Marcelo Camargo / Agência Brasil

Após uma reunião com o presidente eleito Jair Bolsonaro, na manhã desta quinta-feira (1º de novembro), o juiz federal Sergio Fernando Moro, responsável pelos processos da Lava Jato em Curitiba, anunciou que aceita o convite do político do PSL para integrar o governo que tomará posse no começo do próximo ano. Ele será nomeado para o cargo de ministro da Justiça e da Segurança Pública na próxima gestão, mas desde já deve abandonar os processos e audiências referentes aos processos da Lava Jato, segundo informou por meio de nota oficial. Mais detalhes serão dados numa entrevista coletiva que será marcada para a próxima semana.

O novo titular definitivo da Lava Jato ainda será definido.

De acordo com o vice do presidente eleito, general Hamilton Mourão (PRTB), a primeira abordagem aconteceu há algumas semanas. "Isso já faz tempo, durante a campanha foi feito um contato", afirmou, em conversa nesta quarta-feira (31/10), no Rio. Ainda segundo o general, o responsável por contatar o juiz foi o futuro ministro da Economia, Paulo Guedes.

A sinalização do magistrado, de aceitar ser ministro, foi alvo de críticas de parte da classe política. O candidato a presidente derrotado Ciro Gomes (PDT) chegou a dizer que Moro era uma "aberração de toga". 

Confira a nota divulgada pelo juiz federal

Fui convidado pelo Sr. Presidente eleito para ser nomeado Ministro da Justiça e da Segurança Pública na próxima gestão. Após reunião pessoal na qual foram discutidas politicas para a pasta, aceitei o honrado convite. Fiz com certo pesar, pois terei que abandonar 22 anos de magistratura. No entanto, a perspectiva de implementar uma forte agenda anticorrupção e anticrime organizado, com respeito à Constituição, à lei e aos direitos, levaram-me a tomar esta decisão. Na prática, significa consolidar os avanços contra o crime e a corrupção dos ultimos anos e afastar riscos de retrocessos por um bem maior. A Operação Lava Jato seguirá em Curitiba com os valorosos juízes locais. De todo modo, para evitar controvérsias desnecessárias, devo desde logo afastar-me de novas audiências. Na próxima semana, concederei entrevista coletiva com maiores detalhes.

Curitiba, 01 de novembro de 2018.
Sergio Fernando Moro

Em cima do muro. Mas nem tanto…

Durante a campanha eleitoral, Sergio Moro não declarou, ao menos oficialmente, apoio a nenhum candidato. A interlocutores, contudo, destacava que a volta do Partido dos Trabalhadores (PT) ao poder seria inaceitável e criticava a proposta de Fernando Haddad para controle social do Judiciário e da mídia. 

Sobre Bolsonaro, elogiava a promessa de não lotear ministérios e declarou aos mais próximos que acreditava na honestidade do candidato do PSL, além de ter destacado a atuação do deputado federal Onyx Lorenzoni (DEM-RS), um dos principais apoiadores do presidente eleito, durante a tramitação das dez medidas contra a corrupção, propostas pelo Ministério Público Federal (MPF).

Depois de confirmada a vitória bolsonarista nas urnas, inclusive, o magistrado divulgou uma nota na qual parabenizou o candidato vencedor. "Encerradas as eleições, cabe congratular o Presidente eleito e desejar que faça um bom Governo. São importantes, com diálogo e tolerância, reformas para recuperar a economia e a integridade da Administração Pública, assim resgatando a confiança da população na classe política", escreveu o magistrado.

Antes mesmo do juiz federal se manifestar, sua esposa, Rosângela, já havia comemorado numa rede social o resultado das eleições, numa postagem em que o Cristo Redentor aparece apontando para o número 17. "Feliz", escreveu ela, que vinha fazendo durante as eleições campanha na web pelo "voto consciente".

Saia justa em aeroporto

No passado (mais precisamente em 30 de março de 2017), o magistrado e o então deputado federal protagonizaram um momento no mínimo curioso no Aeroporto Internacional de Brasília. Naquele dia, o parlamentar, ainda longe de alcançar a força política e o apoio popular que tem hoje, abordou o juiz Sergio Moro, o cumprimentou e até chegou a bater continência, gesto destinado a oficiais militares.

O juiz, contudo, correspondeu rapidamente ao cumprimento e seguiu seu caminho. Nas redes sociais, oposicionistas de Bolsonaro exploraram a imagem na tentativa de demonstrar o episódio como uma prova de descaso e desdém de Moro para com Bolsonaro.

Dias depois, contudo, Moro ligou para Bolsonaro e desculpou–se. Explicou que não teve a intenção e ofender o parlamentar com o gesto e que não queria que o fato fosse explorado politicamente.