Marcelo Camargo / Agência Brasil) – Problema é de saúde pública e preocupa até a ONU

“Temos crianças mais jovens, de 9 ou 10 anos, que as vezes nos surpreendem com essa fala que quer morrer, que não quer viver.” O relato é da psiquiatra do Hospital Pequeno Príncipe, Maria Carolina Serafim. Neste ano, a menor criança que tentou suicídio e foi atendida no hospital tinha apenas nove anos de idade. E não foi um caso isolado.
Segundo informações do Ministério da Saúde, os casos de suicídio entre crianças e adolescentes está se tornando cada vez mais frequente no Brasil. Em 2017, último ano com dados disponíveis no Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), foram 1.055 registros, recorde da série histórica iniciada em 1979.
Só no Paraná, ainda segundo o Ministério da Saúde, foram 62 casos em 2017, maior número desde 2004, quando haviam sido registrados 63 episódios de suicídio envolvendo crianças e adolescentes. O recorde da série histórica para o estado, contudo, pertence ao ano de 1998, quando 81 jovens com até 19 anos deram cabo à própria vida.
Para Maria Carolina, os números refletem uma série de fatores, dentre eles algumas mudanças sociais pelas quais atravessamos (com impacto significativo por parte das redes sociais e celulares) e que podem provocar um mal-estar no jovem, que então não consegue lidar com suas frustrações e muitas vezes se vê desamparado mesmo dentro de casa.
“Tem muitos fatores. As mudanças sociais, principalmente na família, algumas situações da própria escola, algumas dificuldades das crianças e adolescentes de acompanhamento. Mas existe também um aumento da prevalência dos transtornos depressivos”, aponta a especialista. “Muitos pais dizem que isso passa, que é só (o filho) amadurecer, mas o que vemos é que em muitos casos eles não conseguem superar e aí vai agravando cada vez mais.”
O Hospital Pequeno Príncipe, inclusive, conta um um ambulatório, chamado de ‘Ambulatório de Risco’, específico para o atendimento de jovens com ideias suicidas. “Estamos sempre advertidos e quando a criança ou o adolescente chega (ao hospital), acolhemos e eles são atendimentos prontamente. Depois que passa essa fase mais aguda, entram no tratamento ambulatorial e são atendidos por psicóloga e também na psiquiatria”, explica Maria Carolina.

‘Deixar de falar é o pior caminho’

A psiquiatra do HPP ainda alerta que os principais sinais relacionados ao suicídio e depressão são alterações cognitivas e sociais. “Alterações no processo escolar; no relacionamento social; irritabilidade; uma certa agressividade sem contexto, meio gratuita; processos de ansiedade, pânico e hiperatividade. Quando a criançaé muito pequena, também podemos notar alguns sinais de depressão”, destaca Maria Carolina.
Ainda segundo a especialista, ao se deparar com um caso desse tipo, a primeira coisa que alguém deve fazer é tentar conversar e orientar o paciente a buscar ajuda. “Primeiro é tentar conversar, ver o que está se passando, e buscar ajuda. São muitos profissionais, várias áreas podem estar ajudando. Tem o pediatra, os psicólogos, os psiquiatras… São vários profissionais”, diz ela. “O mal-estar faz parte da vida, temos de aprender a lidar com o mal-estar”, finaliza.

Setembro Amarelo
O mês de setembro é considerado o mês mundial de prevenção do suicídio. Iniciado em 2015 e promovido pelo Centro de Valorização da Vida (CVV), pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) e pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), o Setembro Amarelo tem a proposta de associar à cor ao mês que marca o Dia Mundial de Prevenção do Suicídio (10 de setembro).

Serviço
Onde procurar ajuda
Centro de Valorização da Vida (CVV) – Oferece apoio gratuito e sob sigilo por telefone (188) e via internet.
Centro de Atenção Psicossocial (Caps) – Mantidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS), os Caps são responsáveis por tratamentos psicossociais e estão presentes em cidades com mais de 20 mil habitantes.
Plano de Saúde – Desde 2017 os planos de saúde não podem limitar o número de consultas para tratamento de transtornos psicológicos.
Hospital Pequeno Príncipe – O HPP conta com um ambulatório especial para oa tendimento de crianças e jovens com ideações suicidas