Falar sobre suicídio ainda é um tabu na sociedade, mesmo diante da estatística de que a cada 40 segundos uma pessoa tira a própria vida no mundo. No Brasil, os dados também são alarmantes, sendo registrados cerca de 32 suicídios por dia. Entre os jovens, de 15 a 29 anos, essa é a segunda causa de morte e a maior incidência são entre os homens.
Infelizmente ainda existe muita desinformação sobre o tema, já que esses índices continuam aumentando ano após ano. Para ser ter ideia, entre 2000 e 2016, os registros de suicídio no Brasil saltaram de cerca de 7 mil para 12 mil casos, um aumento de 73%. Em termos mundiais, anualmente são mais de um milhão de vidas perdidas, dados que ultrapassam o número de mortes por homicídios e guerras.

O que todos esses dados têm a nos dizer? Eles demonstram que ainda precisamos avaliar profundamente esse problema e tentar agir na causa, pois a maioria dos casos estão relacionados a transtornos mentais comuns, sendo a depressão a quarta maior causa de suicídio entre os jovens.
Diante desse quadro, é preciso investir fortemente em políticas públicas estruturadas para evitar a perda de vidas. Também é necessário ter um amadurecimento por parte da sociedade para falar abertamente sobre o assunto. Não podemos fingir que nada acontece e forçar as pessoas a esconderem suas frustações e tristezas.

O problema é que ainda existe uma grande pressão cultural para demonstrar uma vida feliz e bem realizada. Isso só traz ainda mais carga negativa para quem está passando por um momento de luta emocional, pois, às vezes, existe uma cobrança própria de esconder o problema. Então, essas pessoas passam a sofrer sozinhas e não admitem ou enxergam que precisam buscar ajuda e suporte emocional.
Além disso, também é preciso analisar o impacto do suicídio na vida das pessoas que estão próximas à vítima e a forma como isso poderia ter sido evitado. Pois um indivíduo em sofrimento, por mais que tente esconder, ele acaba dando sinais de que as coisas não vão bem.

Nesse sentido, amigos e familiares são as pessoas que podem perceber com maior facilidade essas manifestações. Muitos comportamentos podem ser expressados de forma verbal e por meio de conduta fora do padrão, geralmente, as duas coisas surgem ao mesmo tempo. É preciso que as pessoas próximas fiquem atentas, se isso for recorrente, pode ser um sinal de alerta.
Outra preocupação que os familiares precisam ter, é a maneira como será tratada essa mudança de comportamento, não reprimindo ou encarando isso como um tipo de chantagem emocional. Na verdade, esse é um pedido de socorro, pois o indivíduo em sofrimento já não consegue avaliar a situação de maneira clara e racional.

Tudo isso pode também transparecer por meio de sentimentos como a falta de esperança com o futuro, sentimento de culpa pela visão negativa da vida e baixa autoestima. Por outro lado, em alguns casos, é possível interpretar a variação repentina de humor como uma barreira que o indivíduo criou para não querer demonstrar o problema.

Nesses casos, é preciso oferecer ajuda, cuidado e apoio emocional. Como indivíduos, devemos levar a dor do outro em consideração, mesmo sem compreender completamente o que ele sente. Escutar esse apelo, mesmo que mudo, do próximo. Ter consciência do quão devastador o problema pode ser na vida emocional. Acolher, sem julgamentos, é o que podemos fazer de mais humano àqueles que amamos. Precisamos ser mais receptivos para escutar sem criar juízo de valor.

Aline Pasiani é médica de família da Implus Care