
Por conta de todas as restrições e recomendações relativas à pandemia do novo coronavírus, o Dia dos Pais terá que ser celebrado de uma maneira diferente neste ano. Os abastados banquetes e a reunião familiar dão espaço para encontros virtuais, seja por meio de troca de mensagens ou chamadas de vídeo. Para grande parte das famílias, o momento de maior proximidade (ao menos no sentido físico) será aquele da entrega de presentes — e ainda assim com grandes restrições.
Moradora e funcionária da Prefeitura de Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba, Ágatha Branco, 43 anos, é um exemplo disso. Os pais dela, Giovani Santos e Susana Branco, ambos com mais de 60 anos, moram no bairro de Santa Felicidade, em Curitiba. Antes da crise sanitária, as reuniões em família aconteciam com frequência. Via de regra, numa semana ela, o marido e os filhos se reuniam com Giovani e Susana e noutra, com os sogros.
Contudo, desde que a pandemia começou a se alastrar pelo país, em meados de março, os encontros presenciais foram suspensos. Dia das Mães, Páscoa e até mesmo o aniversário de Giovani, em 29 de março, tiveram de ser celebrados de uma forma diferente, distante. Neste final de semana, quando tradicionalmente as famílias de Ágatha e seu marido, Franco Di Giuseppe Junior, se reuniriam, a solução será apostar em algo mais caseiro.
“Sempre passávamos esse dia juntos, procurávamos não dividir. Vinham as cunhadas, meus pais, sogros… Desta vez, meu marido vai fazer costela para nós no domingo. Comprei um presente pro meu pai, vou deixar lá para eles no sábado para ele utilizar no domingo, mas não tem essa sociabilização e isso não existe há meses. Nos conectamos por mensagem, vídeoconferência”, relata Ágatha. “Dentro das nossas possibilidades, temos de podar nossa liberdade por conta da saúde”, complementa.
O distanciamento, neste caso, se faz ainda mais necessário pelo fato de que Ágatha e o marido seguirem trabalhando normalmente, inclusive com ela dando expediente na Prefeitura de Pinhais. “Estamos mais expostos, embora tomemos todos os cuidados. E como tem a questão de não saber se é assintomático… Ser responsável por acontecer algo com nossos pais é o que nos preocupa mais”.
Ação especial ameniza solidão em casa de repouso da Grande Curitiba
Localizado em São José dos Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba (RMC), o Bosque Residencial Sênior prepara mais uma ação especial para amenizar a distância entre familiares e moradores da casa de repouso, que estão em isolamento desde meados de março.
Mylla Jardel, diretora do Bosque Sênior, conta que será ofertado um café da tarde especial aos pais e mães hospedados. Além disso, seguindo normas regulamentadas pela secretaria de saúde e Vigilância Sanitária do município, também acontecerá um encontro entre familiares e os idosos, que poderão conversar e receber presentes, ficando separados por um vidro transparente.
Filho de Maury Ricetti, de 78 anos, Marcus Vinicius aproveitará a ocasião para levar a esposa e os filhos para verem o avô e sogro. “Eu adoro meu velhinho. Ele sempre foi mais reservado, tinha o mundo dele e eu compreendo porque sou assim também. Essa situação toda está afetando muito ele, que anda bastante emotivo”, comenta.
Distanciamento exige ‘bom senso’ na guarda compartilhada
No âmbito do Direito de Família, a semana de Dia dos Pais acarretou numa chuva de processos e questionamentos a advogados com relação a questões envolvendo a guarda dos filhos. Afinal, poderia o pai requerer passar a data com o seu filho, mesmo em face da necessidade de distanciamento social?
A advogada Lázara Daniele Guidio Biondo Crocetti, da Biondo Crocetti Advocacia, explica que a solução neste momento tem sido apelar para o bom senso dos pais, mas que o problema tem sido as pessoas reconhecer a gravidade do momento pelo qual o país atravessa.
“Existe uma orientação do Conanda (Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente) que é bem clara no sentido da gente [operadores do Direito] evitar o trânsito com crianças”, explica a advogada. “O feriado do Dia dos Pais traz um apelo, mas quando meu cliente é pai, eu trabalho nele o bom senso. A criança está isolada, tem uma situação de risco para a saúde. Realmente quer ir em frente, colocar a criança em risco por conta de um feriado comercial?”.
Ainda segundo ela, a grande questão são aqueles casos em que a criança mora com pessoas do grupo de risco, como idosos, e também as situações em que um dos pais não consegue guardar o isolamento social (caso de médicos, por exemplo). Na maioria dessas situações a Justiça está deferindo a suspensão da guarda compartilhada, mas o pai pode buscar outros meios de manter contato e lá na frente terá uma compensação pelo período extraordinário.
“Ficar dois, três meses sem ver o filho é difícil para todo mundo, tanto que, quando pedimos a suspensão das visitas, já pedimos que a outra parte permita que o genitor converse diariamente, por um período, por vídeo, para manter o vínculo, o que geralmente não recomendo em situações normais”, afirma Lázara. “Além disso, lá na frente [o pai] vai ter direito ao gozo da convivência semanal, vai ter uma compensação todos os finais de semana.”