Franklin de Freitas – Movimento na BR-277 na tarde de ontem: volta da praia teve movimento intenso até a noite

Em que medida a ocorrência de feriados favorece o aumento da curva de contágio pelo novo coronavírus? A pergunta, cuja resposta pode não ser tão óbvia quanto alguns imaginam, é interessante na medida em que datas comemorativas costumam ser um período dedicado ao descanso e ao lazer, com a reunião de famílias, encontro entre amigos e outras ‘balbúrdias’ que em tempos de normalidade (ou seja, fora de uma pandemia causada por doença infectocontagiosa) poderiam ser consideradas aglomerações saudáveis.

Para tentar responder ao questionamento, então, o Bem Paraná apelou para os números. Mais precisamente, para os dados divulgados diariamente pela Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Curitiba. A partir dos quatro feriados prolongados desde o início da pandemia (Paixão de Cristo, Tiradentes, Dia do Trabalho e Corpus Christi, mas sem contar o feriado da Independência), procurou-se estimar qual o impacto dessas datas no número de contaminações e óbitos por Covid-19.

Quando se considera o número absoluto de casos e mortes, naturalmente se tem um aumento nos registros nas duas semanas seguintes, uma vez que o vírus segue circulando e vai contaminar e matar cada vez mais pessoas até que se atinja o estágio de imunidade coletiva, quando se cria uma barreira natural contra a infecção (acredita-se que isso aconteça quando algo entre 20 e 50% de uma população já teve contato com o agente infeccioso).

Por isso, a análise acerca dos feriados não focou nos números absolutos, mas sim na média de contaminações na semana imediatamente anterior ao feriado e nas duas semanas posteriores à data comemorativa, considerando que o período de incubação do coronavírus (o tempo entre a infecção do ser humano pelo vírus e o início dos sintomas da doença) varia de 1 a 14 dias, geralmente ficando em torno de cinco dias, conforme a Organização Mundial da Saúde (OMS).

Os resultados mostram que após duas dessas datas (Tiradentes, em 21 de abril, e Corpus Christi, em 11 de junho) houve, nas duas semanas seguintes, um impacto altamente negativo no número de novas contaminações e óbitos. Após o 11 de junho, por exemplo, a média diária de mortes saltou 98,39% (passando de 1,86 para 3,69), enquanto os casos confirmados por dia tiveram aumento de 166,7% (de 58,14 para 155,06).

Em outras duas ocasiões (Paixão de Cristo e Dia do Trabalho), contudo, nas semanas posteriores ao feriado o que se verificou foi uma redução na média de casos e mortes por dia. E aí há uma série de fatores que podem ajudar a explicar essa redução: adesão ao isolamento social nessas datas; clima e temperatura na cidade; consciência e respeito por parte da sociedade às medidas de distanciamento social, entre outras.

Capital registra menor número de casos novos desde julho

Divulgado nesta terça-feira (8) pela Prefeitura de Curitiba, o mais recente boletim do coronavírus mostra que a capital paranaense já confirmava 36.408 infecções pelo agente, além de ter registrado um total de 1.082 óbitos. Na comparação do dia 8 de setembro com a data anterior, temos um total de 192 novos caos e sete óbitos no dia.
E a boa notícia de ontem foi justamente o número de novos casos confirmados na cidade (192), o menor desde o dia 12 de julho, um domingo, data em que a cidade registrou 184 novos casos da doença na comparação com o dia anterior.

As comemorações, contudo, devem ser comedidas. Isso porque na última semana a capital paranaense registrou um importante aumento na média de casos e mortes por dia, na ordem 10,35% e 22,86%. A situação, inclusive, fez com que a cidade voltasse à bandeira laranja, agravando as restrições impostas pelo município para o enfrentamento da crise sanitária, a partir da última segunda-feira e com validade de 14 dias.

Feriados e a Covid-19

Variação de casos nas semanas

Paixão de Cristo

Semana antes
Casos/dia: 16,57
Mortes/dia: 0,71

Semanas seguintes
Casos/dia: 12,86
Mortes/dia: 0,57

Variação
Casos/dia: -22,39%
Mortes/dia: -19,72%
Tiradentes

Semana antes
Casos/dia: 10,85
Mortes/dia: 0,43

Semanas seguintes
Casos/dia: 14,86
Mortes/dia: 0,64

Variação
Casos/dia: +36,96%
Mortes/dia: +48,84%
Dia do Trabalho

Semana antes
Casos/dia: 16,43
Mortes/dia: 1,29

Semanas seguintes
Casos/dia: 15,57
Mortes/dia: 0,57

Variação
Casos/dia: -5,23%
Mortes/dia: -55,81%
Corpus Christi

Semana antes
Casos/dia: 58,14
Mortes/dia: 1,86

Semanas seguintes
Casos/dia: 155,06
Mortes/dia: 3,69

Variação
Casos/dia: +166,70%
Mortes/dia: +98,39%
Variação de casos
14 dias depois

Paixão de Cristo
(10 de abril, sexta-feira)
Casos confirmados: 249
Mortes: 5

14 dias depois
(24 de abril)
Casos confirmados: 484
Mortes: 14

Variação de casos: 94,38%
Variação de mortes: 180%

Tiradentes
(21 de abril, terça-feira)
Casos confirmados: 435
Mortes: 14

14 dias depois
(5 de maio)
Casos confirmados: 658
Mortes: 26

Variação de casos: 51,26%
Variação de mortes: 85,71%

Dia do Trabalho
(1º de maio, sexta-feira)
Casos confirmados: 614
Mortes: 23

14 dias depois
(15 de maio)
Casos confirmados: 829
Mortes: 33

Variação de casos: 35,02%
Variação de mortes: 43,48%

Corpus Christi
(11 de junho, quinta-feira)
Casos confirmados: 1.665
Mortes: 71

14 dias depois
(25 de junho)
Casos confirmados: 3.948
Mortes: 123

Variação de casos: 137,12%
Variação de mortes: 73,24%