Franklin de Freitas – Ocorrência de novos casos de Covid-19 estrangula o sistema de saúde no Estado todo

Quase um ano depois de começar a conviver com a pandemia do coronavírus (a próxima sexta-feira, 12 de março, marca o aniversário dos primeiros casos no estado), o Paraná enfrenta aquele que é, até aqui, o mais grave momento da crise sanitária. Com os hospitais abarrotados — até ontem, 989 pacientes estavam na fila de espera por um leito de tratamento da Covid-19, 519 deles aguardando por vagas em UTI — e um crescimento expressivo no número de casos e óbitos causados pela doença nas últimas semanas, o estado desponta hoje como um dos principais (se não o principal) foco de coronavírus no Brasil.

Segundo dados do Farol Covid, levantados a partir de dados oficiais públicos, o Paraná apresenta a maior média móvel de casos novos da doença no país, ao mesmo tempo em que se tornou um dos estados com mais mortes pelo coronavírus.

Os números, extraídos na tarde de ontem, mostram que nos últimos 7 dias o estado registrou 98,41 novos casos de Covid para cada 100 mil habitantes, maior taxa entre as 27 unidades da federação. Os vizinhos Santa Catarina (com 73,57) e Rio Grande do Sul (com 60,17) também aparecem entre os cinco estados com maior proporção de casos novos, bem como Rondônia (com 66,15) e Roraima (46,44).

Além disso, a média móvel de mortes no Paraná ficou em 1,15 no período, a sexta maior do país, atrás apenas de Rondônia (1,86), Roraima (1,58), Amazonas (1,38), Rio Grande do Sul (1,33) e Santa Catarina (1,21). Interessante notar, ainda, que o agravamento da crise sanitária afeta, neste momento, as regiões norte e sul do país, primordialmente.

É curioso notar, ainda, como o cenário atual contrapõe-se radicalmente àquele registrado pouco tempo atrás, quando o estado era visto como um dos que havia melhor lidado com o enfrentamento à pandemia.

Em setembro do ano passado, por exemplo, o estado ficava atrás apenas de Minas Gerais entre os estados brasileiros com menor número de casos e óbitos pela Covid-19 por 100 mil habitantes. Ainda hoje, inclusive, o Paraná apresenta a 13ª maior taxa bruta de casos por 100 mil habitantes (com 6.302,05) e é o terceiro estado com menor taxa bruta de mortes (91,69), segundo dados do MonitoraCovid-19, da Fiocruz.

O que, então, teria levado ao estado atual da crise, com o colapso no atendimento aos enfermos?

Um dos fatores é a circulação de variantes do coronavírus, como a P1, identificada pela primeira vez no Amazonas e que já é responsável por 70,4% dos casos da Covid-19. Até o momento, a mutação do agente infeccioso não foi relacionada à evolução clínica mais grave da Covid-19, mas já existem indícios de que ela é mais transmissível.

Além disso, chama a atenção também uma mudança no perfil dos internados, com crescimento expressivo na faixa entre 31 e 60 anos de idade, num indício de que as novas cepas do coronavírus atingem faixas etárias que antes eram consideradas “mais seguras”.

No PR, 94% dos municípios apresentam nível de alerta altíssimo

Os dados apurados pelo consórcio de pesquisadores do Farol Covid mostram ainda que o risco de transmissão do novo coronavírus no Paraná é considerado ‘altíssimo’ em 94,5% dos municípios paranaenses. Em 22 cidades, o nível de alerta é ‘alto’. A estimativa é que exista atualmente 183.866 casos ativos da doença n o estado, sendo que para cada 10 pessoas infectadas, oito não são diagnosticadas. Ainda assim, o cálculo do Rt (taxa de contátio) estaria entre 1 e 1,1, com alerta moderado.

O Farol Covid utiliza uma escala com quatro graus de urgência, que sai do menos preocupante (‘novo normal’) e passa por dois estágios intermediários (‘moderado’ e ‘alto’) antes de chegar ao mais grave (‘altíssimo’. A classificação considera questões como a situação da doença na localidade (novos casos diários e tendência de novos casos diários), o controle da doença (número de reprodução efetiva) a capacidade de resposta do sistema de saúde (projeção de tempo para ocupação total de leitos UTI) e a confiança dos dados (subnotificação, ou seja, casos não diagnosticados da doença).

Em Curitiba, média semanal de mortes fica perto de recorde

Em Curitiba, a média semanal de casos e mortes de Covid-19 teve mais um aumento expressivo na última semana. Entre os dias 28 de fevereiro e 6 de março, a capital paranaense registrou, em média, 894 novos diagnósticos da doença por dia (aumento de 24% na comparação com a semana anterior) e 17 mortes diárias (crescimento de 15,53%).

O número de casos novos da doença na cidade é o maior desde a semana entre os dias 13 e 19 de dezembro do ano passado, quando foram divulgados mil novos diagnósticos de Covid por dia.

Já o número de óbitos é o quarto maior para uma semana desde o início da pandemia, sendo que o recorde de mortes pertence a semana entre os dias 2 e 8 de agosto, ainda na primeira onda da doença no município, quando cerca de 18 pessoas faleceram diariamente.

MORTES E CASOS DE CORONAVÍRUS POR ESTADO

Estados com mais casos de Covid-19
(média móvel dos últimos 7 dias, por 100 mil habitantes)

Paraná: 98,41
Santa Catarina: 73,57
Rondônia: 66,15
Rio Grande do Sul: 60,17
Roraima: 46,44

Estados com mais mortes por Covid-19
(média móvel dos últimos 7 dias, por 100 mil habitantes)

Rondônia: 1,86
Roraima: 1,58
Amazonas: 1,38
Rio Grande do Sul: 1,33
Santa Catarina: 1,21
Paraná: 1,15

Fonte: Farol Covid/Coronacidades, dados extraídos ontem (8 de março)