Franklin Freitas

A Polícia Federal (PF) autorizou nesta quinta-feira (25) a entrada de determinados jornalistas para acompanhar entrevista que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deve conceder nesta sexta (26) com exclusividade aos jornais Folha de S.Paulo e El País. Os dois veículos haviam solicitado as entrevistas à Justiça Federal do Paraná, que negou os pedidos, feitos no ano passado. O Supremo Tribunal Federal (STF), porém, autorizou os encontros com os dois jornalistas, Mônica Bérgamo (Folha) e Florestan Fernandes (El País). 

Ao abrir a entrevista, por decisão do superintendente da PF em Curitiba Luciano Flores de Lima, a PF enviou e-mail convidando para um “pré-cadastro” apenas jornalistas pré-selecionados, como do site “O Antagonista”. Repórteres de agências de notícias, como Reuters; e jornais como Le Monde, e diversos outros, acostumados a receber diariamente comunicados da PF, não foram convidados ao pré-cadastro. 

Questionada em grupos de Whatsapp mantidos pela PF desde o início da Operação Lava Jato em 2014, a assessoria da PF não se manifestou sobre os critérios de escolha para o convite. A maioria dos jornalistas não recebeu o e-mail. 

Prezado(a), Não se tratará propriamente de uma coletiva de imprensa, porém, jornalistas pré cadastrados poderão participar da entrevista, embora só poderão realizar suas perguntas se autorizado pelo entrevistando Sr. Luís Inácio Lula da Silva. O pré cadastramento poderá ocorrer até às 17h de hoje, 25/04, por meio do endereço eletrônico da Comunicação Social da PF em Curitiba, xxxx@dpf.gov.br e xxx@dpf.gov.br A quantidade de jornalistas a participar da entrevista dependerá da logística interna e segurança orgânica institucional”. Comunicação Social da Polícia Federal Superintendência Regional Curitiba – Paraná 41-3251-xxxx“, diz o e-mail recebido por jornalistas selecionados. 

Embora o prazo do pré-cadastro termine às 17 horas desta quinta, dezenas de jornalistas que cobrem informações da PF diariamente em Curitiba não haviam recebido o comunicado até o meio da tarde.  

A defesa do ex-presidente já recorreu ao STF contra a decisão do PF de abrir a entrevista. (leia o documento)

A assessoria de imprensa de Lula publicou nota contra a decisão do superintendente. “A decisão também desrespeita o trabalho dos jornalistas e dos veículos de comunicação que há oito meses obtiveram autorização para entrevista na época das eleições, ou seja, o El País e a Folha de S. Paulo, entrevistas que ficaram suspensas por oito meses devido a uma decisão liminar cassada na semana passada. A Superintendência da Polícia Federal no Paraná determinou a constituição de uma plateia para jornalistas convidados por ela própria para assistir a entrevista sem direito de fazer perguntas. A decisão viola primeiro a decisão do Supremo, já que as entrevistas devem acontecer com anuência do ex-presidente, e também os jornalistas, a prática e a ética jornalística ao permitir que profissionais de outros veículos assistam entrevistas exclusivas para outras publicações e publiquem antes uma entrevista pela qual os outros veículos lutaram na justiça por meses”, diz a nota.

“O ex-presidente Lula encontra-se a disposição para dar entrevista para a Folha de S. Paulo e para o El País, conforme decisão obtida por eles junto ao Supremo Tribunal Federal”, conclui a assessoria de Lula.

Na última quinta-feira, o ministro Dias Toffoli, o presidente do STF, liberou Lula para dar entrevistas aos veículos de imprensa que pediram autorização para falar com ele na prisão. Em setembro do ano passado, o ministro Luiz Fux suspendeu uma liminar concedida pelo ministro Ricardo Lewandowski que autorizava a Folha a entrevistar Lula na prisão. Fux não apenas cassou a permissão como disse, em sua decisão, que, se a entrevista já tivesse sido realizada, sua divulgação estaria censurada, estabelecendo uma censura prévia que é expressamente proibida pela Constituição.