Até pouco tempo militantes na área da sustentabilidade eram vistos como herdeiros dos conceitos radicais de proteção ambiental, uma nova roupagem para os “ecochatos”. Porém os princípios sólidos defendidos, bem como a relevante descoberta da ética como fator fundamental do conceito de sustentabilidade, deram uma nova perspectiva para o assunto, especialmente quando se fala em negócios.
Enquanto o mercado de capitais assistiu a uma expansão sem precedentes dos negócios em bolsas de valores, também iniciou-se um processo de constantes crises.

Explica-se: com a globalização, criou-se junto de um novo universo de oportunidades, muitas distorções. Afinal, ficou fácil para empresas que operavam nos mercados mais desenvolvidos distribuírem a produção pelo chamado Terceiro Mundo, onde trabalhadores com pouca segurança e menos direitos produziam por salários mínimos. Essa prática fez prosperar a exportação de atividades potencialmente danosas ao meio ambiente e explodiram no mundo vária tragédias.
Então começou uma das mais importantes iniciativas para a promoção de parâmetros éticos e ambientais na Terra. Denominado Nosso Futuro Comum, ele estabeleceu novos paradigmas de sustentabilidade que mudaram a forma de fazer negócios. O tripé “equilíbrio ambiental, social e econômico”, de 1998, passou a ter relevância crescente.

O desenvolvimento sustentável passou a ser definido como “a capacidade de satisfazer as necessidades presentes da humanidade sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras satisfazerem suas próprias necessidades”1. Foi a partir dessa premissa básica de equilíbrio que novos paradigmas de governança empresarial e indicadores de responsabilidade social e de sustentabilidade passaram a ser construídos.
Organizações foram fundadas e índices foram criados para incorporarem essas preocupações nas ações de mercado. Então o mundo dos negócios passou a se preocupar com questões socioambientais. Mesmo que de forma distorcida num primeiro movimento, pois ainda buscavam o lucro como finalidade absoluta, esta guinada rumo à preocupação de conciliar os interesses empresariais com elementos descritos como “ESG (Environment, Social and Governance)”2 nas atividades empresariais, modificou e tem modificado o mercado de valores mundial. Esse alinhamento criou um novo e consistente tipo de investimento, o ISR – Investimento Sustentável e Responsável.

No ano de 2006 a ONU, seguindo a esteira de sucesso do Pacto Global (2000), lança os “Princípios para o Investimento Responsável – PRI”, para auxiliar na sensibilização dos mercados de capitais sobre as questões ambientais e sociais. Tal iniciativa consiste num trabalho de uma rede internacional de mais de 1400 signatários, distribuídos em mais de 50 países, com o objetivo de compreender as implicações do investimento sobre os temas “ESG”, propiciando a integração destes assuntos com as decisões de investimento e propriedade de ativos. Tratam-se de seis princípios que podem afetar o desempenho das carteiras de investimento, buscando alinhar os interesses dos investidores com os objetivos mais amplos da sociedade.

No Brasil tal movimento já é percebido no mercado de ações: a carteira ISE3 da BMV&FBOVESPA atinge expressivos resultados. Desde a sua criação, em 2005, apresentou rentabilidade positiva de 203,8%, contra 175,38% do Ibovespa (base de fechamento em 27/11/2018). No mesmo período, o ISE B3 teve ainda menor volatilidade: 24,67% em relação a 27,46% do Ibovespa.

Todos estes fatos fizeram com que o Instituto Brasileiro de Relações com Investidores – IBRI lançasse um caderno orientativo exclusivo sobre este tipo de investimento. Nele conclui que as áreas de RI deverão estar preparadas para um crescente questionamento sobre informações diferenciadas e deverão incorporar as percepções de sustentabilidade em suas divulgações.
Percebe-se que o assunto sustentabilidade veio para ficar e transformar a realidade das empresas que desejem transformar a sociedade, sem abrir mão de bons resultados financeiros, exigindo-se de todos uma postura sustentável.

Glauco Requião é ex- Diretor de Meio Ambiente da Sanepar e criador da plataforma Postura SustentávelEscola de Negócios