O curitibano Paulo Schmitt, 45 anos, integra o Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) do Futebol desde 2003. A partir de 2006, assumiu a função de Procurador-Geral, liderando uma invasão paranaense do STJD, com sede no Rio de Janeiro. Nesse período, Schmitt atuou em casos polêmicos, como a batalha no gramado do Couto Pereira, no jogo Coritiba e Fluminense, no Campeonato Brasileiro de 2009. Em entrevista para o Jornal do Estado, o procurador fala sobre esse e outros episódios, sempre criticando o bairrismo, o complexo de vira-lata e as teorias conspiratórias.

Jornal do Estado — Os paranaenses estão ganhando espaço no STJD, com a participação de mais auditores? Além disso, os paranaenses Itamar Cortes e Domingos Moro se destacam nacionalmente entre os advogados esportivos.
Paulo Schmitt –
Com o espaço que os Drs. Luiz Zveiter (ex-presidente do STJD) e Rubens Approbato (atual presidente) nos deram, eu me envolvi pessoalmente para a indicação e nomeação de vários paranaenses. Conquistei essa confiança com muito trabalho, e sou bastante ouvido e respeitado no Pleno. Certamente estou no ranking dos mais eficazes advogados paranaenses a conseguir levar colegas para uma Corte Superior. E olha que sequer integro cargo diretivo na OAB, apenas sou membro da Comissão de Direito Desportivo. Começou com o Dr. Alexandre Quadros. Depois, eu e ele fomos trabalhando para que inúmeros paranaenses que já atuavam conosco nos tribunais do Governo do Paraná tivessem a oportunidade de mostrar o seu valor em um cenário nacional. Já passaram pela Corte na Procuradoria os Drs. Alessandro Kishino e Marcelo Salomão. Atualmente ainda estão fazendo parte do órgão, além de mim, os Drs. Rafael Jazar e Maran Carneiro da Silva. Nas funções de auditor, no Pleno temos o Dr. Alexandre Quadros, e nas Comissões Disciplinares as Dras. Renata Quadros (Presidente da 4ª Comissão), e Giseli Amantino (Auditora da 3ª Comissão). Quanto aos advogados, é isso mesmo, os mais atuantes são os Drs. Itamar Cortes e Domingos Moro. A meu ver estão talvez entre os 10 melhores, espécie de Top Ten.

JE – O STJD é um tribunal carioca, como muitos críticos falam?
Schmitt —
O STJD já foi sem dúvida um tribunal carioca. E é natural que sediado no Rio, até mesmo por uma questão de custos, isso tenha sido assim. Na atualidade é um tribunal nacional. Existe representatividade de praticamente todas as regiões do Brasil. Na Procuradoria, por exemplo, tenho membros de sete Estados. O Pleno, que apesar de restar composto por apenas nove membros, tem representatividade de cinco Estados.

JE — A tradição dos clubes pesa nas decisões do STJD? O STJD sofre pressão política ou as decisões são essencialmente técnicas?
Schmitt —
Eu tenho que acreditar na tecnicidade das decisões. Aliás, eu e Dr. Alexandre sempre trabalhamos para o reconhecimento do Direito Desportivo como ciência autônoma. E como ciência não há muito espaço para emoções, que devem ficar do lado de fora da sala de sessões. Para o deleite do torcedor, apenas. Agora, não há como negar que a decisão é do ser humano, que mesmo sendo racional, lógico, deve ter sensibilidade, estar impregnado de razoabilidade e com bom senso. 

JE – No caso do Coritiba, que perdeu dez mandos de campo pelos incidentes no Couto Pereira, muitos críticos falaram que se fosse com Flamengo ou Corinthians a pena não seria tão severa. Você concorda com esse tipo de comentário?
Schmitt —
Não concordo porque historicamente vários clubes do eixo Rio-São Paulo perderam vários mandos de campo nesse tempo todo que estou a frente da Procuradoria. Como esses clubes são em maior número e em grau de competitividade mais intensa, normalmente seus atletas e torcedores não apenas praticam mas estão mais expostos a infrações. Uma barbárie como ocorreu naquele episódio independe do escudo do clube. Exigia rigor. A nossa postura sempre foi a mesma. E quer saber? Foi mais uma denúncia nas nossas estatísticas. Vida que segue, e espero que não ocorra mais porque já tive muito desgaste com esses vandalismos em estádios. Quando cheguei no tribunal jogavam de tudo nos campos, invadiam com extrema facilidade as áreas reservadas e de jogo. Hoje, com as penas mais rigorosas e a certeza de que os clubes pagam o preço pelos atos de seus torcedores, a coisa está mais contida.  Esses comentários de protecionismos de clubes paulistas e cariocas apenas reforçam a tese da inferioridade arraigada que temos quando estamos fora dos grandes centros. No esporte, em geral, ou existe investimento, competência e trabalho, ou existe amadorismo, o que trará incertezas de sucesso. A garantia de sucesso depende de vários fatores, sabemos, mas uma gestão profissional ajuda bastante. Veja a revolução que estamos fazendo no Basquetebol. Estávamos fadados a ficar o 4º ciclo fora da Olimpíada (mais de 12 anos) no masculino, mas a nova gestão assumiu em 2009, e com muito trabalho e esforço, conseguiu dar as condições mínimas aos atletas e comissão técnica, e a classificação foi mera consequência. Não tem milagre, ao menos nessa área.

JE — No julgamento desse caso do Coritiba, você afirmou que aqui no Paraná é comum o complexo de vira-lata. Dirigentes distorceram a sua declaração e espalharam na mídia que você chamou o povo paranaense de vira-lata. Como foi esse episódio?
Schmitt —
Temos sim esse complexo. É inegável. A expressão não é minha, mas de Nelson Rodrigues. Não tem relação alguma com o simpático animal e o povo do nosso Estado. A verdade é que somos uma sociedade que ainda não acredita em suas potencialidades. Prefere crer em conspirações. Temos a terceira maior bancada no STJD do Futebol graças a quem? Então eu posso falar de cadeira! Vivemos eu e minha família aqui no Paraná e sei muito bem do que estou falando. Perdemos na composição do STJD apenas para Rio e São Paulo, e ainda se fala em esquemas no tribunal para prejudicar os clubes paranaenses. Isso sem falar do árbitro que na visão míope de alguns sempre prejudica os nossos clubes. Temos muitos juristas de renome no cenário nacional, mas acreditamos em fantasmas quando falamos de futebol. E o que mais decepciona é que quem espalha essas baboseiras tem cada vez mais espaço na mídia local, incendeia o bairrismo, e assim contribui para a violência, infelizmente. Para esses, o complexo de inferioridade, de vira-lata mesmo, é meio para aumentar a audiência local.


CURRÍCULO
Nome: Paulo Schmitt
Idade: 45 anos
Nascimento: Curitiba
Residência: Curitiba
Formação: Direito, na PUC-PR
Funções: Assessor Jurídico das Confederações de Basquete, Ginástica e Handebol; Vice-Presidente da Confederação de Ciclismo; Procurador-Geral do STJD do Futebol; Presidente do STJD do Judô; Membro da Comissão de Estudos Jurídicos do Ministério do Esporte; Sócio-administrador da Práxis Consultoria