SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A promessa eleitoral do futuro governador de São Paulo, João Doria (PSDB), de criar 17 batalhões da Polícia Militar com ‘padrão Rota’ esbarra no risco de desfalcar o policiamento de área e na preocupação de especialistas de aumento no índice de pessoas mortas pela PM.

De olho no discurso linha-dura, similar ao de Jair Bolsonaro (PSL), Doria prometeu expandir a atuação similar à da tropa de elite da PM, a Rota -batalhão também criticado pela alta letalidade.

A ideia é ter (Baeps) Batalhões de Ações Especiais de Polícia, com equipes ostensivas para casos que envolvam criminosos fortemente armados, como roubos de carga e de banco, comuns no interior.

A promessa envolve a mobilização de um efetivo entre 3.000 e 5.000 policiais, esbarrando na defasagem da tropa e também na verba limitada.

A futura gestão fala em contratação de novos policiais e até mesmo de recontratar aposentados para conseguir viabilizar sua proposta. Embora oficialmente diga que a proposta será implementada em quatro anos, o tucano já sondou oficiais sobre a possibilidade de criar todos os batalhões em 2019, tarefa considerada praticamente impossível pelos policiais.

As cidades que receberão os batalhões ainda estão sendo definidas por Doria e o novo secretário da Segurança Pública, o general do Exército João Camilo de Campos.

A ideia de expandir os batalhões gerou tensão ainda na campanha eleitoral, quando um ex-secretário nacional da Segurança Pública, coronel reformado da PM José Vicente da Silva, deixou a equipe de conselheiros de Doria por discordar da proposta.

“É um conceito equivocado, porque não há demanda para esses batalhões. Quem faz a proteção mais efetiva não é policia especial, é a polícia territorial [patrulhas comuns]”, afirma Silva.

Na opinião dele, esse tipo de batalhão especial, além de roubar policiais das patrulhas, pode acabar gerando atrito com as tropas que fazem o policiamento rotineiro.

O coronel da reserva da Polícia Militar Glauco Carvalho, que já foi o comandante de policiamento da capital, concorda com Silva. “Você corre um sério de risco de desprestigiar ainda mais quem faz o policiamento de rua”.

Ele afirma que, para viabilizar a proposta, Doria pode acabar centralizando as Forças Táticas (setor já responsável pelo policiamento ostensivo nos batalhões) em um novo quartel.

“A desvantagem é que, ao invés de descentralizar, você acaba criando uma centralização contrária às propostas internacionais de policiamento. Além disso, tira autonomia do comandante territorial, que vai perder uma força importante [a Força Tática]”, afirma.

Atualmente, de acordo com o Diário Oficial, a PM paulista tem 88.319 policiais, contabilizando o Corpo de Bombeiros e o corpo burocrático. O número previsto é de 93.802, uma diferença de 5,48 mil, mas a equipe de Doria fala numa defasagem ainda maior, de 12 mil policiais.

O processo de formação de um policial militar paulista não é simples: dura um ano. De acordo com o governo estadual, há 2.500 policiais em formação, além de 2.200 que começarão o curso de formação neste mês.

No entanto, além do déficit, esse efetivo por chegar terá de cobrir o buraco deixado por milhares de policiais que se aposentam anualmente.

Outra questão que envolve qualquer aumento do grupo de policiais é o orçamento. Para o próximo ano, o valor previsto para a pasta de segurança R$ 21,9 bilhões é ligeiramente menor do que o estimado para este ano –R$ 22,1 bi, em valores corrigidos.

Um risco adicional levantado pelos especialistas em segurança é o aumento da letalidade trazido pelos batalhões especializados. “Vai ter que se criar mecanismos estritos de controle policial para evitar descontrole sobre esses efetivos”, afirma o coronel Glauco. “Os Baeps, se não tiverem comandantes muito comprometidos com o serviço público e com o profissionalismo, você acaba tendo problemas de indisciplina e violência policial”.

Atualmente, policiais militares do Baep de Campinas têm a conduta investigada devido a morte de oito homens em um suposto tiroteio. Os mortos eram suspeitos de integrar uma quadrilha de roubos de caixas eletrônicos.

Os policiais envolvidos nesse caso foram afastados do trabalho de rua.

O número de pessoas mortas pelas polícias paulistas vem crescendo e bateu recorde em 2017, com 940 casos -o pico dos últimos 25 anos, superado apenas pelos 1.470 óbitos de 1992, quando o dado ainda não incluía pessoas mortas por policiais fora de serviço.

O futuro secretário da Segurança da gestão Doria, general Campos, afirmou neste mês que ninguém “mata por matar” e que o assunto será tratado caso a caso.

A assessoria de Doria nega que a criação dos batalhões afete o policiamento convencional. “Não faltará efetivo para o tradicional policiamento de rua e não há possibilidade de conflito entre o policiamento convencional e a ação dos Baeps uma vez que são destinados para diferentes fins”, diz, em nota.

Segundo a equipe do tucano, além de novas contratações e de recontratação de veteranos, haverá remanejamento de policiais. “Os homens que hoje são imobilizados em serviços burocráticos e escolta de presos serão, gradativamente, realocados nos batalhões a medida que as teleconferências forem implantadas”, diz o comunicado.