Muitas vezes vistas de uma forma romântica como épocas mágicas e alegres, a infância e a adolescência são na verdade períodos de transformações físicas e comportamentais essenciais na formação da personalidade da pessoa, mas que podem trazer angústia e sofrimento.  As mudanças que ocorrem nestes períodos da vida afetam não somente as crianças e os jovens, mas as pessoas à sua volta, exigindo muita atenção dos pais, familiares, professores e amigos para que o amadurecimento e formação da personalidade ocorra de forma saudável e natural.
“Existem formas distintas de manifestação da angústia e do sofrimento, desde comportamentos como ansiedade, agressividade e isolamento, até transtornos mais severos, como TDAH, anorexia, autismo, depressão e tentativas de suicídio.  É um período onde muitas questões aparecem e, às vezes, as crianças não conseguem lidar com isso sozinhas. Até mesmo os pais não dão conta de dar o suporte adequado, sendo necessária a ajuda de um profissional”, explica Daniela Araújo, psicóloga e coordenadora do Núcleo Infantojuvenil da Holiste.
Estima-se que a prevalência global de transtornos mentais na população de crianças e adolescentes esteja na faixa dos 15%.   No Brasil, alguns estudos apontam uma prevalência de 10,2% entre crianças e 16,3% entre adolescência.
Os números chamam a atenção, porém, um dos grandes desafios para familiares, parentes e pessoas próximas é entender a individualidade de cada, já que nessa fase a personalidade ainda está sendo formada.
“Temos crianças muito agitadas, inquietas, que podem ser precipitadamente taxadas de hiperativas. O que precisamos ficar atentos é quando esse comportamento sai do controle e causa prejuízos ou sofrimento à criança”, detalha a terapeuta ocupacional Itatiara Xavier.
O médico psiquiatra Matheus Freire aponta que quanto mais cedo o tratamento do transtorno mental é tratado, menos danos ele vai causar, devido à plasticidade do cérebro das crianças e jovens, ainda em fase de formação, o que reflete num maior potencial em superar problemas de ordem psíquica, quando comparados a adultos e idosos.
“A maioria dos transtornos mentais presentes nos adultos se inicia na juventude. É muito comum a correlação entre um sofrimento na infância e um transtorno na idade adulta.  Por isso não devemos negligenciar o cuidado na infância e adolescência, pois além de crianças e adolescentes mais saudáveis, com o tratamento precoce teremos adultos mais saudáveis”, acrescenta o psiquiatra.


Uma abordagem diferenciada 
O público infantojuvenil precisa de um olhar e abordagem diferenciados, devido às particularidades e complexidades que, naturalmente, fazem parte dessas fases da vida. Assim, é fundamental que a equipe seja composta por profissionais de várias especialidades, para que o jovem seja avaliado em diferentes dimensões.
“A primeira fase do trabalho é entender o que está acontecendo, o que leva aquela criança a estar ali.  A partir daí, inicia-se o processo de intervenção ou encaminhamentos:  se é uma questão da área do comportamento, entra o psicólogo; se estiver relacionado ao aprendizado, é indicado um psicopedagogo; se é algo que possa ser aliviado com a música ou a arte, por exemplo, encaminha-se a um musicoterapeuta ou arteterapeuta”, explica Nadja Pinho.
Itatiara Xavier completa, destacando os ganhos do trabalho com o Núcleo. “É aí que está o ganho nesse tipo de atendimento.  Através da discussão em equipe, construímos o caso coletivamente, aumenta-se a possibilidade de respostas ao problema apresentado”, pontua.


Fique atento
11 sintomas de alerta para doença mental em crianças

1 – Tendência à auto-lesão
O fato de que uma criança se auto-lesionar com ou tentar bater a cabeça contra objetos duros com frequência, é motivo para consultar um especialista. No entanto, você precisa parar para pensar antes sobre quais são as motivações reais da ocorrência das lesões.

2 – Alterações de humor
Muitas mudanças bruscas de humor também são indicadores de doença mental, especialmente se você não conseguir relacioná-los com eventos objetivos ocorridos no ambiente e ocorram de forma irregular. No entanto, devemos considerar também que crianças pequenas choram muito facilmente, porque isso faz parte do seu nível de maturação neurológica.

3 – A rejeição da sua própria aparência
A não aceitação do próprio corpo em uma idade precoce pode ser um sintoma de doença mental em crianças. No entanto, em casos como o de disforia de gênero, considera-se que as causas são principalmente psicológicas, e não são causados por um desajuste físico. Reclamações sobre o peso também podem ser sinais de  transtornos alimentares em desenvolvimento se forem persistentes e tiverem implicações com a quantidade de comida ingerida.

4 – Irregularidades na hora de comer
Comer muito pouco ou ter compulsões alimentarem ocasionais podem ser sinais de funções psicológicas para algo que não está bem no mundo de relações da criança. A partir da puberdade, a pressão para construir uma identidade socialmente aceitável pode levar com que os jovens façam grandes sacrifícios para ter uma boa aparência.

5 – Falta de motivação
A existência de uma atitude extremamente passiva e uma clara falta de iniciativa pode ser um sinal de problema psicológico. Especificamente associada com  distúrbios depressivos.

6 – Queixas constante de dor ou desconforto
Claro que a dor é um elemento que tem muito a dizer na detecção de uma doença. Às vezes, ela pode se referir a uma dor de cabeça que pode ser causada pelo mau funcionamento de certas funções psicológicas relacionadas com a percepção ou a concentração .

7 – Explosões de raiva
Explosões de raiva freqüentes podem ser o resultado de um desequilíbrio neuroquímico do sistema nervoso que afeta o humor ou, visto de outra perspectiva, podem ser o resultado de um padrão de comportamento que foi aprendido involuntariamente, apesar de não serem úteis ou eficazes.

8 – A tendência para ferir os outros
A tendência a infligir assédio moral nos outros ou ferir animais, também é motivo de preocupação, e é necessário implementar programas de correção para que este comportamento não se desenvolva. Pode ser devido a uma incapacidade de sentir empatia com os outros, ou também pode ser que haja um problema gerando tanto estresse que leve a criança a agir impulsivamente.

9 – Desconexão com a realidade
Este é um dos sintomas mais difíceis de detectar, porque as crianças tendem a apreciar o pensamento mágico e fantasiam sobre situações fictícias. A chave aqui é detectar se esse pensamento mágico desaparecerá com o passar do tempo ou se as fantasias representarem um risco para o seu bem-estar ou de outra pessoa. Com relação aos amigos Imaginários, é normal que a criança se recuse a admitir que realmente não existem, apesar de estar ciente da verdade, só para não interferir com a fantasia. 

10 – Tendência para o isolamento
Muitas crianças preferem brincar sozinhas, mas algumas delas fazem isso porque se sentem mal a presença de outras pessoas, em qualquer contexto. Estes casos podem ser motivo de aconselhamento psicológico, pois poderia ser um sinal de desordem do espectro autista.

11 – Sérias dificuldades na escola
Dificuldades na escola podem ter relação com distúrbios de aprendizagem, como a dislexia ou discalculia , ou também pode ser o resultado de um doença mental grave (embora, é claro, muitas vezes é um alarme falso a este respeito). A infância é uma fase em que distúrbios do desenvolvimento podem dar uma impressão negativa sobre a evolução futura da pessoa se não forem abordadas de forma eficaz.