A escultura (uma arma com cano em nó) ao lado da sede da ONU em Nova York, os pedestres que passam por ali podem ver de perto um dos mais célebres símbolos da não-violência. Ela foi criada pelo escultor sueco Carl Reuterswärd logo após o assassinato – por arma de fogo – do ativista da paz John Lennon.
De todos os países do planeta, o Brasil é aquele em que mais seres humanos morrem vítimas de armas de fogo. São mais ou menos 40.000 vidas que se perdem todos os anos. Mas não fica só por aí: nos últimos 20 anos os homicídios de crianças e adolescentes na nossa pátria mãe gentil cresceu mais de 113%, segundo pesquisa da Fundação Abrinq. A taxa de morte por armas de fogo no Brasil é 5 vezes maior do que a dos EUA, de acordo com estudo da ONU. Seria possível citar mais dezenas de dados alarmantes. Prefiro propor uma solução.
A taxa de mortes violentas só vai diminuir com uma revolução no nível da educação. Uma pessoa bem-educada nos valores da convivência pacífica, que tenha introjetada em sua mente os conceitos de diálogo, respeito, empatia não vai sair por aí matando seus semelhantes. Há alternativas melhores de soluções de conflitos. Pode-se conversar, negociar, conseguir indenizações em casos de danos, recorrer ao Poder Judiciário, perdoar, etc… No fim das contas, ninguém quer morrer; não é agradável matar. Racionalmente, não faz sentido seres de uma mesma espécie matarem-se uns aos outros.
A quantidade gigantesca de mortes que acontecem todos os anos é fruto de uma cultura da violência. É uma doença social. Quantos assassinatos você imagina que já viu na TV, entre jornais, documentários e ficções? Quase faz parecer como algo normal e aceitável, não é mesmo? Assim como a cura para uma doença não é mais doença, e sim remédios, a cura para a epidemia de violência que existe em nossa cultura é a implantação de uma cultura da não-violência.
O conceito é antiquíssimo, mas a humanidade ainda não atingiu a sua aplicação completa. Muitos e muitos séculos antes de Cristo os antigos textos védicos do hinduísmo já continham este preceito. Ele é o primeiro imperativo do Yoga clássico de Patânjali, está implícito no taoísmo de Lao Tzu e encontra fortíssimo eco na principal ideia defendida por Jesus, o amor ao próximo como a si mesmo.
O que a escultura do artista sueco, o conceito de não-violência e as sabedorias destas tradições filosóficas e religiosas têm em comum é a repulsa categórica à ideia de que a violência é aceitável. Ela não é.
Como o símbolo mais forte e pessoal da violência é a arma de fogo, o repúdio ao uso e mesmo à existência destas armas são o caminho mais lógico e objetivo para a implantação da não-violência.
É urgente uma educação que em todos os níveis repudie e torne nojenta e abjeta a ideia de se possuir ou usar uma arma de fogo, sob qualquer justificativa! Uma educação em todos os níveis, familiar, escolar, estatal, universitário, etc. A não-violência deve ser um tema importante em nossos currículos, nossos programas de TV, nossos livros e nossas conversas. Quanto às armas de fogo que já existem, podem ser feitos acordos internacionais para que sejam derretidas e transformadas em coisas mais úteis, como pontes ou máquinas produtivas.
Apesar das estatísticas citadas no início do texto serem importantes para compreender a epidemia da violência, finalizo enfatizando um ponto de vista diferente. Pense bem, nós não estamos tão longe de um mundo sem armas de fogo: das pessoas com quem você se relaciona, quantas possuem armas de fogo? Quantas você já viu usá-las? Eu aposto que pouquíssimas.
A vocês que são a favor das armas de fogo, fica o recado: vocês são minoria! E não se menospreze o poder da não-violência. O advogado e político Mahatma Gandhi liderou sua nação à liberdade seguindo este princípio. O adversário era o Império Britânico, o maior império da história, com uma das maiores forças armadas do mundo.
A não-violência venceu na Índia do século XX e pode vencer novamente no Brasil e no mundo do século XXI. Uma sociedade melhor é fruto de avanços verdadeiros na educação, redução da miséria e combate à impunidade, não com retrocesso a uma época em que todos possuíam armas.
No fim das contas, depende das pessoas. Seres humanos como eu e você. Por um mundo sem armas e sem violência!! Quem vem comigo?

Ricardo Pontoglio é advogado, especialista em Relações Internacionais pela Universidade de Brasília