SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Muitos filmes têm na trilha sonora grande parte de sua identidade. É fácil reconhecer os trompetes inicias do tema de “Star Wars”, os violinos sincronizados de “E.T. – O Extraterrestre” ou o grave violoncelo que dá o clima de suspense a “Tubarão”. Isso só para citar trilhas criadas por John Williams, referência da música de cinema.

Explorando a relação entre som e imagem, um novo tipo de entretenimento -que na verdade remete aos primórdios do cinema, quando os filmes mudos eram acompanhados de pianistas- tem se popularizado na última década e agora começa a tocar suas primeiras notas no Brasil.

Trata-se dos cineconcertos, sessões de cinema em que a trilha sonora é executada ao vivo. Para isso, é necessário isolar as vozes e outros efeitos sonoros da parte musicada de um longa ou curta-metragem.

Por aqui, a moda foi inaugurada por “Harry Potter in Concert”, que aconteceu no Allianz Parque em março, mas foi marcado por problemas técnicos. Procurada, a CineConcerts, empresa americana que já rodou 48 países com esse e outros filmes, não quis comentar o caso.

Agora, outros produtores tentam popularizar os cineconcertos em solo brasileiro. Entre eles está Túlio Moura, da W+ Entertainment, produtora de “La La Land in Concert”, que acontece no Espaço das Américas neste domingo (16) e na segunda (17) e no Auditório Araújo Vianna, em Porto Alegre, na sexta (21).

Para montar o espetáculo, Moura recebeu uma equipe estrangeira apontada pelo estúdio do filme, e apostou suas fichas no maestro Adriano Machado, ex-violinista de orquestras como a Osesp.

Em “La La Land in Concert”, ele vai comandar 50 músicos da Orquestra Simphonica Villa-Lobos, criada por ele em 2000, e uma banda de jazz.

“Lá fora esses espetáculos são muito tradicionais. No Reino Unido, há turnês que passam por dez, 15 cidades, com ingressos esgotados. É um mercado consolidado nos Estados Unidos, Austrália e partes da Europa e Ásia”, analisa Moura, também responsável pelo concerto de “Jogos Vorazes”, previsto para maio.

Ao lidar com filmes de apelo popular, esse tipo de entretenimento apresenta música clássica para quem não está familiarizado com o gênero. É por isso que Ricardo Appezzato, coordenador artístico da Santa Marcelina Cultura, associação que administra a Emesp, vê potencial no setor.

“Mas é preciso ter cuidado”, pondera. “Essas trilhas sonoras são muito ricas, mas eventos desse porte podem acabar não dando o devido respeito à música. É um nicho que está aparecendo, mas é preciso profissionalizá-lo”, diz.

No começo do ano, Appezzato foi responsável por promover sessões de curtas de Charles Chaplin com acompanhamento da Orquestra do Theatro São Pedro. A programação deve ser repetida e incrementada em março, enquanto os planos para 2020 incluem títulos de Luis Buñuel.

“Pensando em como o cinema começou, essa relação de imagem e música ao vivo faz muito sentido, então eu acho que esses cineconcertos vieram de fato para ficar”, diz. 

Representante da Yellow Eventos, Leonardo Réa Le acredita que o setor está se aprimorando, mas cita o pioneiro “Harry Potter in Concert” como um exemplo a não seguir. “Os equipamentos de som ficavam à mostra, os músicos estavam na frente da tela e a orquestra era menor que o necessário, então a linguagem ficou comprometida.”

Em julho, ele traz a turnê “O Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel in Concert”, que terá 93 instrumentistas e coro com 150 vozes. A ideia é, no futuro, produzir cineconcertos do resto da trilogia e, no segundo semestre de 2019, exibir “O Poderoso Chefão”. “É um desafio artística e comercialmente falando”, diz.

“Nós aperfeiçoamos o teatro musical em São Paulo e acho que os cineconcertos podem passar por algo parecido. Se os produtores cumprirem as regras, podemos ter algo incrível, até porque estamos lidando com filmes icônicos.”

A opinião é compartilhada pelo maestro da Orquestra Sinfônica Municipal, Roberto Minczuk, que comandou disputados concertos com trilhas de John Williams e de filmes de Stanley Kubrick em 2018, no Theatro Municipal.

“Existe uma demanda tanto interna, dos artistas, que querem tocar essas trilhas sonoras, quanto externa, porque é algo que o público adora. Essas músicas são de grande valor e eu espero que isso continue aqui no Brasil, porque acontece cada vez mais nos principais palcos do mundo inteiro”, avalia.

Próximos cineconcertos em São Paulo:

La La Land in Concert – 16 e 17/12

Call Me by Your Name in Concert – 17/3

Jogos Vorazes in Concert – 19/5

O Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel in Concert – 5 a 7/7

O Poderoso Chefão – segundo semestre de 2019