SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A TV Brasil (emissora de TV pública) suspendeu um de seus programas mais antigos, o “Sem Censura”, em meio à intervenção da gestão Jair Bolsonaro (PSL) na EBC (Empresa Brasil de Comunicação), administrada pelo governo federal.


A equipe foi avisada nesta terça-feira (29) sobre o cancelamento das edições ao vivo do programa de entrevistas, apresentado pela jornalista Vera Barroso.


A emissora, via assessoria, diz que “o programa ao vivo foi interrompido na atual temporada, devendo ser reavaliado para a próxima grade junto com a nova programação”.


A permanência do “Sem Censura” na nova grade, que deve estrear em 11 de março, é incerta.


O governo decidiu reestruturar a EBC, o que inclui cortes e mudanças na TV Brasil. O ministro-chefe da Secretaria de Governo, Carlos Alberto dos Santos Cruz, é o responsável por coordenar a tarefa.


Em entrevista à Folha de S.Paulo neste mês, o ministro disse que estuda uma fusão da grade de programação da TV Brasil e da TV NBR (agência oficial do governo). A junção é criticada por defensores do sistema de comunicação pública.


Por enquanto, de acordo com a EBC, será mantida a exibição de programas já gravados.


A atração era produzida no Rio de Janeiro e estava no ar desde 1985, quando estreou pela TVE Brasil.


O governo já havia anunciado o corte de cargos comissionados para “otimizar despesas” nas quatro unidades da TV Brasil, em Brasília, São Paulo, Rio de Janeiro e Maranhão.


Durante a campanha, Bolsonaro prometeu extinguir ou privatizar a emissora, jocosamente apelidada de TV do Lula, já que foi criada pelo ex-presidente, em 2007.


Parte da equipe do “Sem Censura” é formada por se rvidores concursados emprestados à TV Brasil por outros órgãos do governo. A determinação agora é para que os cedidos retornem aos postos de origem.


Muitos são ligados ao Ministério do Planejamento, que foi fundido com outras pastas e hoje compõe o Ministério da Economia, sob o comando de Paulo Guedes.


Em nota divulgada nesta segunda-feira (28), a direção da EBC comunicou que a reorganização da empresa incluiria a diminuição de cargos comissionados.


No mesmo dia, foram publicados em seu site 45 atos dispensando funcionários que exerciam funções desse tipo.


“O objetivo das mudanças é adequar a empresa à meta de otimizar despesas, com vistas à sustentabilidade até 2022, conforme estabelecida no Planejamento Estratégico da Empresa”, disse o comunicado.


A EBC informou ainda o fim do Repórter Brasil Maranhão, programa jornalístico no estado da região Nordeste.


A Comissão de Empregados da EBC e os sindicatos dos jornalistas e dos radialistas de Brasília, Rio e São Paulo emitiram nota com queixas sobre as mudanças.


As entidades disseram que o governo deixou o escritório no Maranhão “à deriva”.


“Entendemos que qualquer processo de reestruturação deve ser feito a partir do diálogo com os trabalhadores, sendo pautado numa relação de respeito. Infelizmente, não é isto que estamos vendo”, afirmaram  no texto as organizações.


“Nenhuma praça [unidade] deve fechar, pois isto significa diminuir a abrangência da comunicação pública no país”, continuaram, reivindicando que sejam recebidas pela direção da empresa para uma reunião.