No dia 28 de junho, o Ministério da Saúde não recomendou preliminarmente a inclusão de um medicamento que trata o diabetes, prevenindo a perda de visão em pacientes portadores da doença. Segundo a Organização Mundial da Saúde, são mais de 16 milhões de brasileiros que sofrem com diabetes. Caracterizada pelo acúmulo de glicose na corrente sanguínea, a doença é um dos principais problemas de saúde pública – não só no Brasil, mas em todo o mundo. Isso porque a enfermidade leva à Retinopatia Diabética que é a principal causa de perda de visão nesses pacientes.

As complicações podem ocorrer em qualquer pessoa com diabetes, em especial em casos nos quais a doença não é controlada adequadamente, o que infelizmente é uma realidade muito comum no Brasil. As dificuldades começam já no diagnóstico. A enfermidade é silenciosa e costuma dar sinais somente em estágio avançado. Por isso, muitos pacientes só descobrem a condição quando manifestam sintomas graves como o infarto do miocárdio ou primeiros sintomas de perda parcial da visão.
O Edema Macular Diabético (complicação da Retinopatia Diabética) acomete pacientes em idade produtiva3 que acabam seguindo para aposentadoria precoce, gerando impacto não programado na Previdência Social. Cerca de 7% dos diabéticos com mais de 18 anos são atingidos pela maculopatia. Quando não têm o diagnóstico ou o tratamento, aproximadamente a metade deles pode perder a visão de forma importante em dois anos e evoluir para a perda da mesma. Muitos chegam a este estado porque não encontram centros de saúde onde podem ser avaliados na periodicidade certa e não têm acesso ao medicamento correto para tratamento. Não é à toa que, no Brasil, estima-se que a perda total de visão pode chegar a quase 5% dos pacientes.

Existem tratamentos altamente eficazes que poderiam evitar o desfecho trágico da cegueira. Entre outros tratamentos disponíveis como fotocoagulação a laser e os corticosteroides. A primeira linha tratamento mundialmente utilizada é a de agentes anti-VEGF que evitam a formação de vasos sanguíneos, atuando, desta forma, na principal causa da doença. Eles possibilitam não só que a enfermidade pare de progredir, como também que o paciente tenha ganhos na visão.6 Em decisão preliminar, o Ministério da Saúde acaba de negar a inclusão desse tratamento no sistema público SUS, mesmo sendo obrigatória para rede privada de saúde, reconhecendo que o produto é eficaz na redução dessa cegueira, por alegar não ter recursos para estender este tratamento para rede pública de saúde.

A ciência está fazendo sua parte ao continuar trazendo aos pacientes recursos eficientes e que valem a pena ser usados, inclusive do ponto de vista econômico. Hoje, o tratamento com o medicamento anti-VEGF, custa em torno de R$ 12 mil ao ano por paciente no 1º ano de tratamento que é o mais caro. No 5º ano de tratamento, esse custo cai para aproximadamente R$5 mil, segundo análise do dado publicado no site da CONITEC, sobre a tecnologia que acaba de ser ofertada. Um doente cego custa ao Governo anualmente mais do que 3 vezes esse valor: cerca de R$ 37 mil.7, embora o custo social e na qualidade de vida do paciente que perdeu a visão por conta da doença seja incomensurável.

Por tudo isso, em todos os ângulos de análise, é inaceitável que as autoridades públicas fujam das suas responsabilidades da oferta de tratamentos mundialmente reconhecidos como mais eficazes, colocando-as em risco de passarem o resto da vida na escuridão.

Prof° Dr. Fadlo Fraige Filho – Presidente da Associação Nacional de Atenção ao Diabetes ANAD