Racionalização é normalmente definida como o fenômeno interno de aceitação e sedimentação de ideias, crenças, conceitos e opiniões, que é acompanhado por mecanismos de defesa e reação a qualquer modificação. Quando assumimos uma crença, modificá-las não é fácil, pois conceitos fixados são persistentes, de difícil remoção; quando pela emoção estamos dispostos a aceitar e fixar, a dissuasão requer habilidade e artifícios.

Paul-Henri Thiry, barão d’Holbach, autor, filósofo e enciclopedista franco-alemão, dizia: “Todo gênero humano é, de geração em geração, vítima de toda classe de preconceitos. Meditar, consultar a experiência, pôr em exercício a razão, aplicá-la à conduta, são ocupações que a maior parte aos mortais desconhece. Eles olham como trabalho penoso, ao qual não estamos acostumados, o de pensar por si mesmos. Suas paixões, seus negócios, seus prazeres, seus temperamentos, suas covardias e suas disposições naturais os impedem de investigar a verdade”.

Isso é verdadeiro no direito, na sociologia, na história, na filosofia, na psicologia, nas investigações científicas ou em divagações literárias.

Analisar o mecanismo da racionalização permite entender a maioria dos aspectos que integram o comportamento das pessoas, a forma como justificam posturas e motivação intelectual perante os acontecimentos da vida e os seus familiares ou colegas de trabalho.

Nossas emoções e raciocínios, a emotividade, que é irracional, e o desenvolvimento intelectual que depende de nossa racionalidade,  são os fundamentos da arte da argumentação, de nossa ciência da persuasão, comprometida menos com a verdade do que com a lógica.

Parece-nos lógico, mesmo não sendo necessariamente verdadeiro, e por isso qualquer inverdade pré-fabricada tende a fixar-se, ficar praticamente irredutível, já que passa a ser parte integrante do caráter da pessoa. E, como parte da própria pessoa, será defendida intransigentemente, poucos de nós estamos dispostos a renunciar às nossas “verdades”. A lógica é uma estrada que pode levar a muitos e diferentes caminhos.

Então o que desejamos é que, pela emoção, porém julgando que o fazemos pela inteligência ou pelo raciocínio, possamos manobrar as convicções de outrem. Neste processo, o que se objetiva desde os sofistas gregos aos oportunistas de hoje é deflagrar, nos outros, um mecanismo de aceitação, que se instala independentemente do científico exame dos fatos, pois a credulidade é a própria emoção habitualmente manipulada. É o grau de credulidade que determina a diferença entre as pessoas no que respeita à aceitação e rejeição dos fatos e conceitos, embora tenham igual nível de formação cultural e raciocínio identicamente desenvolvido. A exposição da teoria orienta-se por diversificados caminhos, embora mantenha-se fundamentalmente no conteúdo básico, em todas essas obras.

Dizem os psicólogos que habitualmente vemos apenas metade das demais pessoas, e que as preenchemos com a nossa própria metade, emocionalmente escolhida de tal sorte que ela nos complete um pouco, e por isso a mesma pessoa é tão diferente para tantas outras simultaneamente: para todos cada pessoa é a metade dela própria, e a outra metade, aquilo que projetamos nela, nossa personalidade, e as coisas se parecem como vistas através de um “espelho mágico”.

Mesmo quando reconhecemos eventualmente que certas ideias ou procedimentos são inadequados ou até absurdos, ao menor descuido estamos incidindo nas mesmas versões, voltando a manifestar os mesmos preconceitos ou fanatismos. Acontece em política, religião, esporte, questões sociais, trama familiar, enfim em todos os nossos circuitos de entendimento das coisas. Na verdade, conhecemos pouco das coisas através do raciocínio ou enfoque científico; temos, delas, visões pessoais ou choques emocionais.

É preciso cuidado com nossas crenças principalmente em relação aos dirigentes políticos, Hitler incendiou as massas, terminou como sabemos.

 

Wanda Camargo – educadora e assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil – UniBrasil.