Franklin de Freitas – “O palhau00e7o Rodrigo Garcia: u201cO que mais gosto u00e9 quando estou em cenau201d”

Nas últimas três semanas, Curitiba tem vivenciado dias mágicos. É que ao lado do antigo Estádio do Pinheirão, no bairro Tarumã, instalou-se a trupe do Circo Tihany, que permanecerá na Capital até o dia 20 de setembro com a missão de tornar as noites curitibanas mais espetaculares. “O Tihany é muito mais que um circo, é um grande espetáculo”, destaca o mágico e gerente da companhia, Marco Strapazzon.

Mas para que a magia aconteça a cada dia (com apresentações de terça a quinta às 20 horas; sextas e sábados às 16h30 e 20h; e domingos e feriados às 14h, 16h30 e 20h), é preciso uma grande mobilização. Apenas para montar e desmontar a estrutura, que viaja de cidade em cidade, de país em país, são 72 horas de trabalho contínuo, num esforço que reúne pelo menos 150 pessoas.

Ao todo, são 46 caminhões e 33 trailers que acompanham a trupe, que conta com uma equipe fixa formada por 127 pessoas (sendo 48 artistas) de 25 nacionalidades diferentes (“uma verdadeira Torre de Babel”, brinca Strapazzon). Elas acompanham o circo em todas as turnês e se somam ainda às mais de 100 pessoas contratadas em cada local visitado para atuar em áreas como segurança e portaria.

 

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Em seus 64 anos de história, o Circo Tihany já visitou 18 países e mais de 600 cidades, tendo atraído mais de 55 milhões de pessoas. Um público apaixonado, fiel e com pessoas de todas as idades, que cerca de uma hora antes da apresentação já começam a se avolumar em frente ao castelo de lona. Enquanto isso, a movimentação nos bastidores é grande.

“Estou há 20 anos no Tihany e praticamos todos os dias aqui (atrás do picadeiro), fazendo aquecimento uma hora antes da apresentação”, conta Ambra Yadamatso, acrobata de 41 anos natural da Mongólia. 

Enquanto ele se alonga, num outro camarim o palhaço pinta o rosto e noutro as bailarinas se maqueiam. Uma delas é a paraense Bianca Palheta, de 22 anos, artista formada no Teatro Bolshoi e que há dois anos trabalha no Tihany, que curiosamente foi o primeiro circo que ela visitou. 

“Quando entra (no circo) é bem corrido, com ensaio todo dia. Depois vai entrando na rotina e cada um também tem a liberdade para se preparar da forma como acha melhor. Mas quando entra é mais intenso, treinando o dia inteiro diversas coreografias e fazendo diversos ensaios”, diz a bailarina. 

Dedicação integral à arte circense

Mais do que a correria com ensaios e apresentações, contudo, a vida no circo exige dedicação integral, de corpo e alma. Ambra Yamadatso e Marco Strapazzon, por exemplo, contam com a companhia de suas esposas, que também trabalham no circo, e também dos filhos (no caso de Ambra, a mais nova, uma menina de nove anos, já demonstra interesse pela contorção). Já Bianca Palheta tem a companhia do namorado, que é acrobata. 

Outros artistas, contudo, já nasceram no circo. É o caso do palhaço Rodrigo Garcia, que conta trabalhar há um ano no Tihany, mas ter passado a vida toda no meio – sua família, inclusive, está na quinta geração de artistas circenses.
“Não me imagino fora do circo. Até cheguei a estudar veterinária, mas desde pequeno gosto de palhaço e com 18 anos me decidi mesmo sobre o que queria ser”, conta ele. “Cresci vendo palhaços, artistas de circo… Muitas referências desde pequeno e fui aprimorando. Palhaço de circo aprende todos os dias e quanto mais velho, melhor fica o palhaço.”

A vida no circo é diferente de tudo: “Um turismo remunerado”

Para o acrobata Ambra Yamadatso, a vida no circo é diferente de tudo. “Você está sempre viajando, conhecendo lugares diferentes, culturas diferentes, comidas… É um trabalho e descanso ao mesmo tempo. Isso é o mais diferente”, conta ele, que desde sempre queria trabalhar no circo. Começou na carreira como ginasta, mas aos 14 anos já estava no meio que queria. Em 1995 chegou ao Brasil e três anos depois foi contratado pelo Tihany.

