Rovena Rosa / Agência Brasil – Bruno Covas: vítima de câncer

A vida pública foi a escolha natural e até mesmo esperada para Bruno Covas Lopes, que, ainda adolescente, passou a “beber da fonte” ao decidir morar com o avô em São Paulo. O ex-governador Mário Covas não só ensinou o neto a gostar de política como o colocou numa trajetória eleitoral vitoriosa encerrada de forma precoce. Aos 41 anos, o prefeito de São Paulo morreu por complicações de um câncer na manhã de ontem, no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo. O tucano deixa o filho Tomás, de 15 anos.

O velório de Bruno Covas foi realizado na Prefeitura de São Paulo, em cerimônia restrita a 20 convidados. Ao fim, o caixão foi transportado em um caminhão do Corpo de Bombeiros, passando pela Avenida Paulista, com destino a Santos, onde o prefeito foi sepultado.

Fazia um ano e meio que Covas lutava contra a doença que também matou o avô, em 2001 — ma que no, caso dele, atacou o cérebro. Na época, Bruno tinha 20 anos e já se preparava para assumir a herança política da família. Cinco anos antes, havia trocado sua casa em Santos, no litoral paulista, pelo Palácio dos Bandeirantes para concluir os estudos na capital.

Inteligente e determinado, foi aprovado em duas faculdades ao mesmo tempo: Direito, na USP, e Economia, na PUC. Formou-se nas duas em um período de oito anos, época em que passou a experimentar seu potencial político em grêmios estudantis e dentro de seu partido.

Antes de comandar a maior cidade da América Latina, Bruno foi eleito deputado estadual por duas vezes, deputado federal e vice-prefeito. Assumiu o posto de prefeito com a renúncia de João Doria (PSDB), em 2018, e depois se reelegeu como cabeça de chapa. Bruno, vice na chapa vencedora de 2016, ganhou a eleição de novembro em segundo turno, com 3,1 milhões de votos.

Ao contrário do avô, Bruno nunca foi um orador explosivo ou um político midiático. Pelo contrário. Tímido e disciplinado, o prefeito sempre calculou bem as palavras e seguiu o script determinado dentro ou fora de uma campanha eleitoral.

Sem colecionar inimigos e com respaldo popular, Bruno estava no auge de sua carreira política. A eleição havia lhe dado confiança para começar a impor seu modo de governar e traçar o futuro. Diferentemente de Doria, considerava-se “PSDB raiz”.

Mas os planos como prefeito eleito só duraram dois meses. Em fevereiro, os médicos de Covas descobriram novos tumores e a quimioterapia recomeçou. Dois meses depois, outros exames indicaram metástase nos ossos. Debilitado, precisou tratar complicações como água no pulmão e sangramento na cárdia. Toda a evolução da doença foi exposta aos eleitores de forma transparente. Já com dores e cada vez mais debilitado, o tucano pediu licença do cargo no último domingo, 2.

Governador Ratinho Jr manifesta pesar

O governador Ratinho Junior (PSD) manifestou imenso pesar pela morte do prefeito de São Paulo, Bruno Covas, ocorrida ontem. Covas tinha 41 anos e foi vítima de câncer, doença contra a qual lutava desde 2019. “Nossas condolências à família, amigos e à população paulistana. Os nossos corações e orações estão juntos neste momento de profunda dor e tristeza. Que a fé que sempre guiou a família Covas os ampare e dê forças para enfrentar este momento tão difícil”, disse o governador.

Outras personalidades do mundo político tambem se manifestaram. “Com ele vai embora parte da nossa esperança”, disse o ex-presidente Michel Temer. “Perdem o PSDB e a prefeitura de São Paulo”,, disse o ex-presidente Ferbando Henrique Cardoso. No Twitter, o presidente Jair Bolsonaro prestou solidariedade à família.

Vice em SP, Ricardo Nunes assume a prefeitura

A morte precoce de Bruno Covas (PSDB) deu ao agora prefeito Ricardo Nunes (MDB), de 53 anos, um mandato praticamente completo à frente da prefeitura de São Paulo. Ao assumir o comando da cidade de forma definitiva quatro meses após a posse da chapa vencedora das eleições do ano passado, o ex-vereador terá pela frente três anos e sete meses para criar e apresentar à população seu modo de governar. Sem pressa. A única meta definida neste momento é a de não promover grandes mudanças na equipe nem nos projetos atuais.

Assim como os auxiliares mais próximos do tucano na Prefeitura, Nunes sabia que Covas já havia entrado na fase de tratamento paliativo do câncer. Não se falava mais em cura, mas em sobrevida. O avanço rápido da doença nas últimas semanas, no entanto, pegou todos de surpresa.