SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Priscila Luana Pereira, ex-companheira do terrorista italiano Cesare Battisti, preso na madrugada deste domingo (13) na Bolívia, disse à reportagem que a sua detenção está sendo um momento muito difícil para a família. Ela é mãe do filho brasileiro de Battisti. “Tenho alguma esperança que Evo [Morales, presidente boliviano] lhe conceda a chance de permanecer na Bolívia”, afirmou a professora, que mora em São José do Rio Preto (SP), mas há alguns dias está em Cananeia (SP), onde o italiano residia.

Priscila foi para a casa do ex-companheiro com o filho porque, segundo ela, houve tentativas de furto no imóvel, que estava vazio desde o desaparecimento do morador.

A educadora disse que o filho ainda não sabe claramente que o pai foi preso, mas desconfia que algo aconteceu. “Como ele pergunta pelo pai desde que chegou aqui, sempre que escuta falar dele fica atento. Ele ainda não tem dimensão dos fatos, mas já se deu conta de que está acontecendo algo com o pai.”

No mês passado, em entrevista à Folha de S.Paulo, Priscila disse que Battisti havia falado em buscar asilo em alguma embaixada quando sua extradição começou a parecer um risco iminente.

Ela afirmou que não sabia do paradeiro do pai de seu filho, com quem teve um relacionamento de idas e vindas entre 2012 e 2017. A Polícia Federal chegou a ir até a casa dela em busca de informações.

Amigos de Battisti iniciaram uma mobilização na internet para que a Bolívia conceda asilo político a ele.

O sociólogo Carlos Lungarzo, autor de um livro sobre o processo do italiano e defensor da inocência dele, está pedindo que apoiadores mandem emails para as representações diplomáticas do país vizinho.

“É fundamental ter em conta que, se Battisti for devolvido para o Brasil ou entregue à Itália, ele terá uma morte horrível”, diz Lungarzo em defesa do refúgio na Bolívia.

Professor aposentado da Unicamp, o escritor afirma que Battisti passou por um julgamento fraudulento no país europeu e que neste momento, sob o governo Bolsonaro, não terá direito à ampla defesa no Brasil.

Na Itália, familiares das vítimas de Battisti comemoraram sua captura e se disseram confiantes de que ele será extraditado para a Itália.

“Impossível que não seja extraditado”, afirmou, segundo o jornal italiano La Repubblica, Alberto Torregiani, filho do joalheiro Pierluigi Torregiani, por cujo assassinato Battisti foi condenado. 

“[Battisti] É tecnicamente um fugitivo, não abrangido por qualquer estatuto especial. Ele é um fugitivo e não tem benefícios a mais. Eu acho que ao longo de 48 horas, uma semana no máximo, vai estar na prisão na Itália. Não acho que os brasileiros tenham um grande desejo de mantê-lo […] Eu não me atrevo a pensar que agora ele poderá encontrar um truque”, continuou.

Além de Pierluigi Torregiani, Battisti foi condenado por outros três assassinatos ocorridos entre 1977 e 1979, enquanto era militante do PAC (Proletários Armados pelo Comunismo): o do agente penitenciário Antonio Santoro, o do açougueiro Lino Sabadin e o do agente policial Andrea Campagna. Battisti sempre negou os crimes.

“Vamos pedir uma consulta com o governo e vamos ver como se moverá”, disse Maurizio Campagna, irmão de Andrea.

“Temos que ver quais os passos que devemos tomar. Em todo caso, eu estou confiante, porque desde 2004 todo governo se moveu com determinação para pedir a extradição”, disse, acrescentando, no entanto, que “se foi para a Bolívia, algum motivo Battisti tem”.