José Fernando Ogura/ANPr – O porto de Paranaguá

Na última segunda-feira (30), os Portos de Paranaguá e Antonina bateram o recorde anual histórico de carga movimentada, ao atingir 53,382 milhões de toneladas durante o ano. O recorde anterior era de 53,08 milhões de toneladas, em 2019. Considerando o cálculo de que o mês de novembro fechou com 4,45 milhões de toneladas, o ano de 2020 tem, até o último mês, 53,53 milhões de toneladas movimentadas. A previsão é de fechar o ano com 57 milhões. Curiosamente, dois fatores ajudaram nesse recorde: a pandemia do coronavírus e a estiagem. 

Nos meses em que a pandemia mais apavorou no Brasil, entre março e maio deste ano, os Portos tiveram uma alta considerável de movimentação em relação a 2019. Em março, foram movimentadas 5,37 milhões de toneladas; em abril, 5,52 milhões; em maio, 5,71 milhões, o melhor mês da história do Porto. Isso totalizou 16,6 milhões de toneladas. No mesmo período em 2019, o total chegou a 12,48 milhões de toneladas (4,31 milhões em março, 4,22 em abril e 3,95 em maio). Além disso, em sete dos 10 primeiros meses de 2020, a movimentação foi superior ao mesmo mês em 2019 (ver quadro).

Segundo a Portos do Paraná, que administra os Portos de Paranaguá e Antonina, a pandemia ajudou na quebra dos recordes por causa de alguns fatores. Primeiro, porque os portos não pararam em nenhum momento. “Apesar da pandemia, o ano foi de muito trabalho”, afirmou o diretor-presidente da Portos do Paraná, Luiz Fernando Garcia. Segundo, porque houve uma demanda maior de produtos neste ano. Terceiro, como havia menos carros nas estradas por causa das recomendações de isolamento social, mais caminhões puderam chegar ao porto. Até o dia 27 de novembro, foram 422.774 caminhões carregando e descarregando no porto, contra 375.899 em todo o ano de 2019. A mesma coisa aconteceu com os trens, que podiam chegar ao porto com mais frequência e com composições maiores.

Além disso, a pandemia causou um certo medo de faltar produtos em todo o mundo. Segundo a administração, a China aumentou o volume de compras de alimentos porque tinha medo de ficar sem comida. E o dólar alto favoreceu as exportações, deixando o mercado menos pessimista. “É um resultado do Paraná, de toda a comunidade portuária. Sempre falamos aqui: o porto tem de ser cada vez mais competitivo e eficiente”, disse Garcia. “As exportações de grãos e alimentos cresceram, com o câmbio favorável”.

Cerca de 65% da movimentação dos portos paranaenses entre janeiro e outubro deste ano foi exportação: 38,1 milhões de toneladas de cargas. O volume é 13% maior que o registrado no mesmo período, em 2019 (28,2 milhões de toneladas). As importações somaram 17,1 milhões de toneladas, ou 4% mais que no ano passado, com 16,4 milhões de toneladas.

Estiagem
Por incrível que pareça, a falta de chuvas também ajudou. O embarque de grãos só pode ser feito com tempo seco. Com a estiagem, houve mais dias para movimentar grãos no Porto de Paranaguá. E os granéis sólidos responderam por mais de 66% das exportações e importações. Foram quase 32,5 milhões de toneladas de grãos movimentadas entre janeiro e outubro de 2020. No ano anterior, foram 29,6 milhões de toneladas.

“O tempo seco favoreceu os embarques”, afirmou Garcia. “Além disso a safra foi recorde do Paraná, uma união de fatores que aumenta a nossa responsabilidade em busca de novos recordes”.

A soja sempre foi o carro-chefe dos grãos movimentados em Paranaguá. O porto é o segundo do País em exportação do produto. Também ganhou destaque o volume de açúcar, que aumentou 78% em relação a 2019. O porto é o líder nacional em exportação de óleo vegetal e carne e frango congelada. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em movimentação geral, os portos de Paranaguá e Antonina só ficam atrás do de Santos (SP), que é o mais movimentado de toda a América Latina – só no primeiro semestre deste ano, foram 55,7 milhões de toneladas.

A movimentação de carga nos portos, mês a Mês, em 2019 e 2020

Números dos Portos de Paranaguá e Antonina

2º porto do Brasil em movimentação geral, atrás apenas de Santos (SP)
1º em exportação de óleo vegetal e frango congelado.
2º em exportação de soja, açúcar, carne, papel e álcool.
2º em movimentação de contêineres e veículos
1º em importação de fertilizantes.
1º em capacidade para movimentação de contêineres. Não só no Brasil, mas em toda a América Latina.
10% das cargas marítimas brasileiras passam pelos Portos do Paraná
2.254 navios recebidos até novembro de 2020, uma média de 204 por mês (ou 6,74 por dia). Em 2019, foram 2.402 no ano todo, uma média de 200 por mês (6,58 por dia).


Mudança de formato de gestão deu autonomia e eficiência subiu

Em 2019, o porto de Paranaguá tornou-se o primeiro porto estatal do Brasil a ter autonomia de gestão. Em vez de ser diretamente administrado pelo Estado, o Porto agora é controlado pela empresa pública Portos do Paraná. Isso trouxe melhora na organização administrativa, deu autonomia, possibilitou mudanças e um novo trabalho de planejamento.

“Conseguimos nos adequar a todos os questionamentos existentes, incluindo Tribunal de Contas, Ministério Público, Agência Reguladora”, disse o diretor-presidente da Portos do Paraná, Luiz Fernando Garcia. “Com tudo equalizado, conseguimos iniciar efetivamente o desenho do planejamento dos portos, coisa que não existia antes”.

A nova autonomia ajudou a trazer um investimento pesado da Klabin, maior produtora e exportadora de papéis para embalagens do Brasil. A empresa passará a administrar um terminal destinado à movimentação de carga geral em Paranaguá. O aporte inicial foi de R$ 1 milhão e a empresa pretende fazer investimentos de R$ 130 milhões no local. Há duas décadas não aconteciam novos arrendamentos em Paranaguá.

A atual gestão está desenhando o futuro dos portos paranaenses para os próximos 40 anos. Estão programados investimentos na ordem de R$ 1 bilhão em obras de infraestrutura terrestre e marítima nos próximos anos, sendo R$ 403,3 milhões no programa de dragagem continuada. Também estão em andamento o projeto do novo Corredor de Exportação, a reforma do Píer de Inflamáveis (R$ 28,5 milhões) e a derrocagem da Pedra da Palangana (R$ 23,2 milhões), entre outros.

Além disso, o porto já entregou as obras de ampliação do cais e a modernização do berço 201, com investimentos de quase R$ 178 milhões. Em 2019, foram entregues a recuperação da avenida Bento Rocha (R$ 15,9 milhões) e o novo viaduto da BR-277 (R$ 12,7 milhões).