Já o mágico Romano Garcia, de 60 anos (30 deles dedicados ao circo e 15 no Tihany) aponta que o circo é “um turismo remunerado”. “Hoje mesmo, por exemplo, aproveitei para visitar os pontos turísticos de Curitiba. Sempre sobra um tempo para conhecer um pouco das cidades que visitamos, interagir com a população e cultura local”, conta ele, que decidiu que queria ser mágico após ver uma apresentação de Franz Czeisler Tihany, fundador do Circo Tihany.

A magia é o principal do espetáculo

Criado há 14 anos, quando fez sua estreia em Las Vegas, e desde então em cartaz, o espetáculo AbraKdabra reúne técnicas circenses, music hall e atos impressionantes de mágica, dignos dos melhores cassinos de Las Vegas. E a magia, o ilusionismo é o ponto alto do espetáculo. É possível apreciar um autêntico Rolls-Royce e presenciar o desaparecimento de motocicletas e de 40 artistas diante dos olhos dos espectadores e o surgimento mágico, em apenas três segundos, de um helicóptero no centro do palco.

"A magia é o principal do espetáculo. São mais de 30 minutos só com ilusionismo, tudo criado e montado em Las Vegas", conta o mágico Marco Strapazzon, destacando ainda que a atração foi a última grande criação do Senhor Tihany, fundador do circo e falecido em março de 2016.

Romano García, que há 15 anos trabalha no Tihany, recorda ainda que quando do lançamento da atração, o circo chegou a receber uma proposta da Prefeitura de Las Vegas para permanecer em definitivo na cidade. "Mas o Senhor Tihany gostava dessa coisa de mudar de cidade, de o circo poder viajar o mundo. Por detalhes que não rolou", conta.

Em Curitiba, o espetáculo tem recebido, em média, um público de 1 mil a 1,2 mil pessoas por dia. Os dias com maior demanda são de quinta-feira a domingo.
 

PERFIL DOS ARTISTAS
 

Bianca Palheta, 22 anos

Bailarina desde os sete anos de idade, formou-se no Teatro Bolshoi e há dois anos foi contratada pelo Circo Tihany. Desde então, visitou mais de 20 cidades diferentes em países como Argentina e Paraguai. Curiosamente, sua primeira experiência num circo foi há quatro anos, quando teve a oportunidade de assistir a um espetáculo do próprio Tihany. “Foi amor à primeira vista”, conta ela.

Rodrigo Garcia, 38 anos

Nascido em uma família que está na quinta geração de artistas circenses, demorou a decidir se também viveria do circo. Aos 18 anos, porém, o sangue falou mais alto e ele abandonou a veterinária para trabalhar de palhaço, apostando no talento de entreter e divertir as pessoas. “O que mais gosto é quando estou em cena. E quando o público fica satisfeito, dá muitas risadas, aplausos e gritos, pode ter certeza que o artista fica mais satisfeito ainda.”

Ambra Yadamatso, 41 anos

O acrobata, natural da Mongólia, conta que desde pequeno queria trabalhar no circo. Começou a carreira como ginasta, mas com 14 anos já era um artista circense. Em 1995 chegou ao Brasil e três anos depois já foi contratado pelo Circo Tihany, onde hoje vive acompanhado da esposa e as duas filhas. “A vida no circo é diferente de tudo. É um trabalho e descanso ao mesmo tempo”, diz ele.

Romano Garcia, 60 anos

Passou praticamente toda a vida no circo, mas só foi virar mágico há cerca de 30 anos. “Decidi que queria ser mágico vendo o Tihany trabalhar. Não gostava dessa coisa de mágicos bobinhos, mas aqui o que temos são grandes ilusões”, conta ele, um dos poucos artistas do Tihany que vive no circo, em um trailer. “Quando me contrataram, a única condição que coloquei é que queria um trailer. Tem comodidade boa, usamos trailers americanos, com TV a cabo, internet, tudo o que tem uma boa casa. Sem contar que assim que termina o espetáculo eu já estou em casa.”