Reprodução / Twitter – Maria Dantas

MADRI, ESPANHA (FOLHAPRESS) – Maria Dantas, 49, primeira brasileira eleita para o Congresso dos Deputados da Espanha, promete ser uma pedra no caminho dos projetos da ultradireita, que volta ao Legislativo nacional após um hiato de quatro décadas.

Sergipana radicada em Barcelona há 25 anos, ela concorreu como quinto nome da lista da Esquerda Republicana (ER), partido independentista que foi o mais votado na Catalunha no último domingo (28) -um feito inédito para a causa separatista.

PERGUNTA – Por que a senhora decidiu deixar o Brasil, em 1994?

MARIA DANTAS – Eu era da Polícia Civil. Estava me separando, era jovem e queria “dar um plus” na minha vida profissional. Vendi meu Uno de segunda mão branquinho para fazer um curso de especialização em direito ambiental em São Paulo. Só que, naquela época, ficava mais caro fazer uma especialização de um ano em São Paulo do que vir para Barcelona, outro grande centro do direito ambiental.

P. – O que fez profissionalmente desde sua chegada a Barcelona?

MD – É mais fácil perguntar o que eu não fiz [risos]. Minha vida migratória é bem parecida com a de muitas pessoas que têm a facilidade de ter pele branca, porque negros e pessoas com traços indígenas sofrem racismo. Fui empregada doméstica sem carteira assinada, garçonete, levei cachorro para passear, cuidei de idosos. A nacionalidade veio há dez, 15 anos.

Dedico todo o meu tempo livre a movimentos sociais de base, como a Unidade contra o Fascismo e o Racismo, em que estou há dez anos, os Latinos pela Catalunha, a Emergência Fronteira Sul e o SOS Racismo.

P. – Quando decidiu ingressar na política?

MD – Nunca pensei em dar esse passo. Mas estamos passando por um período complicado na Catalunha, de agressão à liberdade de expressão e ao povo.

Há também o fato de a extrema direita ter saído do armário, estar em ascensão em vários países. O Vox acabou de se eleger. Estudo há muito tempo o fascismo e creio poder ser uma pedra pequena, mas uma pedra, contra os discursos dessa direita racista, fascista, misógina, machista, homofóbica e islamofóbica.

P. – Qual será o seu foco de atuação?

MD – A primeira bandeira vai ser a eliminação da Lei de Imigração, de viés racista e assassino, que mata gente nas fronteiras. Além disso, batalhar pelo fechamento dos CIEs [Centros de Internação de Estrangeiros, unidades não prisionais que acolhem pessoas em vias de expulsão], que são Guantánamos no território europeu.

Também quero trabalharpelo fim da militarização das fronteiras e pela criação de uma lei geral de combate ao racismo. Por fim, atuar para tornar ilegais grupos fascistas e franquistas. Existem milícias fascistas nas ruas da Espanha batendo em gente negra.

Mas esses projetos de alcance nacional não são contraditórios com a agenda pró-separatismo do seu partido?”‚Nas listas da Esquerda Republicana não há só independentistas. Se no referendo ganha o não [que a maioria quer continuar na Espanha], no dia seguinte vou advogar pelo não.

A única coisa que queremos é que o povo da Catalunha possa decidir.