Curitiba registrou até o momento, 50 mortes no trânsito neste ano. A média mensal fica em torno de cinco casos mensais, bem abaixo que a média de 2007, por exemplo, quando 91 pessoas morreram em acidentes nas ruas da Capital, ou uma média de 7,58 ocorrências a cada 30 dias, conforme informações do Batalhão de Polícia de Trânsito (BPTran). A redução deve ser comemorada, mas ainda há muito que avançar. A meta é que as mortes no trânsito recuem pelo menos 50% até 2020. No dia em que Curitiba foi a Capital brasileira em memória das vítimas do trânsito, as autoridades dizem que só a educação é capaz de provocar essa mudança.

A meta é uma recomendação tomada durante o Encontro de Segurança Viária para a Iberoamerica e o Caribe, em Madri, na Espanha, em fevereiro deste ano, com a participação brasileira. Do encontro saiu a carta de Madri, que define a década de 2010 até 2020, como a Década Mundial da Segurança Viária. Nesse período, ficou estabelecido que os governos desenvolvam ações viárias e de educação que possibilitem a redução da fatalidade em acidentes de trânsito pela metade até o final de 2020.

“Nossa frota já é a terceira do Brasil e o número de acidentes com vítimas fatais está diminuindo. Entretanto, as estatísticas ainda demonstram que todas as entidades envolvidas com o trânsito têm que intensificar medidas preventivas, tanto na educação para o trânsito quanto na fiscalização, sinalização e recuperação de estradas”, afirma o diretor-geral do Departamento de Trânsito do Paraná (Detran-PR), David Antonio Pancotti, em matéria publica na Agência Estadual de Notícias.

Conforme números do Detran, o número de vítimas fatais em locais de acidente de trânsito reduziu 5,4% no Paraná e 27,6% em Curitiba, na comparação entre os primeiros semestres deste ano e do ano passado. No número de ocorrências houve redução de 8,3% no Estado e 22,8%, na capital. De acordo com o Detran, nos seis primeiros meses deste ano 20.432 pessoas foram vítimas de acidentes, 788 morreram no local em todo o Estado.

De acordo com o diretor do Detran, o assunto violência no trânsito deve ser abordado não somente pelos órgãos oficiais, mas também por toda a sociedade, em especial pelas entidades que têm responsabilidade pela vida. “Estamos percorrendo os municípios do Paraná e sentimos receptividade muito grande das entidades, principalmente escolas e igrejas, no sentido de debater e encontrar soluções para os problemas relativos ao trânsito”, diz.

“A questão da educação passa por uma necessidade de conscientização urgente e, posteriormente, uma mudança comportamental. Todas as ações voltadas à educação no trânsito são muito pontuais, mas o trabalho precisa ser feito dia após dia. Seja em escolas, com palestras, cursos. As pessoas precisam perceber que o trânsito está todos os dias presente em nossas vidas. E não que o trânsito é apenas quando eu sou o motorista”, aponta a coordenadora do Núcleo de Educação e Cidadania (NEC) da Diretoria de Trânsito (Diretran), Maura Moro.

Manifestação — A Associação Trânsito Amigo, que reúne amigos e parentes de vítimas de trânsito, promoveu ontem  no parque Barigüi, em Curitiba, um ato ecumênico para marcar o Dia Mundial em Memória das Vítimas de Trânsito. A mobilização reuniu centenas de pessoas. Houve  ato público em memória das vítimas, apresentações musicais e distribuição de material informativo. “ A celebração dessa data em memória das vítimas de trânsito no Brasil não é feita sob clima pesado e fúnebre. Muito pelo contrário. A tônica empreendida nas ações é de seriedade, mas sem perder o tom da alegria e sentimento positivo”, disse o presidente da associação. Fernando Diniz.

Comportamento precisa mudar
O trânsito mata anualmente 1,3 milhão de pessoas em todo o mundo. É considerada hoje a principal causa de mortes entre jovens. Até por isso, a educação no trânsito passa agora a ser parte do cotidiano das crianças desde a pré-escola até a formação no ensino médio. Ela não deve ser vista como a tábua de salvação, mas certamente é uma das ferramentas de conscientização mais poderosas para que uma mudança comportamental necessária se efetive.

De acordo com a coordenadora do Núcleo de Educação e Cidadania (NEC) da Diretoria de Trânsito (Diretran), Maura Moro, toda a situação inconveniente que acontece no trânsito, e que é traduzida pelas trágicas estatísticas é resultado de um comportamento inadequado. O motorista que não respeita a sinalização, o pedestre que atravessa fora da faixa, o ciclista que anda em locais indevidos, e por aí afora. “É uma preocupação única e exclusiva com o próprio bem estar, uma via de mão única. Quero que se preocupem comigo, mas não me preocupo com o outro”, opina Maura.
Segundo a especialista, a população ainda percebe o trânsito nas condições de acidente, de congestionamento ou de poluição. Mas ele vai muito além disso. “O trânsito é a nossa forma de deslocamento diário. Ele faz parte da nossa vida muito mais do que imaginamos. Estamos nele o tempo todo, todos os dias. E é isso que as pessoas precisam entender”, continuou.

De acordo com Maura, o trabalho de educação no trânsito está bem mais facilitado atualmente porque a população está percebendo as questões. O processo de conscientização, porém, é lento. “Temos um código de trâsnito há 10 anos e agora, efetivamente, algumas situações que o código propôs estão saindo do papel. Este é o primeiro código que traz um capitulo específico tratando da educação no trânsito. Ele trabalha dizendo que precisa haver esta educação desde a ensino infantil até o 3º grau (agora ensino médio). E é só agora que estão sendo disponibilizadas ferramentas que possibilitem essa preposição nas escolas”, apontou a especialista. (FGS)

Trânsito será matéria nas escolas
O Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) publicou neste ano a Portaria 147, que estabelece as Diretrizes Nacionais da Educação para o Trânsito na Pré-Escola e no Ensino Fundamental. Em 2008, o Conselho Nacional de Trânsito (Contran) publicou a Resolução 265 que regulamenta o tema trânsito como atividade extracurricular no Ensino Médio.

“Este é o primeiro subsidio oficial que vai chegar ao professor. Isso tem todo um contexto de ele perceber que pode trabalhar o trânsito e que o trânsito faz parte do dia a dia. Hoje, então, já estão se concretizando ações mais diretas nas escolas justamente para que comece a se criar a consciência da participação de cada cidadão na questão do trânsito. E isso tem que acontecer desde cedo para que, quando chegar à idade adulta, seja um pedestre, um passageiro e um motorista consciente”, apontou Maura Moro.

Como todo processo educativo leva tempo, este não haveria de ser diferente. “Quando pegamos essas crianças do ensino infantil e começamos a tratar do trânsito e terminamos isso lá no ensino médio certamente é um processo longo. Mas todo processo de formação de uma base sólida requer trabalho. Sabemos que lá na frente colheremos bons frutos”, finalizou Maura. E lá na frente está 2020. (FGS)