Franklin de Freitas – Lixo orgânico: com isolamento

Em meio à pandemia do coronavírus, a produção de lixo domiciliar e a coleta de resíduos nos trabalhos de varrição em Curitiba tiveram queda considerável no mês de abril. Os dados da Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SMMA), apontam uma redução de aproximadamente 12% na Capital, que estaria relacionada à menor circulação de pessoas e também à perda de poder aquisitivo da população.

Em abril de 2019, por exemplo, a média diária de produção de lixo na cidade, considerando a coleta domiciliar e a varrição, foi de 1.355,33 tonelada por dia. Já neste ano, também em abril, a média foi de 1.210,94 tonelada por dia até o dia 23, o que significa uma queda de 11,92%. Se considerado o acumulado do ano, temos que em 2018 foi recolhido diariamente, uma média 1.638,68 tonelada de lixo. Em 2019 houve uma pequena redução, com 1.631,05. Já em 2020, desde o início do ano até o dia 23 de abril, essa média diária foi de 1.330,85 — queda de 18,4% na comparação com o ano anterior.

De acordo com Edelcio Marques dos Reis, diretor de Limpeza Pública da Capital, três fatores ajudam a explicar o resultado. Um deles é a adesão ao isolamento social, que reduziu o número de pessoas que moram em outros municípios da RMC e circulam por Curitiba e também resultou no fechamento ou redução das atividades de bares, lanchonetes e restaurantes, costumeiramente grandes geradores de resíduo orgânico.

Outro ponto é a perda de poder aquisitivo das famílias, que consequentemente tiveram de reduzir a aquisição de produtos alimentícios. Por fim, Reis ainda destaca a redução do desperdício. “As pessoas estão jogando menos coisas fora, aproveitando melhor o que tem em casa, e também observamos a forte adesão da população ao isolamento social em abril”, afirma o diretor de Limpeza Pública.

Interessante notar ainda que, ao mesmo tempo em que Curitiba registrou uma redução drástica na geração de resíduos em abril, por outro lado os principais municípios vizinhos viram a produção de lixo aumentar. “Percebemos que na Região Metropolitana, pelo menos nas oito maiores cidades, houve aumento médio de 6,35%, conforme fontes do Conresol [Consórcio Intermunicipal para Gestão dos Resíduos Sólidos Urbanos]. Ou seja, as pessoas que deixaram de gerar resíduo aqui passaram a gerar nos seus municípios, então houve esse aumento”, diz Reis.

Para a Capital, porém, já no mês de maio a situação da geração de lixo começa a mudar. Com muitos estabelecimentos reabrindo as portas e algumas pessoas retornando às atividades corriqueiras, a expectativa é que o mês feche com uma queda de aproximadamente 1,58% na produção de lixo, em comparação com maio do ano anterior. “Em maio já temos mais pessoas circulando, diversas atividades voltando a funcionar. Mas mesmo assim projetamos uma quantidade de lixo menor em relação a maio do ano passado”, finaliza Reis.

Coleta de recicláveis cresce 20% na Capital

Se a geração de resíduos em geral apresentou queda em abril, por outro lado a quantidade de recicláveis coletados pelas equipes de limpeza de Curitiba teve aumento de aproximadamente 20%, passando de 1,6 mil tonelada ao mês para algo entre e 2 a 2,05 mil toneladas, aponta Edelcio Marques dos Reis, diretor de limpeza pública da Capital.

“Percebemos aumento da geração, da apresentação de material reciclável para coleta. São dois fatores [que influenciam]. O primeiro é o maior número de pessoas pedindo alimento por delivery, o que aumenta a quantidade de embalagens a ser descartada. Mas o segundo fator é a diminuição da presença de catadores nas ruas, e isso se percebe nitidamente. Essas pessoas retraíram sua coleta, seja porque estão recebendo auxílio do governo ou mesmo por conta do medo do coronavírus. E aí sobra uma quantidade maior para o poder público coletar”, explica.

