Divulgação – As duas versões de Will Smith em ‘Projeto Gemini’: ele luta contra ele mesmo

Nos memes sobre atores do cinema, há três certezas. Uma: Leonardo DiCaprio morre no filme (‘Romeu e Julieta’, ‘Titanic’, ‘Os Infiltrados’, ‘O Grande Gatsby’; esses spoilers prescreveram). Outra: Viajar com Tom Hanks é uma fria (‘Apollo 13’, ‘Náufrago’, ‘Capitão Philips’, ‘Sully: O herói do Rio Hudson’). E a terceira: Will Smith salva todo mundo (‘Independence Day’, ‘Homens de Preto’, ‘Eu Robô’, ‘Eu Sou a Lenda’, ‘Hancock’, até ‘Esquadrão Suicida’). Essa característica faz com que Will Smith seja perfeito para protagonizar ‘Projeto Gemini’, que estreia hoje em Curitiba.

‘Projeto Gemini’ é dirigido pelo taiwanês Ang Lee, dono de uma diversificada cinebiografia, que vai de ‘O Segredo de Brokeback Mountain’ a ‘O Tigre e o Dragão’, de ‘Hulk’ (o de 2003) a ‘As Aventuras de Pi’. Nesses dois últimos filmes, o diretor usou e abusou de efeitos visuais, com resultados opostos: o Hulk digital ficou péssimo, mas o tigre digital de ‘Pi’ ficou perfeito, a ponto de ganhar o Oscar. Lee, um defensor do uso de novas tecnologias no cinema, promete uma experiência inovadora em ‘Projeto Gemini’, com a pretensão de fazer algo com o impacto que ‘Avatar’ gerou em 2009. Segundo o diretor, o filme teve captação de imagens diretamente em 3D, em High Frame Rate (HFR), a 120 quadros por segundo — o padrão dos filmes é de 24 quadros por segundo. Curiosamente, uma experiência similar havia sido usada na trilogia ‘O Hobbit’, de Peter Jackson; feito com 48 quadros por segundo, o resultado final dividiu opiniões. Assistido em projeção 3D, a 60 quadros por segundo, ‘Projeto Gemini’ se mostra um filme mais fluido na passagem das imagens e com cenas mais realistas, principalmente nos momentos de ação. Mas é exagero ver nele o impacto que ‘Avatar’ causou na plateia, dez anos atrás.

O enredo de ‘projeto Gemini’ soa batido: matador de elite (Will Smith), considerado o melhor do pedaço, se aposenta. Seus empregadores, que têm planos obscuros, consideram que a aposentadoria é uma ameaça e acham melhor eliminá-lo. Enquanto o herói se vê numa conspiração, os empregadores mandam um super-alguém para dar cabo nele. Circunstancialmente, esse super-alguém é ele mesmo, vinte anos mais jovem.

O quente do filme é a tecnologia. Não apenas por causa da projeção a 60 quadros por segundo. Mas também porque Will Smith contracenar com ele mesmo em sua versão mais jovem – que tem um visual entre ‘Um Maluco no Pedaço’ (o seriado que lançou o ator ao estrelato) e o capitão Hillier, de ‘Independence Day’, de 1996. O resultado é convincente em boa parte das vezes e parece falso em outras. Mas a tecnologia cobra um preço: algumas cenas de ação parecem feitas não de cinema, mas de jogos de videogame, como Fortnite.

Outro ponto é Ang Lee. Como diretor que não se prende a um determinado estilo, ele aplicou enquadramentos e planos-sequências diferentes dos convencionais em filmes de ação. Em determinados momentos, as trocas de diálogos parecem feitas diretamente com o espectador. Lee tentou dominar a ferramenta de 3D e conseguiu imprimir um pouco de seu DNA autoral – as cenas noturnas feitas sobre a água, por exemplo, lembram ‘As Aventuras de Pi’.

Tanto quanto a tecnologia e a direção, Will Smith consegue se sobressair em ‘Projeto Gemini’. Em uma história batida e recheada de efeitos digitais, ele entrega um personagem durão, intrépido, infalível, mas com bom coração e capaz de algum bom humor – tanto em sua versão de 51 anos quando em sua versão mais jovem. Meio clichezão, mas não uma novidade para alguém que vive salvando todo mundo nos filmes. Se bem que, desta vez, não é que Will Smith salve o mundo. Ele tenta salvar ele mesmo. Dele mesmo.

Quem é quem

Henry Brogan
(Will Smith)
Matador de elite, cheio de truques, capaz de acertar um homem dentro de um trem em movimento a 500 metros de distância. Ele planeja se aposentar. Só que isso o leva a ser caçado pelos antigos empregadores

Júnior
(Will Smith)
Matador de elite, cheio de truques, etc, etc. Só que 20 anos mais jovem

Danny Zakarweski
(Mary Elizabeth Winstead)
Espiã do Departamento de Inteligência, acaba pega no fogo cruzado entre Brogan e seus empregadores e se alia a ele

Baron
(Benedict Wong)
Amigo de Brogan dos tempos de fuzileiros. Pilota aviões e ajuda Brogan e Danny a ir a vários lugares do mundo, da Colômbia à Hungria.

Clay Verris
(Clive Owen)
Dono do Projeto Gemini, está louco para colocar um ‘soldado especial’ no mercado da guerra. E vê a perseguição a Brogan como a chance ideal