Franklin de Freitas – Salles da Fazendinha (DC) também foi catador depapel e cabelereiro

O cientista político Nilson Sales, o Salles do Fazendinha, conhece na pele as dificuldades das pessoas mais humildes que vêm do interior para a Capital em busca de um futuro melhor. Nascido na pequena Jardim Alegre (região Norte), em 1973, pelas mãos de uma parteira, só foi registrado em cartório nove anos depois. Trabalhou de bóia-fria, catador de papel, locutor de eventos, madeireiro e foi cabeleleiro por 14 anos. Nos tempos de bóia-fria, chegou a passar fome junto com o irmão um ano mais velho .
Em 1992, chegou a ser candidato a vereador de São João do Ivaí (região Norte), quando fez 53 votos. No mesmo ano, veio para Curitiba e foi no salão de beleza que montou no bairro da Fazendinha que ficou conhecido e lhe deu o ânimo para tentar a sorte na política mais uma vez.
Foi candidato a vereador de Curitiba a primeira vez, em 2008, 2012 e 2016, fazendo sempre boas votações, mas ficando como suplente em razão da legenda. Em 2020, finalmente conseguiu se eleger, pelo partido Democracia Cristã. Agora na Câmara, quer fazer a diferença para a população da região onde mora há quase 30 anos, levando infraestrutura e projetos de melhoria da qualidade de vida. Em entrevista ao Bem Paraná, Salles conta um pouco dessa trajetória de homem do campo que superou as dificuldades e venceu, sem esquecer de suas origens.

Bem Paraná – Onde o senhor nasceu e quando veio para Curitiba?
Salles da Fazendinha – Nasci em Jardim Alegre, em 1973. No final da década de 70 fomos para Ivaiporã. Uma vida difícil. Eu e meu irmão um ano mais velho do que eu, a gente catou papel muito tempo para sobreviver. Dali a gente partiu para Lunardeli, que é uma cidade vizinha, onde fomos trabalhar em uma fazenda cercada por mata virgem, tinha muita cobra, onça, bicho, mas conseguimos sobreviver. Mas as dificuldades eram grandes. Nessa fazenda eu cheguei a ficar três dias sem comer. Depois de lá nós fomos para São João do Ivaí, morar no distrito de Santa Luzia de Alvorada. Trabalhei muito tempo de bóia-fria. E daí lá eu acabei sendo candidato em 92, em São João do Ivaí. Naquela ocasião eu fiz 53 votos. No mesmo ano vim para Curitiba.

BP – Como o senhor entrou na política?
Salles – Nessa Santa Luzia eu era locutor de eventos, tinha uma equipe de som. A gente chamava de ponto de encontro, paquera na avenida. Também trabalhava com animação de rodeio, apresentador de duplas de show. Com isso eu fiquei conhecido e acabei me envolvendo na política, e sendo candidato lá. Fiz 53 votos. Na ocasião precisava de 210. No mesmo ano, em novembro de 92 eu vim para Curitiba. Aqui eu trabalhei como madeireiro por três anos. Depois fui cabeleleiro por 14 anos. Com esse salão de cabeleleiro, o pessoal chamava de Salles cabeleleiro, eu fiquei muito conhecido na região. Nesse mesmo tempo, na Fazendinha, eu montei um jornal, o Correio do Salles. Esse jornal eu tenho já faz 15 anos. Agora foi rebatizado há cerca de dois anos de Correio do Povo. Aí também fui fazer faculdade e fiz Ciência Política. E acredito que o pouco conhecimento que eu tive em São João, veio a vontade de ser político. Eu também cantava na igreja.

EXPERIÊNCIA
‘Jamais esquecerei minhas origens’

BP – Como o senhor está vendo a questão da pandemia em Curitiba, tanto em relação à questão da saúde, quanto da economia?
Salles – Acho que a Câmara podia analisar e reduzir o máximo de custos possível. Não só a Câmara, quanto a prefeitura deve pensar em reduzir o máximo possível os custos para que possa investir na vacinação e no tratamento e combate ao Covid. Em relação ao comércio, se a prefeitura e a Câmara se unirem para rapidamente vacinar a população, a situação econômica volta ao normal. Por exemplo, hoje a Câmara tem um contrato com veículos. Pode ter? Pode. Pode não ter. Se não tivesse poderia investir o dinheiro nessa questão. Também tem a questão dos selos que o vereador tem. Também acho que é um dinheiro que pode ser investido no tratamento da Covid, da vacinação. Poderia também tentar ajudar o comércio a se levantar dessa crise que derrubou todo mundo. Porque quando o comércio se levanta, também diminui o desemprego.

BP – O senhor vem de uma vida de dificuldades e superação. O que traz dessa experiência para a Câmara?
Salles – Quando você fala de origem humilde, lembro que eu fui nascido por parteira, não em hospital. Essa parteira anotou a data do meu nascimento em uma folha de papel com cartão. Daí eu só fui registrado em cartório nove anos depois. Eu nasci em 73 e só fui registrado em 82. Eu encaro essa mudança de status na minha vida com bastante humildade. É em função desse atendimento da classe mais humilde que consegui me eleger. Acredito que mais de 1 mil atendimentos registrados nessa região. Faz 30 anos que eu moro na Fazendinha quase. Jamais esquecer das origens de onde vim. Isso não me passa pela cabeça.

PLENÁRIO
‘Devo seguir uma linha independente’

Bem Paraná – O senhor já tinha sido candidato a vereador antes em Curitiba?
Salles – Essa foi a quarta vez. Fui a primeira vez em 2008, e fiquei como segundo suplente. Depois fui em 2012, fiquei como segundo suplente, mas como a Renata Bueno (CDN) foi eleita deputada italiana, eu passei a primeiro suplente. Com 4.303 votos. Depois, em 2016, fui candidato de novo, fiz 3.300 e poucos votos, perdi por apenas 88 votos. Agora, em 2020, fui candidato de novo, e com votação abaixo do que tinha feito antes me elegi, em função da estratégia de chapa do partido Democracia Cristã.

BP – Em relação à gestão Greca, o senhor pretende ser da base de apoio, oposição ou independente?
Salles – O meu partido segue uma linha independente. Eu devo seguir uma linha independente na Câmara. Aquilo que o prefeito mandar e for de grande para a população, é claro que você vai votar. Aquilo que você achar que pode ser ruim, é claro que não vai votar, ou pode acrescentar alguma coisa que pode melhorar aquela proposta dele. Não tenho a obrigação de votar tudo o que chega. Tenho a liberdade de analisar.

BP – Qual a principal bandeira do seu mandato?
Salles – Eu venho de um bairro, o Fazendinha, que envolve um pouco do CIC, Novo Mundo, Santa Quitéria, Portão e região, é uma região que precisa de muita infraestrutura, obras, melhorias. Eu não defendo uma bandeira específica. Eu procuro defender o que é bom e que pode mudar a vida da população. Por exemplo, diminuir o tempo de espera para atendimento nos postos de saúde, das UPAs, essa demora que existe para conseguir uma consulta com especialistas. Até seis meses.

BP – Tem algum outro projeto que pretende apresentar no início da legislatura?
Salles – Acho desnecessária a cobrança de EstaR em volta de hospitais. Você vai visitar um doente e leva uma multa. Acho que cada regional da cidade deveria ter um centro de atendimento ao dependente químico. Como também um espaço para atendimento de animais de estimação gratuito em parceira com universidades. E também acho que no caso do Armazém da Família poderia ser expandido para os mercados privados para que as pessoas pudessem comprar o que quisessem com o mesmo desconto. Não existe uma só bandeira específica.