Muitos costumam pensar que o ser humano, por ter desenvolvido raciocínio muito superior a qualquer outro ser vivo, e ter criado o conceito de ser imagem e semelhança de Deus, seria o máximo da evolução das espécies.

No entanto, todos os animais na Terra são igualmente importantes e necessários para a continuidade da vida, do menor inseto ao maior elefante, pois qualquer elo que percamos impacta profundamente a nossa possibilidade de sobrevivência. Nos mares, o plâncton – espécie dita “primitiva e simples demais” – determina a sobrevivência de praticamente todos os seres que nele habitam, início de uma cadeia alimentar complexa e longa.

Isso representa uma quebra em nossos paradigmas, como acontecido no modelo de representação do mundo que nos orientou em ideias, crenças e práticas, talvez uma das maiores desde a teoria do Heliocentrismo de Copérnico que demonstrou errôneo o geocentrismo de Ptolomeu, quando descobrimos que a Terra não era o centro do Universo, e que Sol, a Lua e os demais planetas não giravam em seu entorno.

Da mesma forma, a preocupação com o meio ambiente, com a totalidade dos fatores que influenciam a vida biológica de um organismo ou de uma população, aquilo que nos rodeia e que interfere na nossa existência, é recente e também representa a quebra de um outro grande paradigma. A noção de que interagimos, de que tudo está relacionado, unido em um conjunto indissociável e que nós afetamos e somos afetados por agentes externos que interferem positiva ou negativamente na vida de todos os seres vivos, não como elementos isolados mas sim como seres interdependentes, nos faz olhar com mais cuidado a questão da ecologia.

O conceito de ecossistema assume um papel central na reflexão em torno das dimensões do desenvolvimento das sociedades contemporâneas, revelando o impacto provocado pelas nossas industrias e comércios, destruição de matas, extinção de espécies, e se tornam mais e mais complexos, tanto em termos quantitativos quanto qualitativos.

Inclusive a Constituição Federal Brasileira assegura o direito e proteção ao meio ambiente ecologicamente equilibrado como bem coletivo, indicando ainda o dever de defesa deste meio para as presentes e futuras gerações. Nesta Carta Magna também encontramos o dever de toda propriedade rural em cumprir sua função social, com aproveitamento racional e adequado do uso do solo e recursos naturais, o que tem sido cada vez mais raro num país de queimadas, garimpo ilegal e extermínio sistemático das florestas.

O modelo produtivo atual foi baseado na falsa premissa de que o progresso econômico poderia ser ilimitado, e em função disso temos destruído aquilo que seria o legado de nossos descendentes; critério e bom senso permitem desenvolver a economia desde que alterando a visão política, social e cultural sobre o uso dos recursos naturais.

O momento atual pede uma comunidade motivada e mobilizada para tornar-se mais propositiva, e questionar de forma concreta a falta de iniciativa dos governos para implementar políticas pautadas pela preservação do meio ambiente sem deixar de lado sustentabilidade e desenvolvimento, assim como, apesar de todas as dificuldades, promover a inclusão social.

Se os argumentos que a ciência apresenta como sustentação da necessidade de respeito a nosso próprio planeta, aos mares, às matas, ao ar que respiramos, não bastarem para convencer a muitos negacionistas, certamente as consequências do aquecimento global (que existe sim, está conosco e se agrava a cada ano) farão este papel. O general macedônio Pirro ganhou uma importante batalha contra os romanos na região de Campânia, mas suas perdas foram tão grande que ele declarou “mais uma vitória como essa e estou perdido”; o que teria originado a expressão “Vitória de Pirro”. Resta-nos esperar que a vitória do bom senso sobre o negacionismo não seja de Pirro, e que estejamos vivos para comemorá-la em nossas escolas e academias.

 

Wanda Camargo – educadora e assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil – UniBrasil.