RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – A parada para manutenção em uma refinaria da Petrobras está provocando problemas no abastecimento de gasolina de aviação no Brasil. Segundo empresas do setor, os segmentos mais afetados são aqueles que dependem de aeronaves para a pulverização de defensivos agrícolas em lavouras, principalmente na região Sul.


Usada em aviões de pequeno porte, a gasolina de aviação é produzida por apenas uma refinaria brasileira, localizada em Cubatão, no litoral de São Paulo. A unidade responsável pela fabricação do combustível foi paralisada para manutenção no fim de 2018.


De acordo com dados da ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás e Biocombustíveis), não houve produção de gasolina de aviação no país em setembro nem em outubro de 2018. No acumulado do ano, até novembro, a produção nacional foi 15,3% inferior ao registrado no ano anterior.


“Começamos a identificar o problema na virada do ano, com o relato de alguns empresários, principalmente no Rio Grande do Sul e no interior de São Paulo”, conta Gabriel Colle, diretor do Sindag (Sindicato das Empresas de Aviação Agrícola).


O Brasil tem a maior frota destinada à aviação agrícola do mundo, com 2.115 aviões, segundo o Sindag.


Cerca de metade usa gasolina de aviação. Do restante, 35% usam etanol e o restante, querosene de aviação, combustível que abastece grandes aeronaves movidas a turbinas.


O sindicato avalia que aproximadamente 10% dessa frota, ou cerca de 200 aeronaves, estão hoje impossibilitadas de voar por falta de combustível. As lavouras de arroz no Rio Grande do Sul seriam as mais afetadas -no estado, 80% dos 450 aviões que fazem pulverização são movidos a gasolina de aviação.


“O problema poderia ser pior, mas como está chovendo bastante na região, os aviões estão parados”, diz Colle. O Sindag avalia que houve problemas no planejamento dos estoques para abastecer o mercado durante a manutenção na refinaria.


A Petrobras diz que a parada já estava programada e que avisou a seus clientes que importaria o produto durante o período sem produção nacional. “Nesta data, encontram-se liberados para venda em Santos cinco milhões de litros para pronta entrega às companhias distribuidoras”, disse, em nota, a estatal.


O volume é equivalente à média de consumo no mês de janeiro nos últimos três anos, de acordo com os dados da ANP. A Petrobras diz que já importou 11,5 milhões de litros desde a parada na refinaria.


“Já estão programadas duas novas importações com previsão de entregas para o final de janeiro e para fevereiro”, disse a estatal, frisando que “atrasos pontuais na entrega em determinados polos podem ocorrer em decorrência do processo de importação de produto tão específico.”


Principal distribuidora de querosene de aviação no Brasil, com cerca de 40% das vendas em 2017 (último dado disponível), a BR diz que começou na segunda (14), após receber o produto da Petrobras, a reabastecer seus clientes. A previsão da empresa é que até esta quinta (17), todos os aeroportos que atende estejam abastecidos.


A segunda maior do setor, a Raízen -associação entre Shell e grupo Cosan- não deu entrevista para comentar o assunto. Em 2017, a empresa tinha 38% das vendas. O restante do mercado é dividido entre Air BP e Gran Petro, de acordo com a ANP.


Historicamente, o Brasil tem produzido mais querosene de aviação do que consome, segundo a agência reguladora. Desde 2008, houve importações pontuais apenas em períodos de parada na refinaria de Cubatão.


Responsável por garantir o abastecimento nacional de combustíveis, a ANP disse em nota que “a alteração na logística de suprimento gerou oscilações no fornecimento, que já está se normalizando”.