverso nem sempre é possível.

“O colégio onde estudo é legal” = “O colégio em que estudo é legal” = “O colégio no qual estudo é legal” Porém,

“Nesse fim de semana, meu namorado e eu vimos uma série EM QUE a personagem principal era morta já no início da trama.” (série não é lugar).

“Nesse fim de semana, meu namorado e eu vimos uma série NA QUAL a personagem …”

Uso do verbo chegar

“Ele já tinha chego quando o presidente começou a reunião”. O verbo chegar não admite duas formas para o particípio, pois não é classificado como verbo abundante. “Imprimir”, por sua vez, funciona como verbo abundante, pois são possíveis duas construções frasais”, explica Ederson.

“O aluno tinha imprimido o trabalho na noite anterior.” (sujeito pratica a ação)

“O trabalho foi impresso pelo aluno na noite anterior.” (o objeto sofre a ação)

Por isso, sempre se deve usar:

“Ele tinha chegado a tempo para a reunião.” Usar “chego”, só se for no presente do indicativo: “Eu chego feliz ao trabalho”.

Há ou a

O erro aqui acontece por serem palavras que apresentam o mesmo som, mas grafias diferentes. Para Diego, o importante é perceber que a forma verbal “há”, do verbo haver, indica passado e pode ser substituído por “faz”. Ex: “Nos conhecemos há dez anos. Nos conhecemos faz dez anos”. Mas o “a” faz referência à distância ou a um momento no futuro. Ex: “O posto de gasolina mais próximo fica a um quilômetro. As Olimpíadas acontecerão daqui a alguns meses”.

Ao invés de e em vez de

O professor Diego explica que “ao invés de” significa “ao contrário” e deve ser usado apenas para expressar oposição. Ex: “Ao invés de virar à direita, virei à esquerda”. Já “em vez de” é usado como a expressão “no lugar de”. Ex: “Em vez de comprar um carro, ele comprou uma bicicleta”. Na dúvida, dê preferência para “em vez de”.

Onde e aonde

De acordo com Diego, “onde” se refere a um lugar em que alguém ou alguma coisa está, ou seja, indica permanência. Já “aonde” se refere ao lugar para onde alguém vai e indica movimento. Ex: “Ainda não sabemos aonde iremos” e “onde coloquei minhas chaves?”.

Assistir e responder

O professor Diego explica que o verbo “assistir”, no sentido de ver, exige a preposição “a”, mesmo que o uso cotidiano esteja mudando. Errado: Ele assistiu o filme “Guerra Infinita”. (sem a preposição ‘a’ tem sentido de assessorar/socorrer). Certo: “Ele assistiu ao filme Guerra Infinita”.

A regência do verbo “responder”, no sentido de dar a resposta a alguém, é sempre indireta, ou seja, também exige a preposição “a”. Errado: “Ele não respondeu o meu e-mail” (apesar dessa regra, a tendência para a omissão da preposição é comum na linguagem coloquial). Certo: “Ele não respondeu ao meu e-mail”.