Franklin de Freitas – Problema de perda de passageiros já é antigo no sistema

A pandemia do novo coronavírus fez despencar o número de passageiros transportados nos ônibus de Curitiba, acelerando o processo de evasão do sistema de transporte coletivo. Em tempos de isolamento social, o impacto nas ruas da capital paranaense pode não ser tão significativo, mas no médio e longo prazo o aumento da adesão ao transporte privado e individual também pode sobrecarregar ainda mais o trânsito da cidade.

Conforme informações da Urbs, antes da pandemia o número de passageiros transportados por dia nos ônibus era de 750 mil, aproximadamente. Hoje, esse número gira em torno de 350 mil/dia, o que não representa nem metade da demanda em tempos de normalidade. E isso que os dados ainda apresentaram melhora significativa ao longo do último mês, na medida em que foram sendo abrandadas as medidas de isolamento social para enfrentamento da pandemia de Curitiba.

Os dados da Diretoria de Operações da Urbs mostram que a queda no número de passageiros transportados começou a ser mais sentida a partir do dia 16 de março. Naquela semana, foram 480.490 passageiros transportados a cada dia útil na cidade, ao passo que nas duas semanas anteriores haviam sido 744.344 e 745.597, respectivamente.

A situaçã se agravou mais nas semanas seguintes, ainda no início da pandemia, quando os ônibus de Curitiba chegaram a registrar um movimento médio de 153.427 passageiros por dia útil (entre os dias 23 e 27 de março) e 166.782 (entre os dias 30 demarço e 3 de abril).

Na sequência, o número subiu um pouco e ficou acima dos 200 mil, mas até o final de agosto a média de passageiros transportados diariamente permaneceu abaixo de 300 mil, bem distante dos 750 mil passageiros transportados por dia em tempos de normalidade.

Além disso, a recuperação do movimento tem acontecido de forma gradual e lenta. Na última semana, por exemplo, entre os dias 5 e 9 de outubro, foram 346.889 pessoas transportadas por dia. Nesta semana, na terça e quarta-feira (segunda foi feriado), foram 367.438 por dia.

No caso de linhas expressas e com maior movimento, como o Interbairros II, porém, a demanda já teria voltado ao normal, conforme informou a Urbs.

Crise sanitária agrava problema antigo

O grande problema é que a crise do coronavírus agravou um problema que já aflige há anos o transporte coletivo de Curitiba. Entre 2017 e 2019, por exemplo, dados do Sindicato das Empresas de Ônibus de Curitiba e Região Metropolitana (Setransp) mostram que o sistema perdeu quase 8 milhões de passageiros, o equivalente a menos 7.269 pessoas utilizando o ônibus na cidade a cada dia.

Ao longo de todo o ano passado, foram 171.678.756 ‘passageiro pagante equivalente’, ao passo em que 2018 haviam sido 176.738.992 e, em 2017, 179.630.911.

Importante explicar, ainda, que os dados da Setransp considerem o número total de ‘passageiro pagante equivalente’, ou seja, o número real de usuários que pagaram para utilizar o sistema. Um estudante, por exemplo, paga meia tarifa, o que torna necessário dois estudantes para termos um passageiro pagante equivalente.

Transporte privado e individual ganha força nas grandes cidades

Um levantamento divulgado ontem pela Rede Nossa São Paulo e pelo Ibope Inteligência mostra ainda que, com a pandemia de Covid-19, pela primeira vez desde 2017 a quantidade de pessoas na capital paulista utilizando um meio de transporte particular ou individual superou a parcela de quem opta pelo sistema público, com 52% versus 48%, respectivamente.

Embora o estudo trate da realidade paulista, os números do transporte coletivo em Curitiba apontam que essa é uma realidade que também afeta outras localidades. Ademais, a diferença pode até parecer pequena, mas o dado do levantamento indica uma transformação radical, já que há três anos o volume de passageiros do transporte público municipal representava 65% do total.

Movimento está menor, mas ainda com ônibus lotados, diz o Tribunal de Contas

Uma auditoria realizada pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE/PR) identificou ainda que, mesmo com a redução no número depassageiros transportados,muitas linhas de ônibus de Curitiba continuaram circulando lotados durante a pandemia de Covid-19. Foram dois os problemas centrais citadosno relatório do TCE: a inadequação da gestão do serviço frente à necessidade de distanciamento social e falhas relativas às políticas e controles de segurança das informações do sistema.

A Urbs, por sua vez, alega ter tomado uma série demedicaspara evitar aglomerações e assegurar segurança dos usuários do transporte coletivo, como restrição na lotação máxima dos veículos (inicialmente em 50%e agora em 70%), e também diz que o monitoramento das ações e do comportamento dos usuários é constante.