SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Cresceu em todo o mundo o ódio contra jornalistas, principalmente graças a atitudes e declarações de políticos e de autoridades em democracias. A conclusão está na edição 2018 do Ranking Mundial da Liberdade de Imprensa, da ONG Repórteres Sem Fronteiras.
Publicado desde 2002 para avaliar a liberdade de informação em 180 países, o estudo destaca que é cada vez maior o número de chefes de Estado eleitos que veem a imprensa "não como um fundamento da democracia, mas como um adversário contra o qual demonstram aversão".
Esse cenário é agravado pela conduta de Donald Trump, presidente dos Estados Unidos (em 45º lugar, que caiu duas posições em relação a 2017).
Trata-se, afinal, do "país da primeira emenda", menciona a organização, em referência à disposição da Constituição americana em favor da liberdade de imprensa.
"Adepto do 'media bashing' (ataques à mídia) sem escrúpulos", diz o relatório, Trump costuma chamar repórteres de "inimigos do povo". A prática, lembra a RSF, repete expressão usada pelo ditador soviético Josef Stálin (1878-1953).
O texto conclui que "A hostilidade em relação aos meios de comunicação não é mais privilégio de países autoritários, como a Turquia (157º, queda de 2 postos) ou o Egito (161º, igual)".
Nesses países, governantes chegaram a acusar de terrorismo jornalistas e veículos críticos às suas gestões.
Outros exemplos negativos citados são Filipinas (133º, menos seis postos), onde o presidente Rodrigo Duterte afirmou que ser jornalista "não protege contra assassinatos", e a Índia (138º, menos dois postos), onde o discurso de ódio contra repórteres é disseminado nas redes sociais.
Também houve agravamentos na Europa. Em Malta (65º, queda de 18 postos), a RSF lembrou o assassinato da repórter Daphne Caruana Galizia após a explosão de seu carro, em outubro de 2017.
Ela participava das investigações internacionais conhecidas como Panama Papers, sobre fraudes fiscais trazidas à tona após o vazamento de registros de um escritório de advocacia panamenho.
Na República Tcheca (34º, menos 11 postos), o presidente Milos Zeman foi a uma coletiva de imprensa em 2017 com um rifle falso no qual se lia "para os jornalistas".
Já na Eslováquia (27º, menos dez postos), o ex-premiê Robert Fico acostumou-se a chamar jornalistas de "prostitutas imundas antieslovacas".
O primeiro lugar no ranking continuou a ser a Noruega, e a última posição segue ocupada pela Coreia do Norte.
Apenas 9% dos 180 países analisados têm situação considerada "boa" em termos de liberdade de imprensa, contra 12% em situação "muito grave".
Na América Latina, o diagnóstico da RSF opõe "uma ligeira melhora" a "persistentes violências, impunidade e medidas autoritárias".
O melhor país da região é a Costa Rica (10º, quatro postos a menos), descrita como possuidora de "exercício relativamente livre da profissão e legislação avançada em matéria de liberdade de imprensa".
Na outra ponta, o pior país da região é Cuba, que segue na 172ª posição graças ao "monopólio quase absoluto sobre a informação" e ao silenciamento de vozes dissidentes.
A queda mais acentuada se deu na Venezuela (143ª posição, seis postos a menos), onde, diz o relatório, imprensa de oposição e correspondentes internacionais são alvos recorrentes da polícia.