Franklin de Freitas – Petraglia: “Em São Paulo

O presidente do Athletico, Mario Celso Petraglia, divulgou na noite desta quinta-feira (30) uma carta em que alfineta críticos após ter chamado o Santos Futebol Clube de “quebrado”. A declaração havia sido feita na segunda-feira (27), quando o Furacão apresentou o volante Fernandinho.

Na ocasião, o dirigente afirmou que Fernandinho “optou por um clube grande” e disparou ataques. “Os dois gaúchos estão endividados, problema deles, não tenho nada a ver com isso. No Paraná, vocês já conhecem. Santa Catarina não tem representatividade. Em São Paulo, o Athletico passou o Santos de trator. O que significam perto do Athletico? Santos está quebrado. Corinthians e São Paulo baixaram teto porque estão com problemas”, disse Petraglia. “Só o Palmeiras mantém, pelo mecenas que tem. A Leila quer ser campeã do mundo porque é uma piada. Não há projeto maior que o nosso no Brasil. Verão que não é uma falácia o que estou dizendo. É uma realidade. O tempo é o senhor da razão”.

As falas de Petraglia repercutiram mal entre os outros clubes. E o dirigente voltou à carga. “Acredito que seja por isso que uma declaração minha sobre a nova realidade do nosso futebol, motivada por uma pergunta infeliz, tenha causado tanta repercussão, matérias e colunas nos meios de comunicação”, disse o dirigente, na carta. “A tentativa de repetir o passado faz muitos ficarem presos aos seus museus, estátuas, heróis, galerias de troféus e histórias contadas de forma épica em livros e lendas. Essa “propriedade” é passada de dirigente para dirigente, que tentam reafirmar suas tradições sem um projeto, sem um plano que se adapte ao hoje, esquecendo que já no dia seguinte a uma conquista, a busca recomeça”.

Segundo Petraglia, para a maioria dos dirigentes, “a tradição justifica insanidade financeira, proselitismo e imediatismo em nome de uma grandeza”. Para ele, isso não é sustentável. “Usam o passado como referendo para quaisquer iniciativas para manter o esplendor, custe o que custar. Quando percebem, estão em terra arrasada”, afirmou. “O Santos Futebol Clube tem uma das histórias mais bonitas do futebol mundial. Mas Pelé não joga mais”.

A íntegra da carta de Petraglia.

“Tudo muda. Tudo passa. Tudo se renova. Não há como ir contra a verdade inexorável da vida, embora seja da natureza humana a busca pela manutenção e pela permanência, mesmo que os fatos não sustentem mais tudo o que se foi no passado. Tenho consciência disso. E me expresso a partir dessa percepção.

Acredito que seja por isso que uma declaração minha sobre a nova realidade do nosso futebol, motivada por uma pergunta infeliz, tenha causado tanta repercussão, matérias e colunas nos meios de comunicação. Uma delas, inspirada em versos de Cazuza, fala sobre “mentiras sinceras”. Também me inspiro nos versos do poeta para dar mais uma contribuição ao debate sobre a realidade do nosso futebol.

A tentativa de repetir o passado faz muitos ficarem presos aos seus museus, estátuas, heróis, galerias de troféus e histórias contadas de forma épica em livros e lendas. Essa “propriedade” é passada de dirigente para dirigente, que tentam reafirmar suas tradições sem um projeto, sem um plano que se adapte ao hoje, esquecendo que já no dia seguinte a uma conquista, a busca recomeça.

Para a maioria, a tradição justifica insanidade financeira, proselitismo e imediatismo em nome de uma grandeza. Nada que seja sustentável, pensando no futuro da instituição que defendem. Usam o passado como referendo para quaisquer iniciativas para manter o esplendor, custe o que custar. Quando percebem, estão em terra arrasada.

Eu sou um cara cansado de correr na direção contrária. Mas essa rebeldia é o que sempre me motivou. Pois há muito a fazer, não só pelo Athletico Paranaense, mas pelo futebol brasileiro. O que disse foi interpretado como desrespeito, como se eu tivesse o poder de apagar a história da cabeça das pessoas. Mas, ao invés disso, acredito que é possível construir uma nova história a cada dia. E ela passa pela reconstrução da nossa “piscina”, roída por anos de corrupção e desagregação.

Por respeito ao futebol brasileiro, e por tudo aquilo que nós construímos no Furacão e que serve de modelo para muitos clubes no Brasil e no mundo, não posso deixar a sinceridade de lado. Neste caso, penso que, mais do que um insulto, foi uma contribuição. Que se discuta o futuro, que as verdades inconvenientes sejam ditas, que cada um retire os ratos de suas piscinas. Que tenhamos a capacidade de nos unir pelo bem do futebol como um todo, que está tomado por violência, clubismo e sectarismo. Que as disputas sejam só nos campos e que todos tenham voz. Enfim, que pensemos no futuro por um futebol brasileiro forte.

O Santos Futebol Clube tem uma das histórias mais bonitas do futebol mundial. Mas Pelé não joga mais. O Petraglia também um dia sairá de cena, pois a única verdade certa é que um dia não estaremos mais aqui.

No Athletico Paranaense, temos construído uma história muito bonita e vitoriosa, mas desenhando o futuro ao mesmo tempo, o que dá muito mais trabalho. Esta é a verdade que faz o Furacão voar cada vez mais alto. E muitos ainda estão aprendendo a lidar com ela”.

Mario Celso Petraglia

Presidente do Conselho Administrativo”