Ainda segundo Edelcio, das 40 associações que trabalham com lixo reciclável em Curitiba, pelo menos 28 seguem atuando. “Num primeiro momento, 12 associações anunciaram que suspenderiam suas atividades, mas a grande maioria, 28 delas, continuam trabalhando, triando, movimentando o lixo reciclável produzido na cidade”.

Detrito recolhido fica em quarentena por um dia pelo menos

Numa medida preventiva com o intuito de proteger a saúde dos catadores de lixo, desde o começo de abril todo o material recolhido em Curitiba do Lixo Que Não É Lixo (coleta seletiva) fica 24 horas isolado antes de ser separado para vendas pelas associações de catadores do Ecocidadão.

A iniciativa segue orientação do Departamento de Limpeza Público da Secretaria do Meio Ambiente e tem como base informações sobre o tempo de sobrevivência do novo coronavírus fora do corpo humano. Estima-se que o vírus pode sobreviver por cerca de 12 horas em materiais como os resíduos recicláveis. A recomendação do Meio Ambiente, então, é que se aguarde um dia para fazer a separação do material recebido.

Outro ponto é que máscaras, luvas e lenços de papel não são recicláveis e devem, por isso, ser descartados junto com o lixo do banheiro, na coleta domiciliar. Já pessoas com diagnóstico ou suspeita de contaminação devem apresentar todos os seus resíduos para a coleta domiciliar, valendo a orientação de usar sacos preenchidos em até dois terços da sua capacidade e reembalados em sacos pretos limpos.

No Brasil, redução na geração de resíduos foi de 7,25%

A situação não é exclusividade curitibana. Um balanço feito pela Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe) e pela Associação Internacional de Resíduos Sólidos no Brasil (ISWA), por exemplo, mostra que a geração de resíduos sólidos domiciliares caiu 7,25% em todo o país no último mês, na comparação com o mesmo período do ano passado. A pesquisa foi feita junto a empresas que representam 60% do mercado privado de limpeza urbana e que atuam em todas as regiões do Brasil.

De acordo com o presidente da Abrelpe, Carlos Silva Filho, essa variação negativa estaria relacionada, possível e provavelmente, com a diminuição do poder de consumo dos cidadãos. “Historicamente temos observado que a geração de resíduos guarda relação direta com o poder aquisitivo e hábitos de consumo de cada sociedade. Nada influencia mais na decisão de compra do consumidor do que instabilidade e retração econômica. De acordo com o resultado da pesquisa, observamos uma tendência de redução na produção de resíduos, que deve permanecer até que a economia volte a dar sinais de retomada”, disse ele em entrevista à Agência Brasil.

Recorde

Brasil confirma mais 19,9 mil casos e 888 mortes em 24 horas

O número de casos confirmados do novo coronavírus no País saltou de 271.628 na terça-feira para 291.579 ontem. Foram 19.951 novos registros em 24 horas, um recorde desde o início da pandemia. O boletim divulgado ontem pelo Ministério da Saúde também traz 888 novos óbitos confirmados, e totalizando 18.859. Um dia antes haviam siod 1.179 novos casos. O Ministério da Saúde, ressalta queos novos registros em 24 horas não indicam efetivamente quantas pessoas faleceram ou se infectaram de um dia para o outro, mas sim o número de registros que tiveram o diagnóstico de coronavírus confirmado nesse intervalo. 116.683 pessoas já se recuperaram do coronavírus.

Paraná — O balanço do Paraná também foi o que trouxe mais casos e óbitos desde o início da pandemia. Foram confirmados 136 novos casos, totalizando até ontem 2.616 casos confirmados da doença no Paraná. A doença causada pelo novo coronavírus já vitimou 137 moradores do Estado, sendo que sete ocorrências foram registradas neste último informe. Da mesma forma, os novos casos confirmados ontem tinham exames realizados em outros dias.

Capital — Curitiba confirmou ontem mais 23 casos de moradores infectados pelo novo coronavírus. No entanto, nos últimos dois dias, a cidade não teve mortes causadas pela covid-19. Com o boletim divulgado pela Secretaria Municipal da Saúde, já são 902 o número de casos confirmados até agora. Desse total, 658 pacientes venceram a doença e estão recuperados. Os ´pbitos seguem com 34 casos.