Depois da prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a expectativa de grande parte da população brasileira era conferir se a Operação Lava Jato iria de fato avançar contra outros partidos, em especial o PSDB e o PMDB. 

O esboço inicial, inclusive, apontava nesse sentido. Com muitos políticos renunciando aos seus cargos para participarem das eleições deste ano, abriu-se a brecha para avançar as investigações contra pessoas até então com foro privilegiado. 

Num primeiro momento, o cerco pareceu começar a fechar em volta de Geraldo Alckmin, ex-governador de São Paulo. Na última terça-feira, o braço paulista da Lava Jato pediu, "com urgência", que o inquérito contra o tucano fosse encaminhado à primeira instância.

Ontem à tarde, porém, a Procuradoria-Geral da República tratou de fazer uma tabela com o Superior Tribunal de Justiça (STJ) para livrar a cara do 'Santo' – apelido dado ao presidenciável pela Odebrecht nas planilhas de repasses feito pelo departamento de operações estruturadas, que na verdade era o departamento de propinas da empreiteira.

A manobra foi liderada pelo procurado Luciano Mariz Maia, número dois de Raquel Dodge. Ao STJ, ele sustentou que os crimes do tucano se limitavam à prática e caixa dois. A ministra Nancy Andrighi comprou a ideia e mandou o inquérito para a Justiça Eleitoral, deixando a Lava Jato a ver navios.

De acordo com o colunista Bernardo Mello Franco, do Jornal O Globo, a manobra surpreendeu a Lava Jato paulista, que até ontem não havia conseguido entender direito o que tinha acontecido, uma vez que o caso tramita em sigilo.

Ao ser acusado de caixa dois, o tucano não será denunciado com base no Código Penal, mas no Código Eleitoral. Com isso, não será preso e dificilmente chegará a ser condenado. Na prática, ganhou um salva-conduto para fazer campanha sem a polícia atrapalhar.

Alckmin é acusado de receber R$ 10,7 milhões nas campanhas eleitoral de 2010 e 2014, cerca de quatro vezes o valor de um triplex no Guarujá. O delator Carlos Armando Paschoal afirma que o cunhado do 'Santo' era responsável por receber os repasses, cujos valores saíam dos custos das obras públicas do governo paulista.