Marco Aurelio Jacob/AEN PR

Uma área que ocupa cerca de 30% do Estado do Paraná e atinge mais de 4,5 milhões de pessoas, a Bacia do Rio Iguaçu ganhou mais de 7% de cobertura nativa entre 2000 e 2015 – o equivalente a 164 mil hectares. Este é um dos resultados de um estudo de doutorado realizado na Universidade Federal do Paraná (UFPR) que mapeou os principais aspectos relacionados à floresta e à fixação de carbono na região em 15 anos, com a ajuda de um satélite da Nasa. Os dados apontam para a importância das áreas de matas ciliares, unidades de conservação, terras indígenas e assentamentos, que teriam grande contribuição no processo.

O estudo, conduzido pela pesquisadora Ana Paula Marques Martins, com orientação do professor Carlos Sanquetta, do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Florestal, também mostra que o aumento da cobertura nativa veio acompanhado de um processo de amadurecimento da floresta. Isso significa, de acordo com ela, que há um número maior de espécies raras, muitas vezes endêmicas. “Nesse estágio, a floresta está muito madura e com um ecossistema mais elaborado”, explica. Outro objetivo foi identificar se ela foi fonte de carbono atmosférico, a partir de uma experiência inédita com uma ferramenta desenvolvida no Centro de Pesquisa em Biomassa e Carbono (Biofix), da UFPR.

A bacia do Rio Iguaçu vem sendo monitorada por pesquisadores do laboratório da UFPR. Este estudo começou a partir do interesse da pesquisadora em compreender aspectos relacionados a uma das regiões mais relevantes do Paraná. O Rio Iguaçu é o maior do Estado, com mais de 1300 quilômetros de extensão e sua bacia hidrográfica cobre uma área de aproximadamente 70.800 km². Quase 80% deste montante se localiza na região, ocupando ainda cerca de 28% da área total paranaense, foco da tese.

O fato de compor o Bioma da Mata Atlântica, um dos mais importantes da América Latina, também foi fundamental para que o estudo se inserisse numa problemática mais ampla: compreender o papel das florestas no balanço do carbono atmosférico diante de um cenário de mudanças climáticas. A pesquisa lança um olhar mais detalhado para áreas de matas ciliares, unidades de conservação, terras indígenas e assentamentos que compõem a bacia.

A tese estudou, ainda, a fragmentação da Bacia. A avaliação ocorreu por métricas utilizadas na ecologia da paisagem, com o objetivo de levantar as áreas de vegetação interrompidas por fenômenos como estradas, queimadas, desmatamentos, entre outros. Neste aspecto, a pesquisa indica que houve um aumento na cobertura florestal. “As métricas indicam que há um processo decrescente de fragmentação, mas que a Bacia ainda é muito fragmentada, ou seja, existe um grande número de pequenas porções florestais não conectadas entre si por corredores ecológicos”. Além disso, os fragmentos se encontram sob crescente efeito de borda, o que requer atenção”, sintetiza. Isso significa que estão mais suscetíveis à ação humana, já que é nas bordas que costumam estar as estradas e comunidades.

Como o trabalho foi realizado via imagens de satélite, não é possível compreender exatamente o que essas áreas significam em termos de perda de biodiversidade, mas é possível saber onde estão e o que representam em termos quantitativos – entre 2000 e 2015, por exemplo, os fragmentos estão cerca de 25 metros mais próximos do que estavam, o que pode indicar maior regeneração florestal.

Floresta contribui para minimizar efeitos das mudanças climáticas

Segundo o estudo de Ana Paula, a participação das florestas no ciclo do carbono ainda não é totalmente compreendida, mas se estima que, quando conservadas ou manejadas de modo sustentável, elas são capazes de absorver cerca de 16% do carbono atmosférico. Essa absorção seria importante para a mitigação dos efeitos das mudanças climáticas que atingem o país e o mundo.

A pesquisa reúne dados de estudos de instituições de ensino e pesquisa do Brasil e do exterior sobre a biomassa e o carbono da vegetação para as diferentes formações da Mata Atlântica. “Também foram levantados dados referentes a florestas plantadas. Buscou-se por dados de biomassa ou carbono apenas do componente florestal vivo”, explica, no estudo.

Os dados levantados comprovam que a floresta da Bacia do Rio Iguaçu tem um importante papel na mitigação dos efeitos climáticos. Isso porque, de 2000 para 2015, houve um aumento de 14,3% no estoque de dióxido de carbono, o que significa que a floresta está capturando gases de efeito estufa. “Por volta de 116 milhões de toneladas de dióxido de carbono foram removidos”, pontua Ana.

O papel das unidades de conservação na estocagem de carbono também se mostrou relevante: estas áreas contribuíram com 11,72% do total. Além disso, somadas com as matas ciliares, terras indígenas e assentamentos, chega-se a 19%. Como elas ocupam apenas 9% da área de floresta mapeada, o número chama a atenção. “Representa a importância dessas áreas e dessas políticas de preservação”, aponta a pesquisadora.