SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Representantes da Amcham (Câmera Americana de Comércio) falaram com o guru econômico de Jair Bolsonaro (PSL), Paulo Guedes, mais de uma vez na quinta-feira (20) para se certificar de sua presença em debate na manhã desta sexta-feira (21), na zona sul de São Paulo.

Guedes cancelou a participação menos de uma hora antes do evento. Mais de 300 pessoas haviam confirmado presença. Diante do aval do economista, todo o auditório foi preparado para recebê-lo. A instituição destacou um motorista para pegar Guedes no aeroporto, mas ele perdeu viagem.

Desde a semana passada, quando vieram à tona informações de que teria sido beneficiário de uma fraude e de que sugeriu a recriação da CPMF, ele tem cancelado compromissos em série. Além do debate, o economista deixou de ir a outros três eventos importantes: uma entrevista no programa Roda Viva, da TV Cultura; uma reunião com clientes do banco de investimento Credit Suisse; e desmarcou palestra nesta sexta-feira (21) na corretora XP.

O cancelamento de Guedes no último instante gerou correria na Amcham, que dividiu os contatos das pessoas para ligar a todos rapidamente e avisar que o economista não compareceria ao evento. Como a sede da instituição fica em Santo Amaro, região afastada dos bairros mais centrais de São Paulo, a maior parte dos convidados já estava a caminho.

No local, aproveitando os pães de queijo e os cafés postos à mesa para receber o convidado que não apareceu, investidores e empresários mostraram irritação com a postura de Guedes.

“É absurdo [o cancelamento]. Queria ouvir as propostas econômicas dele e saber quais os fundamentos econômicos que ele tem para tirar o país dessa crise. Nessa semana ele falou da volta da CPMF, que é um imposto totalmente antieconomia. Vai contra os princípios econômicos, onera em cascata, desde o produtor até o consumidor final. Queria saber o que ele acha, fiquei muito decepcionado”, diz Claude Tillier, broker autônomo.

“Por princípio, antes da eleição, acontecer isso [cancelamentos em série] é um pouco complexo. Arranhou a imagem dele. Muitas pessoas acreditam no conhecimento técnico e econômico do Paulo Guedes para poder levar o país para fora da crise. De repente é corrigido publicamente pelo Bolsonaro? Arranhou a imagem por isso também”, completa Tillier, que teme que Guedes deixe nos primeiros meses um eventual governo do capitão reformado do Exército.

“Quem pegar o país vai enfrentar uma situação bem difícil. A atitude que essa pessoa tomar vai decidir um norte ou afundar de vez o Brasil”, afirma Rosana Gammaro, gerente executiva do grupo Meta RH.

“O sumiço de Guedes significa, na minha visão, que ele não quer se posicionar. Ele está passando muito isso. ‘Vou enfiar minha cabecinha dentro de um buraco e ninguém me vê’. Acho que por pior que seja a situação, você tem que chegar e colocar a sua posição. Seria positivo que ele aparecesse. É ruim para a campanha dele que não fale”, completa, referindo-se ao desaparecimento do economista depois da revelação de sua proposta da “nova CPMF”.

Guedes seria o sexto representante de presidenciável a debater na Amcham. Até o momento, membros das campanhas de Geraldo Alckmin (PSDB), Ciro Gomes (PDT), Alvaro Dias (Podemos), Henrique Meirelles (MDB) e João Amoêdo (Novo) já marcaram presença. O economista de Bolsonaro foi protagonista do primeiro cancelamento.

O PT, de Fernando Haddad, ainda está em tratativas para definir a data de participação.