Em tempos de conectividade total, vivenciamos um mundo de graduados em redes sociais baseados em informações e imagens.

Todos têm informações, muitas sem nenhuma veracidade, variadas e aparentemente de fácil entendimento através de animações, gráficos, representações e falas de oradores talentosos e convincentes. Tudo muito visual e aparentemente verdadeiro. Cheio de informações céleres.

Tem-se a sensação do aprendizado fácil e rápido, seletivo de acordo com o desejo de enxergar sob ótica própria, sem argumentações, pensamento crítico e o contraditório do tema. Em geral, não há meio termo, mas polarização rasa e binária. O aprendizado necessita reflexão, tolerância e experiência de outros. Foi e será assim. Os autodidatas natos são espécie raríssima.

Na pandemia, a todo momento vemos manifestações de quem é ousado e arrisca se proclamar expert no que fala. Todos formam uma opinião baseada em sentimentos e, muitas vezes, em desespero ou até esperança.

O cérebro humano é deveras complexo e interessante. Pensemos no efeito Dunning-Kruger. Explico: nosso cérebro superestima nossas capacidades, de maneira que quanto menos sabemos sobre algo, mais cremos saber. Os que têm capacidade moderada são os que têm consciência de sua limitação e pouca habilidade. Os muito bons no assunto são os que subestimam suas capacidades porque têm facilidade em executar aquela tarefa. Essa deve ser a motivação para o aprendizado contínuo e a consciência de que “só sei que nada sei” e que preciso melhorar.

Temos dificuldades para entender o crescimento exponencial; parece lógico, mas não é. A sensação é de que o crescimento é lento e temos dificuldade em enxergar a rapidez.

Repentinamente, temos uma série de especialistas em pandemia. Não ouso opinar depois de muitos anos de Medicina. Deixo para os afeitos ao tema, seguramente acertarão mais do que eu. Seria mero exercício de “achismo”.

Muitas profissões precisam do amadurecimento e da passagem do ensinamento dos mestres. Do caráter, do comportamento, da ética. Não somente do conhecimento técnico. Esse pode ser adquirido nos livros e, agora, nos meios eletrônicos. Medicina é uma delas. Sem médicos e sem pacientes, não há Medicina. Pode haver diagnósticos e tratamentos robotizados, que não servirão ao ser humano, porque este necessita da proximidade, que tanto nos falta nesse momento de isolamento social. Talvez seja um dos legados desse tempo que vivemos.

Roberto Issamu Yosida é presidente do Conselho Regional de Medicina do Paraná