Franklin de Freitas/Arquivo Bem Paraná

Como será o mundo após a pandemia da Covid-19? O Instituto Sivis, em parceria com o Programa Cidade Modelo, realizou uma pesquisa sobre os possíveis cenários em Curitiba em um futuro próximo. Para isso, está realizando uma pesquisa de cenários futuros e já coletou a opinião da população por meio de um questionário online que obteve mais de 500 respostas válidas.

Entre os dados preliminares, destacam-se a forte preocupação da comunidade com os impactos econômicos, sobretudo na geração de renda dos mais vulneráveis: para 70,8% dos curitibanos, o maior problema causado pela pandemia é o desemprego ou falta de renda. Além disso, 84,4% acham improvável ou pouco provável que haja aumento das vagas de emprego nos próximos poucos meses; e 76,1% acham muito provável ou apenas provável que haja piora da economia. “O desemprego é visto, de forma generalizada, como o principal problema, mas tende a ser mais relatado por quem tem menor escolaridade”, aponta Thaise Kemer, gerente de Impacto e Pesquisa do Instituto Sivis. A visão pessimista também se revela na saúde, já que 83,2% dos respondentes acham muito provável ou algo provável que haja um colapso no sistema.

Solidariedade e colaboração

Na perspectiva dos moradores de Curitiba, a cultura de solidariedade e colaboração da população tem se sobressaído em relação às políticas públicas: 51,6% dos respondentes notaram iniciativas dos próprios moradores para amenizar os efeitos da pandemia; enquanto que apenas 9,3% relata ter visto assistência do governo estadual, 15,1% da prefeitura e 18,2% do governo federal.

Olhar no futuro, ação no presente

Embora as perspectivas sejam negativas, a proposta da pesquisa é ter dados confiáveis para embasar planos de ação, e minimizar efeitos. “Com base na realidade e no que pode acontecer, poderemos decidir o que fazer para remediar os efeitos negativos e agir para concretizar o cenário mais positivo”, comenta Jamil Assis, Relações Institucionais do Sivis e diretor do Programa Cidade Modelo. A intenção é provocar uma mobilização, envolvendo desde tomadores de decisão, responsáveis por políticas públicas, gestores públicos, lideranças comunitárias, empresas e até mesmo os cidadãos comuns. “Acreditamos na solidariedade e no poder das ações locais; quanto mais próximo da realidade de cada um, maior a chance de engajamento e participação”, afirma.

A pesquisa buscou descobrir qual seria o melhor cenário para a população de Curitiba. Quando perguntados sobre qual é o cenário mais desejável, 34,9% assinalou a cura da Covid-19 como melhor notícia, enquanto 29,51% considera que o mais desejável é a diminuição no número de casos e, consequentemente, fim do isolamento social, enquanto 22,3% deseja o aumento das vagas de emprego. “Mais impactados pelo desemprego, os menos escolarizados tendem a ver a diminuição do número de casos e, consequentemente, o fim do isolamento social como cenário mais desejável, enquanto a cura para a Covid-19 aparece como o cenário mais desejável para os mais escolarizados”, explica Thaise. A preocupação também oscila com a faixa etária: os mais velhos tendem a ver o desemprego como maior problema da pandemia, enquanto entre os mais jovens prevalece a apreensão com a saúde mental.

Metodologia

A metodologia de cenários possíveis é recomendada para situações de crise e incerteza. O levantamento leva em consideração três etapas de coleta de dados. A primeira fase, já concluída, consistiu em entrevistas em profundidade com líderes comunitários e pessoas que vivem nas áreas periféricas de Curitiba, em situação de vulnerabilidades. Essas entrevistas também evidenciam a tensão com aspectos econômicos. “Essa preocupação revela que a atenção da população está centrada nas condições básicas de sobrevivência”, comenta Camila Mont’Alverne, que é pesquisadora no Instituto Sivis.

A segunda etapa da pesquisa consistiu em um questionário online respondido pela população. Na terceira e última etapa de pesquisa, o Instituto Sivis realizará uma experiência de grupo focal online, para provocar o debate entre os participantes. Serão três grupos, compostos por líderes comunitários e representantes de órgãos públicos, empresários e jornalistas.

Ao final da pesquisa, serão traçados cenários futuros para Curitiba e possíveis ações. Os resultados serão anunciados no início de julho.

Sobre o Cidade Modelo

O Programa Cidade Modelo é um laboratório coletivo de cultura democrática que busca fortalecer a participação política por meio da promoção de práticas de confiança e colaboração local. Tendo Curitiba como laboratório, pretende encontrar caminhos e soluções replicáveis, a fim de ampliar o impacto global. Reúne diversas lideranças comunitárias locais para debater e colaborar a favor de soluções conjuntas para a cidade. Saiba mais: www.cidademodelo.org.br